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sábado, 20 de março de 2021

Lourenço Pires de Távora

Segundo filho de Cristóvão de Távora e de D. Francisca de Sousa, herdaria do pai o morgado de Caparica, por morte precoce do primogénito, Álvaro Pires de Távora. Sabemo-lo ao serviço da capitania de Arzila entre 1526 e 1529, e, em 1535, entre o séquito que acompanha o infante D. Luís no exército que, liderado por Carlos V, conquista a praça de Tunes.

Congratulação de Lourenço Pires de Távora ao Pontífice Pio IV.
Internet Archive

Regressaria ao Norte de África em 1541 como embaixador de D. João IlI junto do rei de Fez. Após uma breve passagem pela Índia, entre 1546 e 1547, onde acompanha D. João de Castro no cerco a Diu, inicia tuna intensa actividade diplomática ao serviço dos monarcas, funções que manteria até pouco antes da sua morte.

Capture of La Goulette.
Tapestry of the series The Conquest of Tunis This Spanish set of the Conquest of Tunis was woven after the original cartoons designed by Jan Cornelis Vermeyen & woven by Wilhelm de Pannemaker in 1549-1551.
Wikipédia

É precisamente na qualidade de embaixador do rei português que percorre muitas das principais cortes da Europa de então, desde a Alemanha de Carlos V à Inglaterra de Maria Tudor, de Castela à França ou aos Países Baixos.


Mapa de Portugal
Fernando Álvares Seco, 1561.
Wikimedia Commons

Entre Abril de 1559 e Abril de 1562, permanece em Roma como embaixador de Portugal junto da Santa Sé, donde regressa para assumir, em finais de 1563, a capitania de Tânger, cujo governo assegura até Abril de 1566. Lourenço Pires de Távora manteria, em simultâneo, importantes funções como conselheiro dos monarcas, intervindo com frequência em assuntos de capital interesse para o reino, desde a politica respeitante às praças africanas aos problemas da sucessão no trono português na menoridade D. Sebastião.

Brasão de armas dos Távoras de Caparica*
(frontispício do Convento dos Capuchos)

Segundo a memória da familia das Távoras redigida por Álvaro Pires de Távora, 7° senhor da Caparica e refundador do convento teria casado com D. Catarina de Távora, dama da rainha D. Catarina, da qual teve pelo menos quatro filhos varões: Cristóvão de Távora, Álvaro Pires de Pávore, Rui Lourenço de Távora e Antónie de Távora, os dois primeiros e o último falecidos ao serviço dos monarcas portugueses no Norte de África, A estes acresceriam, segundo António Caetano de Sousa, pelo menos cinco filhas; D. Joana de Távora, D. Antónia de Távora, D. Francisca de Távora, D. Maria de Távora e D. Paula da Silva. (1)

Roque Gameiro.org

Neste Anno de [1]572 se acha que se entregou a Lourenço Pires [de Távora] a fortaleza de S. Sebastião de Caparica chamada comunmente a Torre velha situada em oposição da de Belém da outra parte do Rio com o intento de ajudar a empedir a entra do porto de Lisboa aos imigos que o intentassem, tinhalhe ElRey [D. Sebastião] prometido a Capitania della desde quando se principiava, e foi o primeiro Capitam que teve logrou a pouco, mas conserva-se em sua casa que anda de juro. (2)

Torre Velha ou Torre de S. Sebastião de Caparica em 1767.
Obecervaçoens trignometricas q. se fizerão no campo nos citios de Bonus Ayrés e caza brancana Tappada Rial de S. Magestade (detalhe).
Biblioteca Nacional de Portugal

Regressando à Caparica no fim da vida, aí vivia a falecer a 15 de Fevereiro de 1573, fazendo-se sepultar no convento capucho, do qual foi o pioneiro padroeiro. (3)



[SEPULTURA] DE LOURENÇO PERIZ DE TAVORA DO CONSELHO DO STADO D EL REI D. SEBASTIÃO. O I DESTE NOME. INSTITUIDOR E PADROEIRO DESTA CASA FALECEO DE  IDADE DE 63 ANOS A 15 DE FEVEREIRO NO ANO DE 1573. AVEMDO CINQVO SOMAVAS QUE DESCANSAVA EN SUA CASA DE 'MUITOS SERVIÇOS QUE FEZ A ESTE REINO NA PAZ E NA GVERRA EN ASIA AFRICA E EVROPA


(1) O Convento dos Capuchos... Catálogo da Exposição, Camara Municipal de Almada, 2014
(2) Ruy Lourenço de Tavora, Historia de varoens illustres do appellido Tavora..., 1648
(3) O Convento dos Capuchos...Idem

Artigos relacionados:
Quinta Távora e Mosteiro da deceda
Cronologia breve da Torre Velha (1 de 3)
Cronologia do Convento dos Capuchos (Caparica)
A Costa romântica de Bulhão Pato
A Costa no século XIX
Restos do Convento e egreja dos Capuchos em Caparica
O guardião dos Capuchos
etc.

Leitura relacionada:
Historia de Varoens illustres do appellido Tavora, Continuada em os Senhores da caza e morgado de Caparica. Com a rellacam de todos os successos publicos deste Reyno e sus conquistas desde o tempo do Rey D. Joam III (etc.) ... Publicado por Ruy Lourenco de Tavora (etc.)



* Os senhores da casa de Távora desde os modificaram o seu brasão, acrescentando em bordadura a divisa QUASCUNQUE FINDIT, e passando o golfinho do timbre para o centro do escudo. Destas armas, assim alteradas, usaram ùnicamente os marqueses de Távora, os condes de Alvor, e, talvez, os de S. Vicente [cf. Anselmo Braamcamp Freire, Brasões da Sala de Sintra, Vol. III, p. 109].

domingo, 25 de novembro de 2018

Restos do Convento e egreja dos Capuchos em Caparica

Fora fundado em 1564 por D. Lourenço Pires de Tavora, quarto senhor de Caparica, o convento de capuchos arrabidos, cujas ruinas a nossa gravura reproduz.

Roque Gameiro.org

Na egreja d'este convento está o túmulo do seu fundador, que falleceu a 15 de fevereiro de 1573. D. Lourenço Pires de Tavora fora embaixador de Portugal em Hespanha, sendo imperador Carlos V.

Caparica é povoação situada em frente de Lisboa, na margem esquerda do Tejo. É de fundação muito an­tiga, dando-se ao nome que ella tem, de Caparica, duas tradições muito curiosas, segundo refere Pinho Leal, no seu Portugal antigo e moderno.

Uns dizem que morrendo aqui um velho, declarou no testamento que deixava a sua capa para ser vendida e com o producto da venda se fazer uma capella a Nossa Senhora do Monte. Fez isto rir bastante; mas, sabidas as contas, a boa da capa estava recheiada de bellos dobrões de ouro, que chegaram de sobra para a fundação da capella.

A segunda versão é que, sen­do a Senhora do Monte de muita devoção para estes povos e limitrophes, concorreram todos para se lhe fazer uma esplendida capa, pelo que a Senhora ficou d'ahi em deante sendo conhecida por Nossa Senhora da Capa Rica. (1)


(1) Manuel Pinheiro Chagas, História de Portugal, popular e ilustrada, Volume 4,
cf. Roque Gameiro.org


Artigos relacionados:
Quinta Távora e Mosteiro da deceda
A Costa romântica de Bulhão Pato
Freguesia de Caparica no século XIX

quarta-feira, 7 de dezembro de 2016

Mar da Calha

Na grande fortaleza de S. Julião, que cruza os seus fogos com a do Bugio, e nesta torre, marcando e limitando ambas as entradas do porto de Lisboa, estão montados os competentes pharoes.


Uma chalupa armada emergindo da foz do Tejo passado o Bugio, Thomas Buttersworth (1768 – 1842).
Imagem: Bonhams

O pharol da torre de S. Julião data de 1785, e é de luz fixa e branca, com o alcance de 12 milhas. E de 4.a ordem, tem próximo um posto semaphorico, e fica á latitude N. de 38° 42' 22" e á longitude W. de 9° 19' 27" de Greenwich.

A estação semaphorica communica-se com a estação central de Lisboa e com a torre do Bugio por meio de telephone.

Veleiros no Tejo junto ao Bugio, Carlos Ramires, 2014.
Imagem: Cabral Moncada Leilões

Na torre está estabelecido um posto de soccorro a náufragos.

A SW. da fortaleza ha uma restinga chamada ponta da Lage, a qual entra pelo mar dentro, descobrindo na baixa-mar, e que tem cerca de meia amarra de comprimento [1 amarra eq. 120 braças; 1 braça eq. 8 palmos, c. 1,76m].

Plano hydrographico da barra do porto de Lisboa (detalhe), Francisco M. Pereira da Silva, 1857.
Imagem: Biblioteca Nacional de Portugal

Quando, na entrada da barra, se enfia a guarita cylindrica de NE. da fortaleza com a parte leste da muralha da mesma fortaleza, é signal de estar passada a ponta da Lage, a que era mister dar resguardo, e pôde então a navegação seguir sem receio.

A torre do Bugio, ou fortaleza de S. Lourenço, é circular e levantou-se das aguas no século XVII, tendo desde 1755 montado um pharol, que é hoje de luz branca, fixa, com um clarão vermelho de 20'' em 20'', de 3.a ordem, e com o alcance de 15 milhas, illuminando 360°.

Bugio, Defesa maritima de Lisboa, gravura João Pedroso, Archivo Pittoresco, n 30, 1862.
Imagem: Hemeroteca Digital

Foi esta torre construída no logar da Cabeça Secca, separada da torre pela golada do Sul, ou do Bugio, que só dá passagem a pequenas embarcações. O seu apparelho dioptrieo está 26 metros acima do nivel do mar, na latitude N. de 38° 39' 31" e na longitude W. do 9° 17' 52" de Greenwich.

São estas luzes de capital importância para a navegação que demande o porto de Lisboa.

Desde este ponto continua a costa para o S. em uma larga curvatura, e é formada por um extenso areal, e limitada ao longe pela serra da Arrábida e de S. Luiz, que se estende para ENE. do cabo Espichel, e que termina no pico do Formozinho, 500 metros acima do mar.

Linha de costa da Torre do Bugio ao Cabo Espichel (fotomontagem).
Observam-se as elevações moinhos do Chibata, Monte Córdova (Serra de S. Luís) e Serra da Arrábida, conforme descrito no Plano hydrographico da barra do porto de Lisboa, Francisco Maria Pereira da Silva, 1857.
Imagem: AVM

Na serra de S. Luiz, o pico mais elevado é o Monte Córdova, que se apresenta de forma circular, quando é enfiado pela torre do Bugio.

No extremo mais occidental de terra, a partir do Bico da Calha, que é a ponta de areal em que termina a margem esquerda do Tejo, depara se primeiro, a 2 milhas para o S., o forte da Vigia, a 850 metros, e por E. 4 3/4 SE. do Bugio o reducto de Alpena [...]

Fragata HMS Lancaster (F229) na foz do Tejo.
Observam-se em 2° plano a Cova do Vapor e a rebentação das ondas fora da barra.
Imagem: Barcos no Tejo

Barra de Lisboa — A entrada do Tejo fica situada entre as torres de S. Julião e do Bugio, que distam 2:750 metros uma da outra, e entre o Bugio e o Bico da Calha, ou ponta do cabedelo do S. 

Dois grandes bancos se prolongam para o mar na direcção geral de NE.-SW., que se denominam Cachopo do N. e Cachopo do S., ou Alpeidão. 

Formam estes cachopos dois canaes, o do N., ou corredor do N., que fica entre o cachopo do N. e a torre de S. Julião da Barra, e o do S., ou Barra Grande, que fica entre os dois cachopos indicados.

Alem d'estes canaes ha um outro, estreito, pouco fundo e variável em planta, chamado Golada, entre a torre do Bugio e a terra.

O cachopo do N. estende-se naquelle rumo por 5:500 a 6:500 metros. 

O do S. é formado da cabeça do Pato, das coroas de Santa Catharina e do cachopo propriamente dito.

Sobre a primeira parte ha peio menos 10 a 12 metros de agua.

As coroas de Santa Catharina ficam entre a cabeça do cachopo e a do Pato. 

Este cachopo do S., ou Alpeidão. na extensão proximamente de 5:500 metros, é um banco de areia, que descobre em baixa-mar em diversos logares.

O banco, ou barra que liga os extremos dos cachopos pelo W., fica entre a cabeça do Pato e o Espigão, na máxima largura de 3:700 metros, e forma grande escarcéu com ventos do quadrante do SW., levantando ás vezes um rolo do mar, ou arrebentação, que fecha de um lado ao outro o canal da barra e offerece nessas occasiões perigo em arrostar com elle.


Esta barra é descripta pelo distincto hydrographo e geographo Franzini, no seu Roteiro das costas de Portugal, publicado em 1812, nos seguintes termos:
"A barra de Lisboa (a melhor e única da costa de Portugal, que admitte em todos os tempos a entrada dos maiores navios), é formada pelos baixos seguintes:

A S. 35° O. da fortaleza de S. Julião, na distancia de 280 braças, está situado o extremo NE. de um baixo de pedra, a que chamam o Dente do Cachopo cujo baixo se prolonga 2 milhas e 3 décimos a S. 65° O. com pouco fundo, tendo umas 300 varas de largura, e sobre o qual rebenta o mar, quando é agitado pelos ventos do 3.° e 4.° quadrantes.

Chamam Barra pequena, ou Corredor, o canal que fica entre o sobredito Cachopo e a costa do N., o qual tem sempre desde 8 até 10 braças de fundo na baixa-mar.


Plano hydrográfico do Porto de Lisboa e costa adjacente até ao cabo da Roca,
Marino Miguel Franzini, 1806.
Imagem: GEAEM Instituto Geográfico do Exército

Uma milha a SO. do extremo occidental d'este cachopo, e quasi N.-S. com a fortaleza de Santo António da Barra, está a Cabeça do Pato, que é um baixo-fundo, no qual se não encontra menos de 6 a 7 braças de agua em baixa-mar; mas que não obstante se deve evitar, especialmente em tempos borrascosos, podendo acontecer que na descida de uma grande vaga cheguem a tocar nelle as embarcações, que demandam muita agua.

Ao S. 55° E. de S. Julião, na distancia de uma milha e 4 décimos, está a Torre do Bugio, formada por dois corpos circulares concêntricos, no meio dos quaes se eleva uma pequena torre em que está o pharol, na altura de 63 pés.

Os dois recintos são edificados sobre um baixo de areia muito extenso, que se cobre no prea-mar, deixando a torre perfeitamente ilhada.

O dito baixo, ou Cachopo do Sul, denominado também da Alcáçova, ou Alpeidão, prolonga-se 2 milhas ao SO., e forma o do Norte, um grande canal, a que chamam a Barra Grande, cuja menor largura é de uma milha e um decimo, com 10 a 18 braças de bom fundo, a não ser perto dos dois mencionados cachopos, em que só ha 6 ou 7 braças, as quaes diminuem de repente.

A frota francesa commandada por Roussin força a entrada do Tejo, Pierre-Julien Gilbert, 1837.
Imagem: Fortificações da foz do Tejo

A torre do Bugio deve considerar-se como o extremo SO. do Rio Tejo, por que ainda existe, entre ella e a costa da Trafaria, um pequeno canal (que sempre conserva alguma profundidade, e cuja direcção soffre muitas alteracoes); comtudo, é tão estreito, que na baixa-mar quasi se juntam as areias da costa com as do baixo, formando uma vasta praia, até a sobredita torre.

Este grande baixo forma uma semelhança de enseada aberta ao 3., na qual se acham 5 a 7 braças de fundo.

Estes dois cachopos podem considerar-se reunidos por uma espécie de banco, situado 3 milhas e meia ao SO. das torres de S. Julião e Bugio, o qual corre em direcção perpendicular á barra; porem, como o seu menor fundo é de 8 para 9 braças, segue-se que qualquer embarcação poderá navegar afoitamente por elle em todas as circunstancias.

Logo para dentro d'este banco cresce o fundo regularmente de 15 até 20 braças, que conserva pelo meio da mesma barra".

Esta descripção, muito precisa e exacta, é perfeitamente applicavel á actualidade, em que a profundidade da barra e a disposição dos canaes e dos bancos submarinos teem sido modificadas muito pouco, como terei occasião de mostrar [...]

Costa da Caparica, Bairro de Santo António e Foz do Tejo, ed. Passaporte, 2, década de 1960.
Imagem: Delcampe, Oliveira

Na margem esquerda do Tejo, que principia na ponta da costa, ou bico da Calha, existe um grupo de pedras, conhecido pelo nome de Calhaus do Mar, que fica a duas e meia amarras do areal da Trafaria, que é uma povoação de pescadores, hoje muito concorrida na época balnear.

Trafaria — Vista geral da praia, ed. J. Quirino Rocha, 06, década de 1900.
Imagem: Delcampe

O seu bello areal estende-se até o bico da Calha, continuando para o S. na costa oceânica.


(1) Loureiro, Adolfo, Os portos maritimos de Portugal e ilhas adjacentes, Vol III parte 1, Lisboa, Imprensa Nacional, 1906

Leitura relacionada:
Erosion policy options for the Costa da Caparica