segunda-feira, 23 de maio de 2016

Os Meia Lua da Costa de Caparica

O meia-lua da Costa da Caparica, também conhecido pelo nome de saveiro e barco da arte era o barco usado na Caparica para a arte xávega, que lembra pelo seu arqueado e pela quase igualdade das bicas uma meia-lua perfeita.

Pormenor da praia da Caparica, ed. Fotex, 144
Imagem: Delcampe

Manuel Leitão define o meia-lua como sendo mais pequeno que o barco do mar, com fundo chato, mas com um tosado importante, que o levanta numa curva bastante acentuada até às rodas de proa e de ré, produzindo o perfil característico em crescente, que dá à embarcação o seu nome. (1)

Praia do Sol, Caparica, ed. José Nunes da Silva, s/n
Imagem: Delcampe

Cada “meia-lua” era manobrado por uma “companha” ou associação de pescadores que vieram sobretudo de Lavos e Buarcos para tomar parte numa forma particular de arrasto com rede de cerco.

Caparica, Aguarela, Carlos Pinto Ramos
Imagem: Cabral Moncada Leilões

Alguns dos homens que trabalhavam nesta ocupação eram também do Algarve.

Barco varado, Aguarela, Carlos Pinto Ramos
Imagem: Cabral Moncada Leilões

Estas grandes embarcações eram construídas com quatro bancadas para os remadores e as posteriores, mais pequenas, e em menor número, que mediam 8,50 x 2,40 metros aproximadamente, eram construídas com três. 

Costa da Caparica, Saíndo para a pesca, ed. Lif , 2
Imagem: Delcampe

A parte de ré do casco era deixada aberta para permitir espaço no qual era alojada a rede, as suas numerosas poitas e flutuadores de cortiça e os cabos de puxar.

Costa da Caparica, ed. desc.

Nos tempos antigos, alguns “meias-luas” eram aparelhados com vela e leme do tipo “xarolo” para a pesca no Rio Tejo, para vender o peixe nos mercados da margem norte.

Souza, João de, Caderno de Todos os Barcos do Tejo tanto de Carga e transporte como d'Pesca,
Sociedade de José Fonseca, 1785

Em 1948 existiam 14 “Meias Luas” na Caparica, mas o seu número foi descendo, podendo em 1970 serem contados pelos dedos de uma mão. 

Costa da Caparica, 1946, Mário Novais

Prevendo o seu rápido desaparecimento, o Museu de Marinha adquiriu em Junho de 1975 um exemplar que se encontra exposto junto à entrada para o Planetário e onde o visitante pode admirar as suas belas formas e toda uma arte que se vai extinguindo. (2)

Costa da Caparica, 1956
Imagem: Eulália Duarte Matos


(1) Lopes, Ana Maria, Marintimidades, O meia-lua: da praia para o Museu?... 

(2) Leitão, Manuel, Revista da Armada, Dezembro 2002, (pág. 397, ou pesquisar "Caparica")

Leitura relacionada: Fonseca, Senos da, Factos & História , A arte da xávega

2 comentários:

Anónimo disse...

excelente pulicação

Rui Granadeiro disse...

Obrigado ahcravo,
Como diria Raul Brandão: "sempre o mesmo barco".
Abraço