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quarta-feira, 30 de maio de 2018

Uma excursão alegre à Praia do Sol

Quatro meninas lisboetas, cheias de espírito de empreendimento, atraídas pelo sol, resoveram de um momento para o outro fazer uma excursão à Praia da Caparica.


De braço dado seguem para a praia. Nenhuma sabe o que as espera, e é precisamente esta atmosfera de aventura e de incerteza que torna a excursão tão atraente.

O reporter do "Sinal", Leopold Fiedler, teve o prazer de as acompanhar, apanhando com a sua objectiva as aventuras das irrequietas alfacinhas na praia, episódios ao sol e à beira mar, que dão alegria e novas energias, deixando esquecer os cuidados e afazeres cotidianos.

Almoçam num pequeno restaurante de Caparica. A Carmen, que gosta de dançar, imita diante do seu "público" uma bailarina conhecida.


Na praia. Três das meninas subiram para a prôa de um dos característicos barcos de pesca, em quanto a quarta dá o seu passeio, montada num burro.


O que os pescadores fazem não deve ser difícil para as mãos habilidosas das "meninas", o que elas põem imediatamente à prova.


Uma das quatro desconhecia uma fonte, o que dá azo a novas brincadeiras. (1)


A presença Alemã em Portugal durante o período da II Guerra Mundial foi articulada na sua maior parte através da actividade dos Serviços da Legação.

Entre estes, tomou alguma proporção o Serviço de Propaganda que se dotou duma estrutura hierarquizada e bem organizada na qual empregou no período de 1941-43 “cerca de 70 funcionários permanentes e centenas de voluntários em todo o país” (António José Telo, “Propaganda e Guerra Secreta em Portugal” Perspectivas & Realidades Lisboa Maio de 1990).

Sinal (edição portuguesa da publicação alemã Signal) n° 6, 1944.
iOffer

O Serviço de Propaganda da Legação Alemã era dirigido pelo seu chanceler Dr. Wilhelm Klein, com quem trabalhava o homem que dirige a SINAL em Portugal: Kurt Zehntner (Rui Araújo, "O Império dos Espiões", Oficina do Livro, Lisboa Outubro de 2010). (2)


(1) Signal Magazine
(2) Idem

sábado, 23 de dezembro de 2017

Mário Domingues (1899-1977), escritor

Nascido em 3 de Julho de 1899 na ilha do Príncipe, mais exatamente na roça Infante D. Henrique, propriedade da firma Casa Lima & Gama, cuja sede e escritório ficavam em Lisboa, na baixa pombalina, era filho de mãe angolana, que se chamava Kongola ou Munga e era natural de Malange, tendo ido para a ilha do Príncipe como contratada (à força) com quinze anos.

Mário Domingues in Luís Dantas, Mário Domingues, o jornalista vagabundo...
Imagem: Calaméo

O seu pai, António Alexandre José Domingues, oriundo de famílias liberais, na impossibilidade de libertar a mãe, devido a uma vingança do capataz da roça, que não levou a bem que o tenha denunciado por maus tratos ao pessoal, enviou-o para Portugal aos 18 meses de idade, tendo ficado confiado à sua avó paterna, que se encarregou da sua educação [...] (1)

Conclui o curso elementar de comércio no Colégio Francês, em Lisboa. Provavelmente foi aí que conheceu Reinaldo Ferreira, com quem partilhou uma sólida e longa amizade, firmada em ideias, valores e projetos comuns.

Capa do livro A audácia de um tímido, Mario Domingues, 1923.
Imagem: frenesil loja

Espírito sensível, sagaz e profundamente humano, deixou-se conquistar pelos ideais anarquistas e participou a tivamente na imprensa que os defendia.

Foi chefe de redação d’A Batalha, colaborou no jornal anarquista A Comuna, do Porto, e na revista Renovação, entre outros. Também participou em grupos libertários, na organização do congresso anarquista da UAP e na fundação do Sindicato dos Profissionais da Imprensa.

A partir de 1926, as suas reportagens, artigos, comentários, contos e novelas aparecem publicados n a imprensa informativ a ou generalista de maior projeção, como o Século, Primeiro de Janeiro, Pátria, ABC, Ilustração, Magazine Bertrand, Civilização, Vida Mundial, Notícias de Lourenço Marques, Sol, etc. (2)

Aos 30 anos, Domingues tinha a tarimba de um veterano. Culto como poucos, poliglota (aprendera francês com Marcel Meunier, famoso correspondente do "Matin" em Lisboa e debicava inglês e alemão por influência dos marinheiros que aportavam ao Café Royal, com espírito de aventura aprimorado na parceria inesquecível formada com Reinaldo Ferreira (o famoso repórter X de que falarei noutro dia), personificava um novo género jornalístico emergente nas publicações portuguesas a reportagem participante. E este trabalho seria a sua coroa de glória [...]

Lisboa, Praça Duque da Terceira, Café Restaurant Royal, Alberto Carlos Lima (detalhe).
Imagem: Arquivo Municipal de Lisboa

O projecto de Mário Domingues deverá ter começado em 1918, com uma farsa (entre tantas outras) de Reinaldo Ferreira para o efémero jornal "A Manhã".

O jornalista vestiu-se então de mendigo, foi fotografado a rigor, enganando durante a sessão alguns transeuntes, que lhe deixaram esmolas. Reinaldo era entusiasta, mas não se detinha no rigor factual (dizia-se, a certo ponto, que o R de Reinaldo valia por "Realidade" e o F de Ferreira por "Fictícia").

Isolou-se durante três dias e escreveu uma crónica pungente sobre a sua aventura como mendigo nas ruas da cidade pobre, num texto tão expressivo e cativante como falso. Na verdade, o futuro repórter X inventara praticamente toda a aventura, mas a sua reportagem foi discutida nos principais fóruns da cidade. 

É provável que a semente da ideia tenha perdurado no cérebro do amigo Mário Domingues, incitando-o a tentar um projecto semelhante, mas jornalístico [...]

À gandaia, reportagem vivida de Mário Domingues.
Imagem: Notícias Ilustrado n° 93, 1930 (Hemeroteca Digital)

Mário Domingues passou oito dias sem retirar a máscara de vagabundo.

Foi reconhecido uma vez no porto de Lisboa por um amigo que, enternecido, se ofereceu para o ajudar a endireitar a vida. Do ódio inicial face aos que se divertiam, a sua percepção foi evoluindo para uma aceitação gradual do statu quo.

Frequentou bares e tabernas. Relatou, com traços realistas, a generosidade desinteressada dos lisboetas, mas também o alheamento de quem passava por ele nas ruas e parecia não o ver. Conheceu ingleses e galegos, coristas e taberneiros. 

Recebeu propostas de emprego e ofertas desonestas. Foi aliciado com ofertas de emigração para o Brasil e para a América, que ponderou, mas recusou em nome da sua paixão pela cidade. (3)

Em 1930, Reinaldo Ferreira deu-lhe a chefia de redação do semanário Repórter X. 

Reinaldo Ferreira, Reporter X.
Imagem: Luís Dantas, Mário Domingues (Calaméo)

Depois de ter sido afastado, [Mário Domingues] fundou e dirigiu o semanário O Detective. 

Também fundou a "Editora Globo", de Lisboa, e publicou dezenas de romances policiais e de aventuras, sob diversos pseudónimos. (4)

oooOooo

"Não tardou que Tomé, o preto dançarino, executasse os seu primeiro "charleston" dessa noite, ante o olhar atento e assombrado de alguns mirones que tentavam apreender por que artes mágicas ao tantan rítmico do jazz, ele conseguia, sem uma falha na cadência, movimentar as suas pernas bambas, as pernas de trapo, conjugando-as com o balancear desconexo dos braços de pêndula."

Capa do livro [Stuart Carvalhais?] O preto do Charleston, Mário Domingues, 1930.
Imagem: a procura do colofão

"Era um boneco desarticulado que, movido por um maquinismo oculto, adquiria a flexibilidade de um farrapo abandonado ao vendaval impetuoso daquelas músicas de sertão africano, que floresceram por estranha afirmação de raça nessa Norte América intransigente e severa para com os seus negros."

in Mário Domingues, O Preto do "Charleston", 1930 (cap. II) (5)

oooOooo

Mário Domingues contribuiu, ao longo da sua vida, para a inovação e o esplendor da literatura portuguesa.

Em 1960, publicou O Menino entre gigantes — a evocação da vida atribulada de um rapazinho mulato, quase negro, na sociedade lisboeta do início do século XX. Afastado da mãe africana, foi acolhido com afecto no seio da família paterna, mas não se livrou de preconceitos raciais, de vexames e de tormentos que abalaram o seu espírito.

oooOooo

É certo que só a escola lhe revela os meandros sinistros do preconceito racial, e José Cândido, felizmente robusto, poderá, à força de punhos, castigar aqueles que mais ostensivamente o ofendiam, mas nem por isso o choque deixa de existir.

Capa do livro O menino entre gigantes, Mário Domingues, 1960.
Imagem: Mário Domingues: Santomense filho de angolana...

E não só através do colega que recusa a ficar sentado a seu lado, porque o pai lhe disse que todos os pretos cheiram a catinga, mas também por via da revelação da colega Florinda, que lhe entremostra as intenções pérfidas de Cândida, que pretendia arrancar-lhe uma declaração só para revelar o seu desprezo pelos homens de cor. 

in Mário Domingues, O menino entre gigantes, 1960 (6)

oooOooo

Nas décadas de 50, 60 e 70 do século passado, surgiram em Portugal uns livrinhos de aventuras extraordinárias, saídas da pena inspirada e prolífica de dois autores de nome inglesado (ou americanizado): Henry Dalton e Philip Gray.

O enredo das histórias, aparentemente sem fim, versava sobre as realizações assombrosas de alguns aventureiros de diversa proveniência. 

"A Volta ao Mundo por Dois Aventureiros", por exemplo, ficou a cargo de um belga (Roger) e de um checo (Alex)... Calcorrearam os Himalaias, os gelos polares, etc.

Coleção A Volta ao Mundo por Dois Aventureiros
Henry Dalton & Philip Gray (Mário Domingues), Livraria Civilização, 1957.
Imagem: olx

Anton Ogareff, o russo, protagonizava as "autênticas façanhas do maior aventureiro eslavo"

Autênticas façanhas de Anton Ogaref, o maior aventureiro eslavo
Henry Dalton & Philip Gray (Mário Domingues), Livraria Civilização, 12 vol.
Imagem: Alfarrabista Quinto Planeta

Billy Keller, O Rei do Far-West, era um caso à parte, pela consistência, densidade e dramatismo da sua existência [...]

Aventuras extraordinárias de Billy Keller, o Rei do Far-West
Henry Dalton & Philip Gray (Mário Domingues), Livraria Civilização, 12 vol.
Imagem: Torre da História Ibérica

Até que um dia, muito tempo depois, apurei que Henry Dalton e Philip Gray não eram ingleses nem americanos. Mais: nem sequer existiam.

O autor — o verdadeiro, solitário e denodado autor — daquelas histórias era um português, mestiço, humilde, trabalhador e talentoso, a quem se ficou a dever, já sem cobertura de qualquer pseudónimo, um enorme esforço de divulgação da História de Portugal, em estilo aprazível e documentado.

Era Mário Domingues [...]

Foram dezenas de "Evocações Históricas", a maior parte delas editadas pela Livraria Romano Torres ("Casa Fundada em 1885"), de saudosa memória... 

Evocações incluídas na "Série Lusíada", tais como as de D. Afonso Henriques - D. Dinis e Santa Isabel - O Marquês de Pombal [...]

Evocações históricas, Série Lusíada
Romano Torres, Livraria Civilização, etc.

Inês de Castro na Vida de D. Pedro - A Vida Grandiosa do Condestável - O Infante D. Henrique - D. João II - D. Manuel I - D. João III - Camões - D. Sebastião - O Cardeal D. Henrique - O Prior do Crato Contra Filipe II - A Revolução de 1640 - D. João IV - O Drama e a Glória do Padre António Vieira - D. João V - Bocage - Fernão Mendes Pinto - Fernão de Magalhães - D. Maria I - Liberais e Absolutistas - O Regente D. Pedro - Grandes Momentos da História de Portugal [...]


[Após décadas de pesado e injusto silêncio, a obra (histórica) de Mário Domingues começou - em boa hora - a ser reeditada pela Prefácio.]


Como crítico de Pintura, nos anos Vinte, distinguiu-se pelo ardor com que defendeu os Modernistas, então desdenhados pela opinião pública. 

Unindo-se a Fernando Pessoa, José Bocheko, Vítor Falcão, António Ferro e outros batalhadores pela renovação da arte em Portugal, teve a coragem de proclamar o excepcional valor de "proscritos" como Almada Negreiros, Eduardo Viana, António Soares, Jorge Barradas e Lino António. (7)

Quinta de Santo Antonio, Costa de Caparica (detalhe), ed. desc.
Vista da Rua do Norte, actualmente Rua Mário Domingues, onde o escritor residiu a partir de 1950.
"O Mário Domingues e a sua Mulher Maria foram grandes amigos meus. Era com eles que ia para a Costa da Caparica em pequena. Este teu post lembrou-me que o meu gosto por biografias histórias se deve muito às conversas que em miúda tive com ele!" cf. Helena Sacadura Cabral in delito de opinião.

Imagem: Delcampe - Bosspostcard

Editor, publicista, jornalista, tradutor, historiador, anarquista, mas sobretudo escritor, que o foi dos mais fecundos no panorama literário português desde sempre, de seu nome completo Mário José Domingues (ilha do Príncipe, 3 de Julho de 1899-Costa da Caparica, 24 de março de 1977), personalidade atualmente quase esquecida mas, em vários planos, tão fascinante como as consideradas das maiores do nosso século e, ultimamente, badaladas a preceito, realmente, depois de Camilo Castelo Branco, Mário Domingues é um dos primeiros casos de escritor profissional em Portugal, ultrapassando, em número de títulos e extensão de colaboração dispersa, a obra dos outros escritores profissionais seus contemporâneos, Aquilino Ribeiro e Ferreira de Castro. 

Um Dia Com… Mário Domingues
Programa sobre Mário Domingues, escritor natural da ilha do Príncipe, que menciona os aspetos mais relevantes da sua carreira profissional, 1 de agosto de 1970.
Imagem: RTP Arquivos

Efetivamente, nada do que ele escreveu foi gratuito.

E especialmente quando eram romances policiais e de aventuras, que apareciam assinados com os nomes de Henry Dalton & Philip Gray ­ —  com este pseudónimo escreveu 92 volumes — Marcel Durand, W. Joelson, Fernand d'Almiro, Fred Criswell, F. Hopkins, Henry Jackson, James Black, James W. Sleary, James Strong, J. W. Powell, Joe Waterman, John Ferguson, Max Felton, Max Parker, Nelson Mackay, Peter O'Brion, William Brown, Thomas Birch, Guida de Montebelo, Marcelle de Sérizy, C. De La Touraine, Clau Weber, Repórter Mistério e André Chevalier, entre muitos outros. (8)


(1) Mário Domingues: Santomense filho de angolana...
(2) Reporter X (Hemeroteca Digital)
(3) Oito dias na vida do jornalista vagabundo
(4) Reporter X (Hemeroteca Digital)
(5) a procura do colofão
(6) Crítica literária por Luís Dantas
(7) Torre da História Ibérica
(8) Mário Domingues: Santomense filho de angolana...

Informação adicional:
Romano Torres (Mário Domingues, FCSH/UNL)
Mário Domingues, Recordações do Café Royal, Lisboa s.n., 1959 (Projecto MOSCA)
Luís Dantas, Mário Domingues (Calaméo)
Mario Domingues vagabundo, Ilustracao n° 103, 1930 (Hmeroteca Digital)
Reporter X (Hemeroteca Digital)
Notícias Ilustrado n° 93, 1930 (Hemeroteca Digital)
António Domingues (fb) [v. nota final]
Authorizing Translation: The IATIS Yearbook
Agepor 11

sexta-feira, 15 de dezembro de 2017

RTP Arquivos

1961-05-30
Acidente aéreo com o Avião DC-8
Costa de Caparica, destroços do avião a jacto DC-8 do voo VA 897 que fazia a ligação entre Roma e…

Douglas DC-8 da KLM Fridtjof Nansen.
(relatório do acidente).
Imagem: Aviacrash

1969-01-05
Aniversários da freguesia Costa de Caparica e do jornal "Praia do Sol"
Comemoração do vigésimo aniversário da freguesia da Costa de Caparica e do jornal "Praia do Sol".

Jornal Praia do Sol n° 1, dirigido por Norberto de Araújo), janeiro de 1950.
Imagem: Almada Digital

1970-08-01
Um Dia Com… Mário Domingues 
Programa sobre Mário Domingues, escritor natural da ilha do Príncipe, que menciona os aspetos mais relevantes da sua carreira profissional.

Mário Domingues in Luís Dantas, Mário Domingues.
O jornalista vagabundo...
Imagem: Calaméo

1971-01-02
Banho de Ano Novo
Reportagem sobre o tradicional banho de Ano Novo, na praia da Costa de Caparica.

1972-07-26
Campo da Mocidade Portuguesa na Costa da Caparica
Costa da Caparica, Baltazar Rebelo de Sousa, Ministro das Corporações, da Previdência Social e da Saúde e Assistência, vista o…

Campo da Mocidade Portuguesa Costa da Caparica.
Imagem:RTP Arquivos

1973-09-13
Praias da Costa de Caparica
Programa apresentado por Luís Filipe Costa sobre questões do ordenamento da orla costeira da Costa de Caparica.

Costa da Caparica , Restaurante Porto de Abrigo, 1977.
Imagem: Costa da Caparica (fb)

1973-10-08
Campo de Férias Musical promovido pela FNAT na Costa da Caparica 
Reportagem sobre o Campo de Férias Musical promovido pela Federação Portuguesa das Colectividades Cultura e Recreio, realizado na Colónia de…

1973-11-15
Um Dia Com… Manuel Cargaleiro
Programa dedicado a Manuel Cargaleiro, pintor e ceramista, sobre a vida pessoal, percurso académico e artístico.

Almada, Jardim Comand. Sá Linhares, ed. J. Lemos, 21, década de 1950.
Ao fundo o painel azulejos de Cargaleiro de 1956.
Imagem: Delcampe - Bosspostcard

1974-07-27
Cassiano Branco
A vida e obra do arquitecto Cassiano Branco, figura dominante na arquitectura modernista portuguesa. Uma panorâmica sobre alguns dos seus…

Costa de Caparica, Praia Atlântico.
Pormenor de Solução Urbanística, Cassiano Branco, Arquitecto, 1930.
Imagem: Arquivo Municipal de Lisboa

1977-12-13
Fonte da Telha: Uma Aldeia na Praia
Reportagem da jornalista Fátima Martins Pereira (mais conhecida por Maria de Fátima Bonifácio), sobre as condições higiénicas e de habitabilidade…

Uma aldeia na Praia.
Imagem:RTP Arquivos

1989-07-18
Acordo de cooperação para o realojamento
Assinatura do acordo de cooperação para o realojamento dos moradores das casas clandestinas da Costa da Caparica.

1999-01-14
UHF
Entrevista biográfica a António Manuel Ribeiro, fundador dos UHF, o percurso da banda e a vida pessoal.

UHF, detalhe da capa do disco "À flor da pele".
Imagem: UHF

1999-01-27
Tarzan Taborda
Tarzan Taborda, antigo campeão de luta livre, fala da sua vida, passada e presente.

Tarzan Taborda, Albano Taborda Curto Esteves, (1935-2005).
Imagem: OWW

2001-01-12
Mar destruidor em São João da Caparica
Mar destrói bares e esplanadas na praia de São João na Costa de Caparica.

2008-08-10
Cargaleiro, a Obsessão da Luz
Documentário sobre o pintor e ceramista Manuel Cargaleiro, com depoimentos do próprio sobre a sua vida e obra, intercalados com…

Manuel Cargaleiro.
Detalhes dos painel de azulejos de 1956 expostos no Jardim Dr. Alberto Araújo (ex jardim Comdante Sá Linhares).
Imagem: Pinterest

O portal RTP Arquivos é a nova plataforma de acesso público "online" aos arquivos audiovisuais do serviço público de rádio e televisão. Vai estar doravante em permanente atualização num trabalho continuado, destinado a disponibilizar progressivamente conteúdos desde a década de 30 do século passado até à atualidade [...] (1)  


(1) RTP Arquivos

Mais informação:
RTP Arquivos (Caparica)
RTP Arquivos (Fonte da Telha)

terça-feira, 28 de novembro de 2017

São pequenos...

Tem reinado grandes temporaes na nossa costa, e por isso a cidade tem sentido grande falta de peixe.

A varina zangada, Stuart Carvalhais (1887-1961).

Domingo 10 do corrente, na costa de Caparica, apresentou-so o mar em bonança, o que animou uma companha de pescadores. Havia dias que os desventurados não podendo ir ao mar não tinham ganhado dinheiro para pão.

Brasão da Vila de Costa da Caparica (detalhe).

Lá vae para o mar um barco com os seus dezoito homens, lançam a rede e poem-se á capa esperando que o peixe caia.

Costa da Caparica, Ilustracao Portuguesa, 1920.
Imagem: Hemerotreca Digital

Horas eram de recolher a rede e eil-os logo em trabalhosa lida: mas o mar já não estava para graças, e para provar que é coisa com que se não brinca, levantou um enorme vagalhão que accommettendo o barco, levou comsigo os dezoito pescadores, dos quaes apenas escaparam dois, morrendo afogados os dezeseis.

A tragédia da Costa da Caparica, O Domingo Ilustrado n° 91, 1926.
Imagem: Hemeroteca Digital

Este triste acontecimento foi-nos relatado por um pescador; que na segunda feira appareceu em Lisboa, apregoando besugos e dizendo, "são pequenos, mas mataram dezeseis homens". 

Pescador, Tom [Thomaz de Mello] (1906-1990).
Imagem: Almanak Silva

E ha quem diga que não tem medo do mar.

Patriota (1)


(1) Antonio Feliciano de Castilho, Revista Universal Lisbonense, Lisboa, Imprensa dos Tribunais, 1845

quinta-feira, 22 de setembro de 2016

Arte Sineira na Fonte da Telha

António Caliço abre os braços num amplexo frouxo de desalento e aponta o mar que nos beija os pés. "Isto está feio" — e com três palavras narra toda a vida da sua aldeia habitada por umas tantas dezenas de famílias de pescadores.

Festa infantil na Costa da Caparica, 1929.
Imagem: Arquivo Nacional Torre do Tombo

Fonte da Telha. A dois passos de Lisboa, quatro ou cinco quilómetros da Costa da Caparica, perdeu agora, Verão fora, o cariz de estância balnear pobre, para ficar só o que realmente é durante todo o ano: uma pobre aldeia de pescadores.

"Mesmo isso da praia está-se a perder", lamenta António Caliço — "as pessoas estão a gostar mais de ir para a Lagoa, uns quilómetros mais abaixo." O homem aponta agora, num gesto enfadado de desalento, para a penosa ladeira de areia solta que constitui o único acesso à aldeia e à praia e conclui: "Só para não terem de subir isso as pessoas deixam de cá vir. Se não era para terem feito já uma estrada, caramba... são só cem metros..."

Escarpements formés par le Miocène et Pliocène entre Costa de Caparica et Adissa [Adiça], cliché P Choffat, c. 1900.
Imagem: Internet Archive

E é verdade. Nos últimos anos o único melhoramento de vulto conhecido pela aldeia da Fonte da Telha foi o posto da Guarda Fiscal, que serve para cobrar o imposto de pescado dos habitantes. O posto fica cá em cima, no alto do que deve ser o talude mais penoso de descer e, sobretudo, de subir. Quando o peixe arrastado para terra se estende na areia, com as famílias dos pescadores todas reunidas à sua volta, a Guarda Fiscal encarrega-se de proteger os legais direitos do Estado, cobrando o imposto devido pela pesca.

Um viver primitivo e sem perspectivas

António Caliço é um dos 19 membros da companha do arrais Noel Monteiro. "Se quiser mandar-me os retratos é só escrever: António Caliço, Arte Sineira, Fonte da Telha. Vem cá ter."

Arte Sineira é o tipo de pesca utilizado pelos pescadores da Fonte da Telha. Um ramo de arte xávega da Nazaré. Os barcos partem para o largo, para lançarem as redes em pontos determinados da costa. As artes ficam armadas durante todo o dia ou toda a noite, conforme o caso. Ao fim do tempo considerado necessário que é condicionado pelo conhecimento que os pescadores têm dos hábitos do peixe, as redes começam a ser puxadas para a praia através de umas enormes cordas que se encontram presas nas extremidades do aparelho. 

Costa de Caparica, Alberto Carlos Lima, pescadores lançando uma embarcação ao mar, década de 1900.
Imagem: Arquivo Municipal de Lisboa

Uma arte pobre, embora difícil e tremendamente arriscada. Toda a faina decorre junto à costa, o que obriga as tripulações dos pequenos botes a suportarem a violência da rebentação. Na maior parte dos dias não se pesca nada. Mas fica sempre a esperança de que na noite seguinte as coisas corram melhor. A vida na aldeia reflecte em pleno toda a falta de perspectivas de única actividade produtora da população. Todos sentem que a pescar por este antigo e ultrapassado método nunca sairão da miséria em que se encontram, mas nem dispõem de meios para sair do impasse nem parecem estar decididos a tal. É uma pobreza que se aceita por determinismo.

Meses inteiros desligados do mundo

Fonte da Telha vive separada do mundo por uma ladeira com cem metros de areia solta. No Verão sempre aparecem uns banhistas. 

Fonte da Telha, 1964.
Imagem: Memória com História

No Inverno só o contacto irregular com os negociantes de peixe. Mas quando a violência das ondas impede que os homens vão para o mar, a aldeia fica cercada por todos os lados. De uma massa ameaçadora do líquido oceânico. Do outro a vertente incómoda da areia solta.

Os negociantes deixam de aparecer, a aldeia isola-se e fica ainda mais triste e mais pobre. É um dia destes que chegamos à Fonte da Telha. Lá em baixo, as casitas de tábuas velhas parecem agachadas ante a rudeza descomunal da ravina. Não se vê vivalma. Dir-se-ia deserta. Uma aldeia abandonada provoca arrepios.

Mas vê-se agora uma rapariga que vai da barraquita de madeira para ir estender roupa no arame esticado em frente da habitação. Um pouco mais ao lado surge, de sob um barco voltado de boca para baixo, em sinal de paralisia que a fúria do mar impõe, um pescador de camisa axadrezada e calça de ganga arregaçada até aos joelhos.

Capa do livro de Alexandre Cabral, Fonte da Telha.
Ilustração Manuel Ribeiro de Pavia.

É o António Caliço. Olha-nos com certa reserva. Não é para menos. Estranhos lá em baixo, no dia pegado de chuva, é para espantar. As pessoas, as mulheres, as crianças e os pescadores, assomam-se às portas para nos espreitarem, roídas de curiosidade.

O mais pequeno rendimento per capita do país

"Pescador tem muitos filhos. Não pode ter mais nada, tem muitos filhos. Eu por acaso não tenho nenhum, sou solteiro. Mas há-os aí com sete e oito fedelhos e comê-los pelas pernas." António Caliço fala calmamente, dominado pelo fatalismo próprio do pescador isolado. Vê que está mal, que a aldeia está mal, que as coisas vão mal, mas não sabe como resolver a situação. Está convencido de que as coisas acontecem como têm de acontecer, sem remédio que o homem possa engenhar. "Umas vezes o peixe aparece e outras não. É tudo. Que pode um homem fazer? Quando o mar se zanga e quer meter-nos os barcos no fundo, como havemos de o sossegar, como?"

Festa infantil na Costa da Caparica, 1929.
Imagem: Arquivo Nacional Torre do Tombo

António Caliço bem vê os barcos grandes de pesca que passam ao largo, movidos por fortes motores, mas para ele constituem uma possibilidade tão remota que prefere não pensar nela. Falamo-lhe das modernas técnicas de pescar, das sondas electrónicas para detectar os cardumes, das descargas eléctricas com que alguns navios russos e norte-americanos aprisionam o peixe às toneladas, mas deixamo-lo hirto como um penedo. Vive tão intensamente a sua realidade de Fonte da Telha que prefere não agravar ainda mais o seu sofrimento a sonhar sonhos impossíveis.

A Fonte da Telha (Costa da Caparica, Praia do Sol), Cruz Louro, 1937.
Imagem: Cruz Louro

Fonte da Telha possui três artes sineiras

São três as artes de Fonte da Telha. Cada uma compreende 19 homens que se associaram em sistema cooperativo. Para o mar, na operação sempre arriscada do lançamento das redes, vão oito. Seis encarregam-se dos remos, um toma conta da corda que prende as extremidades do aparelho e que o puxará no final da faina para terra, o oitavo vai à espadilha. Os onze restantes ficam em terra para colaborarem na penosa operação do puxamento da rede.

As contas são feitas, ao fim de cada faina, segundo normas tradicionais estabelecidas há dezenas, senão centenas de anos. O produto total da pesca é dividido em 14 partes. Os homens que foram ao mar recebem uma destas catorze partes. Os que ficaram em terra para puxar as redes recebem meia parte. Nos últimos meses os que foram ao mar saíram-se com "uns 800$00 por mês, enquanto os que ficaram em terra, não ganharam mais do que uns 500$00".


Claro que os pescadores e as suas famílias não ganham só dinheiro: também comem peixe, o peixe que pescam. "Na maior parte dos dias" — diz-nos António Caliço — "o que pescamos é distribuído quase inteiramente por todos, para que haja de comer nas casas dos pescadores".

Muitos dias nem para se comer se apanha. Por cima dos telhados vêem-se ainda restos de peixe exposto ao sol para secar, que constituirá nos dias mais negros do inverno que se aproxima o alimento base do povo de Fonte da Telha. É peixe de manhã à noite. Peixe ao pequeno almoço; peixe ao almoço; peixe ao jantar; e só não é peixe à ceia por que o pescador da Fonte da Telha mal suporta os encargos das três parcas refeições a que está habituado.

As crianças vão a uma escola das redondezas, mas quase todas ficam pela terceira classe. As raparigas ficam em casa para ajudarem as mães na lida da casa; os rapazes ou ensaiam os primeiros puxões na corda da velha arte sineira, ou sobem a ravina de areia, para irem trabalhar na serventia para o Alto do Grilo, Costa da Caparica ou outra terra das proximidades.

Todos desejam afastar os filhos da miséria do pescador

São, contudo, muito poucas as crianças da Fonte da Telha que hoje se iniciam na arte sineira que apaixonou os seus descendentes nos últimos séculos. São os próprios pais e ainda mais as mães que tudo fazem para os afastar do fascínio do mar. Só os que de todo em todo não podem é que não mandam os filhos aprender outro ofício sobretudo na construção civil.

Fonte da telha, década de 1950.

É o esboçar de um movimento de fuga que é incutido nos mais novos pelos mais velhos, que conduzirá fatalmente à extinção das aldeias de pescadores que guarnecem a orla marítima portuguesa e de que Fonte da Telha, a dois passos de Lisboa, é um caso típico. (1)


(1) António dos Santos, Notícias da Amadora, n° 348, 21 de dezembro 1968
Enviada a Censura em 1968-12-16, Decisão: Cortado Nº de linguados: 4

terça-feira, 12 de julho de 2016

A Fonte da Telha

As acácias em flor formam um mar doirado ao lado do outro mar... daí para o sul, é uma cadeia de pontos pitorescos onde podem estabelecer-se novos núcleos de população ou onde quem queira pode isolar-se em maravilhosos recortes de paisagem.

Fonte da Telha, 2006.
Imagem: wikimapia

Descida do Robalo, Foz do Rêgo, Descida dos Carrascalhinhos, Descida das Vacas. etc.. etc.. etc.. até ao paraíso — a Fonte da Telha — sem dúvida a praia ideal. o melhor que pode haver, — porque não pode haver melhor em parte alguma do mundo...

Fonte da Telha, Carta dos Arredores de Lisboa — 75 (detalhe), Corpo do Estado Maior, 1903.
Imagem: IGeoE

Dai para o sul, ainda poderia continuar a peregrinação: Blunete, Mina do Ouro, Balcões, a Malha Negra, Olhos de Água, a Lagôa...

Mas a Fonte da Telha é o paraiso. Na rocha, a 200 metros de altura, pinhal cerrado, secular, a tôda a extensão norte e sul; a rocha descai em declive suave a conduzir à praia, ali, pertinho a 100 ou 150 metros de distância. Águas medicinais, férreas, bicarbonatadas e doutras mineralizações. Riqueza de peixe.

Fonte da Telha, Dois barcos, História pela imagem dos barcos na Costa de Caparica, Cruz Louro, 1971.
Imagem: Cruz Louro

Umas dezenas de barracas de pescadores subindo o declive. A Fonfe da Telha é alguma coisa de extraordinàriamenie belo e salutar. Vive-se ali entre o mar e os pinheiros. São unânimes todas as opiniões: não há, não pode haver melhor.

Estará, relativamenie a transportes e a comodidades, semelhante ao que a Praia do Sol era há uma dúzia de anos. Quando a Praia do Sol fôr como Espinho, a Fonte da Telha será como a Granja. 

Centro Turístico Internacional da Costa, separata do Jornal de Almada, 1968.
Imagem: Sesimbra identidade e memória

Entretanto, quem apreciava a rusticidade primiliva da Costa e lamenta agora a invasão do progresso, da concorrência tumultuária, tem ali e terá ainda durante muitos anos, vastissimo campo de isolamento.

A Fonte da Telha (Costa da Caparica, Praia do Sol), Cruz Louro, 1937.
Imagem: Cruz Louro

Ali, sim. Param as coisas da terra — é o paraíso. (1)


(1) Praia do Sol (Caparica): estância balnear de cura, repouso e turismo, 1934, M. Costa Ramalho, Lisboa.

quarta-feira, 6 de julho de 2016

A sereia do sul

A Costa — a sereia do Sul — tem muitos apaixonados...

Caparica, miradouro do Convento dos Capuchos, 1954.
Imagem: Delcampe, Bosspostcard

Como todos os apaixonados — loucos de amor por ela (sempre o eterno feminino!...), cegos de paixão, egoistamente têm procurado preserverá-la de quantos se possam aproximar, enamorar-se também, e envolver a sereia noutro ambiente que não seja o da primitiva rusticidade.

Exclusivismos de amor... Todos os sinceros amantes são exclusivistas...

Mas o leito da praia tem sete léguas.

A sereia expraia-se por sete léguas do mesmo areal, da mesma païsagem, do mesmo quadro.

Pode aqui formar-se um grupo de admiradores que perturbe o devaneio do poeta, a lucubração do artista, o sonho do azul, o romance da vaga — mas mais adianle, uns quilómefros mais adianíe, no mesmo quadro de séculos, no mesmo areal de sempre, a sereia espreguiça-se à vontade, chamando os seus apaixonados para mais longe... mais longe... e depois ainda mais longe... onde a sós, num mudo colóquio de amor, continue o devaneio, o sonho, o romance de encantamenio e de paixão...

Costa da Caparica, turistas, década de 1950.
Imagem: Cocanha

E entretanlo vem a multidão também extasiar-se perante a maravilha...

O poela e o artista descobriram e bradaram o mistério de beleza — a beleza eterna que só aos eleitos é dado desvendar.

Costa da Caparica, turistas, 1956.
Imagem: Eulália Duarte Matos

E a multidão acudiu a êsse brado e viu a coluna de espuma em curvas de sensual beleza, incensada de aromas, resplendente de luz — e quedou-se maravilhada.

Aquela era a beleza magestosa em que a natureza se diviniza...

Costa da Caparica, turistas, agosto de 1940.
Imagem: Delcampe, Bosspostcard

E a multidão rodeando a imagem, — o sonho, o devaneio, feitos luz, aroma e espaço — completou o quadro.


(1) Praia do Sol (Caparica): estância balnear de cura, repouso e turismo, Monografia de propaganda do Guia de Portugal Artístico, 1934, M. Costa Ramalho, Lisboa.