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segunda-feira, 20 de junho de 2016

O Juncal da Trafaria

O dia oito de setembro era o escolhido por Bulhão Pato para a abertura das suas caçadas do inverno no sul do Tejo, e o sitio preferido o Juncal da Trafaria. (1)

Trafaria, c. 1900.
Imagem: Delcampe

Aquella charneca do Juncal, descoberta, erma e agreste, onde, no verão, dardeja o sol implacável, e no inverno sopra o sudoeste, ouvindo-se ao longe o rolar das ondas, é uma paizagem profundamente triste, mas que não deixa de ter encantos. A solidão do deserto está alli, fronteira e contraposta ao bulicio da cidade !

A maré era boa, e aproámos ao Torrão, evitando o fadigoso transito pelo areal.

Costa da Caparica, passeio de barco, embarcação Zinha, 1922.
Imagem: Arquivo Municipal de Lisboa

Um areal enorme, cortado de pequenos médãos, coberto duma alta, espessa, e hirta vegetação de juncos verde-negros, entresachados de raras moitas de joina. Arvores ... apenas algumas figueiras na horta do Miranda, á beira do rio! Isto e uns canteiros de morangos, eram os únicos signaes da vida vegetativa, naquelle chão árido e inhospito! A vinha, que elle alli plantara, agonisava, rasteira, enfesada e rachitica.

Plano hydrographico da barra do porto de Lisboa (detalhe), Francisco M. Pereira da Silva, 1857.
Imagem: Biblioteca Nacional de Portugal

A gente pouca, pallida, anémica, dizimada de continuo pelas febres. As aguas do inverno, estagnadas em charcos, tornados paúes, fermentando-as o sol ardente da canicula, evolavam de si miasmas mortaes, que o vento não varria, e que não poupavam nem as creanças, nem os adultos.

Em dias de sol, com o ar parado, aquelle ermo descampado é uma amostra da paizagem africana  ! Ao fundo, para o lado do Oceano, as cabanas de colmo dos pescadores, baixas e negras, e perto d'ellas a capellinha branca; defronte o cemitério, com os cyprestes esguios, balouçando — como nós — entre a vida e a morte ; á esquerda o Monte — árida rocha a pique, com o seu aspecto de fortaleza ; á direita a praia e o mar ...

Nada mais triste! Um dia, em que lá fiquei, ouvindo, ao sol posto, o toque das Ave-Marias, deu em mim tal melancolia, que desatei a chorar!

Não era ameno o sitio, tampouco o foi, em tempos, a fama dos seus moradores.

— Anda fugido na Costa — era uma phrase corrente na boca do povo, quando se falava de algum criminoso façanhudo, que desapparecera de Lisboa.

Transposto o Tejo, ladrões e assassinos alli se acoitavam e escondiam nas companhas dos barcos de pesca. Assim escapavam no mar aos quadrilheiros de Lisboa, quando lá iam perseguil-os. Uma visita da justiça á Costa — quando a policia estava longe de ser o que é hoje — era uma expedição arriscada, e quasi sempre inútil.

A civilização já lá chegou, e, se não mudou a natureza, mudaram os costumes. Ainda assim não podemos dizer que reina alli sempre uma paz octaviana. Um dia, logo depois de saírem de lá os nossos amigos, um homem, chamado Damião, foi esfaqueado.

A casa da sr.a Maria do Adrião — o nosso hotel — era respeitada, e nós, saindo de lá, não faziamos detença na povoação.

O poeta, installado no seu quartel general venatorio, em casa da sr.a Maria do Adrião, na Costa, havendo caça e dias amenos, deixava-se lá ficar, até que algum sudoeste bravio, dos que costumam açoitar aquella planície d'areia, o forçava a levantar vôo e recolher aos abrigos da cidade [...]

Retrato do poeta Raimundo Bulhão Pato,
Miguel Angelo Lupi, C. 1880
Imagem: ComJeitoeArte

Voltara o silencio áquclles logares. A nuvem negra, que de repente surgiu, a turvar-nos a limpida atmosphera daquelle formoso dia, desapparecera, varrida pela voz do poeta.

Dalli a pouco estávamos todos reunidos na casa de jantar da sr.a Maria do Adrião. Ao lado, na sala, de paredes estucadas, e tecto com relevos — uma surpresa para nós aquella restauração — a menina Gazimira extrahia das gavetas das suas bellas commodas de polimento, e mostrava ingenuamente ás senhoras, as riquezas e os primores da sua guardaroupa — chalés, vestidos de cores garridas, saias com rendas finas, camisas bordadas, lenços de seda de ramagens, que tão bem ficam, e tanto realce dam áquelles rostos campesinos, já illuminados de tons quentes pelo ar do campo e pelo sol.

Uma figura gothica — esta menina Gazimira. Alta e delgada de corpo, nem pallida, nem corada, a voz d"um timbre algo dorido, avara de palavras, os olhos sempre postos no chão, e um não sei que de triste e enigmático, davam-me a impressão de quem não anda satisfeito cá na terra...

Estas figuras, quando teem uma plástica individual, e caracteristica, por apagada que seja nellas a expressão da vida, são, como as estatuas, suggestivas.

Imprimem-se indeléveis na memoria, e entram na galeria do nosso mundo interior. E com estas imagens, cujos contornos o tempo vae esbatendo, que os artistas e os poetas compõem os seus quadros, os seus romances, e os seus poemas.

Vanidade ou vaidade, Hans Memling,
Musée des Beaux-Arts de Strasbourg, c. 1485.
Imagem: Wikipédia

Aquella donzella, serena e silenciosa, recortava-se alli, aos meus olhos — destacando do discorde scenario, e parecia ter saído d'algum velho painel flamengo, de Van Eyck ou de Memling — interior de cathedral gothica, ou comitiva castellã, em caçada fidalga, com pagens, lebreus e falcões [...]  

Os pescadores, pobre gente, quando ha peixe andam na sua faina ; quando elle falta vêem-se á porta das choças, ou na praia, olhando, tristes e sombrios, para o mar alto. E d'alli que lhes vem a ventura e a desgraça. Aquella vida, que para nós tem uma grande poesia, traz-lhes sempre deante dos olhos duas sombras negras — a fome em terra, quando escasseia o peixe, e a morte, quando os surprehende o vendaval !


Praia do Sol, Caparica, ed. José Nunes da Silva, s/n
Imagem: Delcampe, Bosspostcard




Sérios e concentrados, mantinham um discreto silencio, quando appareciam onde nós estávamos. Com os rostos semi-occultos, os gabões caídos em largas pregas, tinham um quer que de sombras, movendo-se lentamente naquelle fúnebre scenario.

A nota alegre, única, mas esta vivíssima, eram as creanças. Essas, sim, que vinham sempre visitar-nos. Nós, para elles, éramos a novidade — com os nossos trajos, armas, e perdigueiros. Elles — o bando buliçoso, saltão e gárrulo — corriam para nós, cheios de pittoresco e de vida. Uns de gabõesitos pardos outros de camisolas riscadas, brancas, azues, vermelhas ; alguns semi-nús, mostrando pelos rasgões da fato a pelle trigueira, com os seus tons fulvos ; todos descalços; os cabellos, pretos, loiros, arruivados, crespos e revoltos ; queimados os rostinhos pelo sol, e crestados pelo nordeste.

Costa da Caparica, crianças brincando na praia.
Imagem: Carlos Caria

Algum, mais atrevido, colleava, lenta e sorrateiramente, até á casa do jantar ; os outros miravamnos de longe por entre as portas, com os olhos vivos, esperando a saída. Poderia a vista satisfazer-lhes a curiosidade, mas nós, a este prazer, puramente óptico, ajuntávamos alguma coisa mais tangível.

Os primeiros a receber os nossos dons eram os mais velhos, os que nos tinham prestado algum serviço, que elles, no acto, não se esqueciam de allegar. A esta distribuição seguia-se outra, que era geral. Atirávamos para o monte.

Tinha que ver então ! O bando precipitava-se, ávido e furioso, sobre as mealhas esparsas na arêa. Era uma confusão vivíssima de corpos ás rebatinhas, de cabecitas resfolegantes e afogueadas, de mãos aduncas, luctando, qual de baixo, qual de cima, pela posse do metal. Aqui e alli, d'entre a revolta mole, erguiam-se alguns, cheios de alegria e de poeira, mostrando orgulhosos o premio da lucta. E ella repetia-se, se um olho mais agudo descobria no chão algum cobre, que aos outros escapara.

Depois os vencedores dispersavam. Alguns, raros, paravam nos limites da povoação, levando as mãos aos barretes ; outros iam-se logo, retouçando, aos pulos, pelo areal. Mas alguns ainda nos acompanhavam. Não era o amor, nem a gratidão ...

Costa da Caparica, crianças filhas de pescadores, 1938.
Imagem: Arquivo Nacional Torre do Tombo

Não tinham apanhado nada, e vinham lastimando-se, até que alguma alma, impaciente ou apiedada repartia com elles os últimos miúdos. Um vintém para cinco, dez réis para três ... Contas difficeis de fazer, mas que elles lá resolviam com a sua arithmetica de pequeninos.

Eram os prémios de consolação.

Com titulos bastantes para ser procurado pelos mestres da venatoria, não os tinha eguaes este sitio para ser frequentado por senhoras. Quem alli as levava, não era a fama das amenidades do logar, éramos nós, os caçadores, auxiliados por um certo estimulo artístico, o da curiosidade do contraste — ver a povoação dos pescadores, com as suas casas de colmo, armadas sobre os barcos!

Bellas Artes, 16, Costa de Caparica, A. Roque Gameiro, Paulo Emílio Guedes & Saraiva.
Imagem: Delcampe

Um trecho da Africa, á vista, e a dois passos de Lisboa !

Bellas Artes, 15, Costa de Caparica, A. Roque Gameiro, Paulo Emílio Guedes & Saraiva.
Imagem: Delcampe

Das classes populares também alguns alli iam fazer as suas ágapes campestres. Mas essas, não raro, tinham um epilogo cómico, quando não trágico. Vinho quasi sempre, e, ás vezes, sangue. Casas de cal e arêa havia lá então duas ou três. Na parede exterior d'uma d'ellas lia-se uma inscripção, em grossas lettras d'almagre, commemorando que a modesta vivenda fora honrada, tal dia, por um rei nosso. Se bem me recordo, foi D. João VI. E também me mostraram o tinteiro de faiança nacional, pintalgado de amarello, vermelho e verde — tons crus — de que elle se serviu para escrever ou assignar não me lembro o que.

Este sertão, inhospito para gente civilisada, foi, durante muitos annos, talvez pelo seu estado de natureza primitiva, um paraiso para os caçadores! Um completo mattagal, alto, denso, e espinhoso. Invernos havia, porém, abençoados, em que parecia ter-se alli aberto a arca de Noé! A caça de arribação em bandos! 

Uma d'essas gravuras — tirada da Chasse illustrée de 1867 — e que está deante de mim, traz-me viva á lembrança, com todos os seus episódios, uma das melhores caçadas que fizemos [...]
Imagem: Fédération Cynologique Internationale

Eram abibes, tarambolas, narcejas, patos, maçaricos reaes, gallinhas d'agua, borrelhos, toirões, codornizes, e depois lebres, e até gallinholas e perdizes, que desciam do monte — tudo com o seu acompanhamento de aves carniceiras, corvos, grifos e milhafres !

Trafaria, Vista dos Moinhos, ed. Manuel Henriques, década de 1900.
Imagem: Fundação Portimagem

Quando Bulhão Pato começou a frequental-o com os seus amigos, ainda o Juncal era isto. Hoje lembra o "locus ubi Troja fuit" ... Aqui foi o Juncal ! ... (2)

Trafaria, Vista dos Moinhos, ed. Manuel Henriques, 08, década de 1900.
Imagem: Delcampe


(1) Francisco Zacharias d'Aça, Caçadas portuguezas: paizagens, figuras do campo, Lisboa, Secção Editorial da Companhia Nacional Editora, 1898
(2) idem

terça-feira, 14 de junho de 2016

Trafaria e Cova do Vapor em 1946

A Trafaria é uma capital de freguesia de que depende também a Costa de Caparica.

Trafaria (Portugal), Vista geral e rio Tejo, ed. Martins/Martins & Silva, 28, década de 1900.
Imagem: Fundação Portimagem

Esta localidade tinha, em 1940, 1716 habitantes, repartidos em 679 lareiras e cerca de 700 famílias, das quais hoje [1946] apenas 40 vivem bem.

Há na Trafaria 330 famílias indigentes, o que quer dizer que cerca de 50% da população se encontra nesta má situação económica.

A localidade foi, na sua origem, uma aldeia de pescadores.

Aproximadamente no ano 1914, vieram instalar-se nela 3 fábricas de conservas de peixe.

Nesta altura, o peixe abundava na costa da Trafaria, de tal modo que as fábricas empregaram, além dos homens locais, operários que ali chegaram de fora.

Transporte da sardinha na Trafaria, Joshua Benoliel, início do século XX.
Imagem: Arquivo Municipal de Lisboa

Mas actualmente, como já o dissemos, não se acha peixe nenhum perto da costa. Ora, os pescadores não estão apetrechados para poder pescar ao largo da costa.

Trafaria, João Ribeiro Cristino da Silva, 1933.
Imagem: Cabral Moncada Leilões

De maneira que a base económica da Trafaria deixou de existir.

As duas fábricas de conservas não trabalham senão por intermitência, e a população local caiu na miséria.

O único expediente da localidade reside no facto de o desembarcadouro para os turistas da Costa de Caparica estar neste ponto da margem Sul do Tejo.

Les amants du Tage, Henri Verneuil , 1954.
Imagem: CAIS DO OLHAR

A Trafaria é portanto um lugar de trânsito e de estacionamento para os autocarros desta carreira.

Trafaria, paragem de autocarros, Mário Novais, década de 1940.
Imagem: Fundação Calouste Gulbenkian

Existem em volta do embarcadouro vários cafés e restaurantes que servem principalmente os turistas de Lisboa e que estão particularmente frequentados nos domingos de Verão quando multidões enormes se encaminham para a grande praia da Caparica e inundam mesmo a praia local.

A praia da Trafaria não é conveniente para os banhos de mar, pois que as correntes do Tejo trazem para cá e acumulam em frente dela todos os despejos dos esgotos de Lisboa.

A primitiva aldeia nasceu de um triângulo natural disposto entre o Tejo e as duas encostas de um vale que aí desemboca; as casas mais antigas, por vezes muito pitorescas, estão aí agrupadas.

A localidade cresceu depois mais para o fundo do vale e ao longo da estrada (ramal da E.N. nº. 76-2ª) que liga com a Costa de Caparica.

Trafaria, Estrada da Costa, ed. Manuel Henriques, 16, década de 1900.
Imagem: Delcampe

Construiu-se tudo em grande desordem.

Há um número exagerado de ruas, muitas das quais são demasiado estreitas, e todas elas (ou quase) não tem arranjo nenhum, nem são conservadas de qualquer maneira.

Reina em muitos sítios um cheiro desagradável por falta de instalações sanitárias nas casas.

Há horríveis barracas, feitas com pranchas e com ferro-velho, e um grande número de casebres de todas as espécies que servem como habitação para uma grande parte da população, que por causa disso sofre de todos os danos físicos e morais.

A tuberculose reina aí.

Ouvi dizer que não era raro verificar que numa destas barracas minúsculas habita uma família numerosa composta por 12 ou 13 pessoas, o que cria uma porcaria inimaginável e uma promiscuidade depravadora.

Felizmente, a Trafaria possui uma boa escola primária e um bonito mercado.

Trafaria — Avenida Florestal, ed. Alberto Aguiar, década de 1930.
Imagem: Delcampe

Está actualmente em obras um pequeno "bairro para pobres".

As suas casas são bem pequenas, mas a sua criação respondeu a uma necessidade imperativa e deve ser considerada como o primeiro passo para o melhoramento da saúde física e moral dos indigentes da Trafaria.

O bairro contém 36 casas com 3 divisões, e 14 casas com 4 divisões.

As casas estão dispostas numa parte da mata do Estado e estão rodeadas de árvores que será preciso conservar na medida do possível.

Na parte Este da Trafaria, num terraço acima do rio, há uma cadeia militar e, na parte Sudoeste do vale, um quartel.

Nos pontos altos que dominam a região estão instalados dois fortes, e a maior parte da mata que veste os declives do planalto é pertença do Ministério da Guerra (zona militar).

No entanto, há também atrás da estrada nacional, uma linda encosta arborizada que não constitui parte deste domínio militar e do alto do qual se disfruta uma vista esplêndida sobre o Tejo e sobre as vastas paisagens da banda oposta.

Trafaria, Valle da Enxurrada, ed. J. Quirino Rocha, 3, década de 1900.
Imagem: Delcampe

Algumas pessoas muito espirituosas colocaram ali umas casinholas de fim-de-semana.

O sossego, a frescura e a beleza da vista de que elas gozam são objecto de inveja.

Grandes e lindas matas estendem-se ao pé desta encosta e a Oeste da Trafaria e pertencem ao Estado e à Companhia das fábricas de Explosivos.

Nos domingos de Verão, estas matas estão cheias de pessoas que aí resolveram fazer um pic-nic, vindas de Lisboa, o que é muito natural, visto estas florestas serem as mais acessíveis aos habitantes da capital, entre todas as dos seus arredores.

Com efeito, a passagem do Tejo num barco é muito agradável e não custa caro.

Infelizmente, o facto de haver nesta mata duas fábricas de explosivos, com os seus respectivos depósitos, constitui um perigo para toda esta gente, perigo que se agrava à medida que cresce o número da população local e dos passeantes.

Não devemos perder de vista a possibilidade de qualquer falta de cuidado da parte dos fumadores ou das mães de família que trazem consigo pequenos fogões para poderem cozinhar durante estes dias feriados.

Ora, vemos ao longo da praia da Trafaria uma verdadeira muralha contínua, feita de pedaços de madeira: são as barracas fixas para o “camping”, quase encostadas umas às outras, cuja construção foi autorizada pela Direcção do Porto de Lisboa, sem que tivesse sido aplicada uma regulamentação severa.

Trafaria, Praia dos Banhos, ed. J. Quirino Rocha, 4, década de 1900.
Imagem: Delcampe

É fácil imaginar que um incêndio venha, num dia qualquer, a estalar neste agrupamento perigoso, transformando-se forçosamente num braseiro que porá fogo à mata.

Este poderá chegar até aos depósitos de explosivos, que se encontram nela e mesmo bastante perto das ditas barracas.

Nestas condições é lógico preconizar o afastamento das fábricas de dinamite para fora deste sítio já tão povoado.

[...] a "Cova do Vapôr", um pequeno porto formado por uma enseada entre as dunas, perto da embocadura do Tejo.

Trafaria, Ponte de embarque, ed. Manuel Henriques, década de 1900.
Imagem: Restos de Colecção

Sobre a língua de areia que se formou entre o rio e o mar, ergueram-se minúsculas barracas de madeira, sobre estacaria, construídas nas parcelas das dunas que alugou aos seus proprietários a direcção do Porto de Lisboa. São casas de fim-de-semana ou de "camping".



Trafaria, casa na Cova do Vapor, 1949.
Imagem: Público

Lamento ter de dizer que tudo isto foi construído na maior desordem possível: as casinholas estão demasiado perto umas das outras e apresentam, no seu conjunto, o aspecto de uma aldeia de pretos.

Trafaria, casa na Cova do Vapor, 1952.
Imagem: Público

Não têm nem água, nem esgotos. As águas usadas e tudo o resto deita-se na areia, que se torna progressivamente insalubre e de mau cheiro. (1)


(1) Gröer, Etienne de, Plano de Urbanização do Concelho de Almada, PUCA, Análise e Programa, Relatório, 1946, mencionado em Anais de Almada, 7-8 (2004-2005), pp. 151-236.

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