Mostrar mensagens com a etiqueta 1948. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta 1948. Mostrar todas as mensagens

segunda-feira, 14 de novembro de 2016

Um domingo na Praia

Adiante da Trafaria
Para lá da mata fica
— rindo ao sol que alegra o dia —
a Costa da Caparica.

Costa da Caparica, Vista parcial da Praia, ed. Passaporte, 19.
Imagem: Delcampe

Toma-se o barco em Belem
ou no Terreiro do Paço
e o trajecto faz-se bem,
sem delongas nem cansaço.

Trafaria, o e mbarcadouro, Mário Novais, década de 1940.
Imagem: Fundação Calouste Gulbenkian

Aos domingos, no entretanto,
é quase tôla aventura...
perde metade do encanto;
torna-se numa tortura.

Trafaria, o e mbarcadouro, Mário Novais, década de 1940.
Imagem: Fundação Calouste Gulbenkian

Só visto, aquilo!... Porém,
O sol trespassa os telhados;
Lisboa não se contém,
e os barcos vão apinhados! [...]


Trafaria, vista parcial, Mário Novais, década de 1940.
Imagem: Fundação Calouste Gulbenkian

Mas um dia... dura um dia!
E assim que o dia falece,
Na estrada da Trafaria,
a barafunda ensurdece!

Trafaria, paragem de autocarros, Mário Novais, década de 1940.
Imagem: Fundação Calouste Gulbenkian

Todo o anseio se resume
em topar qualquer transporte
e paira um vago perfume 
das romarias do norte

Costa da Caparica, Um aspecto da praia à hora do banho, ed.Passaporte, 17.
Imagem: Delcampe

o o O o o

Costa da Caparica, Um aspecto da praia à hora do banho, ed.Passaporte, 16.
Imagem: Delcampe

no trânsito buliçoso 
e nos que vão a cantar,
para não ser tão penoso
o caminho a palmilhar...

Trafaria, ponte de embarque, c. 1960.
Imagem: Arquivo Municipal de Lisboa

A travessia do Tejo
torna-se longa... Começa
a sentir um só desejo:
— Chegar a casa depressa!

Cais de embarque da Trafaria, década de 1960.
Imagem: Arquivo Municipal de Lisboa

E Lisboa nem parece
Lisboa, triste, cansada,
quando por fim adormece
já quase de madrugada... (1)


(1) Silva Tavares, Um domingo na Praia, Calendário de Lisboa, Lisboa, Livraria Popular de Francisco Franco, 1948

segunda-feira, 23 de maio de 2016

Os Meia Lua da Costa de Caparica

O meia-lua da Costa da Caparica, também conhecido pelo nome de saveiro e barco da arte era o barco usado na Caparica para a arte xávega, que lembra pelo seu arqueado e pela quase igualdade das bicas uma meia-lua perfeita.

Pormenor da praia da Caparica, ed. Fotex, 144
Imagem: Delcampe

Manuel Leitão define o meia-lua como sendo mais pequeno que o barco do mar, com fundo chato, mas com um tosado importante, que o levanta numa curva bastante acentuada até às rodas de proa e de ré, produzindo o perfil característico em crescente, que dá à embarcação o seu nome. (1)

Praia do Sol, Caparica, ed. José Nunes da Silva, s/n
Imagem: Delcampe

Cada “meia-lua” era manobrado por uma “companha” ou associação de pescadores que vieram sobretudo de Lavos e Buarcos para tomar parte numa forma particular de arrasto com rede de cerco.

Caparica, Aguarela, Carlos Pinto Ramos
Imagem: Cabral Moncada Leilões

Alguns dos homens que trabalhavam nesta ocupação eram também do Algarve.

Barco varado, Aguarela, Carlos Pinto Ramos
Imagem: Cabral Moncada Leilões

Estas grandes embarcações eram construídas com quatro bancadas para os remadores e as posteriores, mais pequenas, e em menor número, que mediam 8,50 x 2,40 metros aproximadamente, eram construídas com três. 

Costa da Caparica, Saíndo para a pesca, ed. Lif , 2
Imagem: Delcampe

A parte de ré do casco era deixada aberta para permitir espaço no qual era alojada a rede, as suas numerosas poitas e flutuadores de cortiça e os cabos de puxar.

Costa da Caparica, ed. desc.

Nos tempos antigos, alguns “meias-luas” eram aparelhados com vela e leme do tipo “xarolo” para a pesca no Rio Tejo, para vender o peixe nos mercados da margem norte.

Souza, João de, Caderno de Todos os Barcos do Tejo tanto de Carga e transporte como d'Pesca,
Sociedade de José Fonseca, 1785

Em 1948 existiam 14 “Meias Luas” na Caparica, mas o seu número foi descendo, podendo em 1970 serem contados pelos dedos de uma mão. 

Costa da Caparica, 1946, Mário Novais

Prevendo o seu rápido desaparecimento, o Museu de Marinha adquiriu em Junho de 1975 um exemplar que se encontra exposto junto à entrada para o Planetário e onde o visitante pode admirar as suas belas formas e toda uma arte que se vai extinguindo. (2)

Costa da Caparica, 1956
Imagem: Eulália Duarte Matos


(1) Lopes, Ana Maria, Marintimidades, O meia-lua: da praia para o Museu?... 

(2) Leitão, Manuel, Revista da Armada, Dezembro 2002, (pág. 397, ou pesquisar "Caparica")

Leitura relacionada: Fonseca, Senos da, Factos & História , A arte da xávega