sábado, 4 de junho de 2022

Praia da Leirosa

Tenho para mim que nestes barcos a simetria do espaço entre as bicas e a amurada me dá a forma da onda, e que a curva do casco desenha o movimento da cava dela...

Praia da Leirosa (Marinha da Ondas, Figueira da Foz).
Da esquerda para a direita: Elísio Ribeiro (Mudo); João Santos Barreto; Elísio Andrade Lucas; José Silva Parracho (mais conhecido por Zé da Requeta); Valentim Jacinto Oliveira (marido da Benvinda Patinha que faleceu no naufrágio da Nova Leirosa); Marino Ventura da Silva e em cima António Borges (mais conhecido pelo Rei)... cf. Alexandra Lucas
Praia de Leirosa no facebook

Serve esta série de apontamentos para descobrir praias onde se pratica a arte — ou xávega, ou arte-xávega — e tentar estabelecer uma sumária comparação entre as variantes do barco meia-lua (barco do mar, a norte do Mondego, barco da arte a sul deste rio) e das gentes, das artes e modos de pesca tradicional nos areais do oceano português.

Praia da Leirosa (detalhe).
Manuel Cintrão no facebook

A Lourosa, nome que mais tarde evolucionou para Leirosa, foi uma pequena e antiga povoação de Lavos, como tantas outras pequenas povoações da freguesia, mas esta com a característica de ter sido quase só povoada por moleiros (...) a última das povoações da costa meridional da Figueira a desistir da exploração das grandes artes de arrastar para terra, lançados pelos belíssimos e inconfundíveis grandes barcos da arte. (1)

Praia da Leirosa (detalhe).
Manuel Cintrão no facebook

Topónimo que aparecia era o de Louroza dos Moinhos, por referência aos moinhos que então havia na povoação (2)

Mappa dos barcos rêdes a aparelhos... (Figueira da Foz, 1871 e 1875).
Portugal pittoresco, 1879

Nas memórias paroquiais de 1758, respeitantes a Lavos, já não encontrámos referência à Leirosa, «diminuída ou certamente quase eliminada pela concorrência dos moinhos do interior, movidos também pela água do rego: o mapa de José Carlos Magni (1790) só nos mostra estes moinhos, com o litoral da foz do rego despido de quaisquer símbolos».

Barra do Mondego e costa sul, José Carlos Magni, 1790
(detalhe onde a Leirosa aparece referenciada por moinhos de Lavos).

Instituto Geográfico Português cf. Manuel Cintrão no facebook

De notar que, no mapa citado, a Leirosa aparece referenciada por moinhos de Lavos, com os símbolos de povoação, como se pode verificar em fotos do mapa inseridas neste trabalho. (3)

Praia da Leirosa (detalhe).
Manuel Cintrão no facebook

Nos fins do século XVIII vem de Ílhavo para a Figueira um calafate de nome Silva. Um seu filho, José da Silva, estabelece-se em Lavos por volta de 1815, armando uma companha na Costa, onde se instala no Verão, em barracos de estorno (já ali tinha existido uma companha, anos antes, que não vingara) (...) (4)


(1) Capitão João Pereira Mano, Terras do Mar Salgado, São Julião da Figueira da Foz — São Pedro da Cova-Gala — Buarcos — Costa de Lavos e Leirosa, 1997
(2) Albúm figueirense
(3) Manuel Cintrão no facebook
(4) Palheiros de Mira cf. Manuel Cintrão no facebook

Leitura recomendada:
Manuel Costa Cintrão, Terras do Sul do Mondego até à Praia do Pedrógão: ecos da história (2 volumes), Figueira da Foz, 2021
Capitão João Pereira Mano, Terras do Mar Salgado, São Julião da Figueira da Foz — São Pedro da Cova-Gala — Buarcos — Costa de Lavos e Leirosa, 1997
Ernesto Veiga de Oliveira e Fernando Galhano, Palheiros do litoral central português, Instituto de Alta Cultura. Centro de Estudos de Etnologia Peninsular. Lisboa 1964

Mais informação:
A. Pinheiro Marques, A arte-xávega da Beira Litoral e as sua embarcações
Gaspar Albino, Arte de Xávega

Praia da Leirosa (detalhe).
Manuel Cintrão no facebook

Leitura adicional:
Henrique Souto, Comunidades de pesca artesanal na costa portuguesa... 1998
Maria João Marques, Arte Xávega em Portugal

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