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segunda-feira, 21 de fevereiro de 2022

Má sorte!

No fundo fotográfico Sampaio Teixeira, com tratamento arquivístico em curso no Arquivo Municipal de Lisboa, interessa-nos na amostra disponível, que cremos dos anos 40 do século passado, dois elementos que nos rementem para acontecimentos de triste memória:

Costa da Caparica, fundo fotográfico Sampaio Teixeira.
Arquivo Municipal de Lisboa

  1. o nome da embarcação, Portugal, cuja homónino protagonizou o naufrágio de 1904, conforme referimos em Saveiro Portugal da companha Victorino que naufragou na Costa de Caparica;

  2. e a malograda matrícula, T-122-F, que retoma aquela dada em 1923 ao "Triste Pensativo" (também nome de infeliz escolha) de maior infortúnio em 1929, como também relembramos em A tragédia do Pensativo por Norberto de Araújo.

Quanto ao "dandy", figura de proa veraneante, que, com os pés nos golfiões, segura a bica do meia-lua, veja-se a informação abaixo.

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Documentação produzida e acumulada entre as décadas de 1930 e 1990, por António Sampaio Teixeira, que compreende um conjunto documental com as seguintes temáticas: fotografias pessoais e de família; fotografia de cena em teatros de revista (1956-1974); fotografia de ópera e de bailados, no Teatro Nacional de São Carlos e Teatro Nacional D. Maria II, no Coliseu e Teatro da Trindade (1969-1974); fotografias em praias (Cascais, Caparica) (1)

António Artur Sampaio Teixeira nasceu em Vila Real, na freguesia de São Pedro, a 22 de Julho de 1911. Filho de António Augusto Alves Teixeira, também fotógrafo, e de Maria Celeste Sampaio, ambos naturais do distrito. O pai foi um dos mais destacados fotógrafos de Vila Real e, quando faleceu, possuía, já há largos anos, um reputado estabelecimento na rua Direita, denominado Photografia Vila-realense.

Costa da Caparica, fundo fotográfico Sampaio Teixeira.
Arquivo Municipal de Lisboa

A dedicação de António Sampaio Teixeira à fotografia parece ter sido mais por vontade e gosto, do que por necessidade. Com morte do pai, em 1918, por febre pneumónica, terá assumido, com a mãe, o estabelecimento fotográfico da família. Porém, a sua assiduidade era muito irregular, já que, o gosto pelo motociclismo, o desviava frequentemente das responsabilidades profissionais.

A mãe morreu em 1929 e, nesse mesmo ano, ainda com 18 anos, Sampaio Teixeira solicitou, com a sua irmã, a emancipação, que foi autorizada pelo tribunal. A partir daqui, são quase nulas as informações sobre Sampaio Teixeira.

O seu espólio fotográfico mostra-nos, neste período, um conjunto de fotografias de cabarets parisienses, mas nada nos indica que tenha vivido, com regularidade, naquela cidade. Certo é que, a partir dos anos 40, foi encontrado como fotógrafo de cena, na grande maioria dos teatros de revista da capital, sobretudo, no Parque Mayer (nos teatros Capitólio, Variedades, Maria Victória e ABC), trabalho que executou até aos anos 70.

A partir deste período, encontram-se, também, trabalhos fotográficos no Teatro Nacional e no Teatro Nacional de São Carlos, onde retratou diversas óperas e bailados. Particularmente interessantes são as fotografias das companhias que, a partir do 25 de abril de 1974, se apresentaram em Lisboa, como ballet do Teatro Bolshoi, de Moscovo, ou o Ballet Nacional de Cuba. Sampaio Teixeira foi militante do Partido Comunista Português e a sua militância levou-o, frequentemente, a registar imagens de acontecimentos políticos em Portugal, tais como, comícios políticos e outras iniciativas de associações ou organismos ligados àquele partido.  (2)


(1) Guia de Fundos do Arquivo Municipal de Lisboa
(2) Idem

Artigos relacionados:
Saveiro Portugal da companha Victorino que naufragou na Costa de Caparica

A tragédia do Pensativo por Norberto de Araújo

O naufrágio do Pensativo


sábado, 4 de junho de 2016

Quinta Távora e Mosteiro da deceda

Mapa de Portugal
Fernando Álvares Seco, 1561
Imagem: Wikimedia Commons
Quando D. Sebastião foi aclamado rei (1557), preparou-se uma embaixada a Roma, para tratar de importantes assuntos de Estado. O embaixador escolhido foi Lourenço Pires de Távora (1510-1573), que chegou a Roma em Junho de 1559. 

Guido Sforza, cardeal protector de Portugal, terá então recebido de Estaço um particular presente: um mapa de Portugal, preparado por Fernando Álvares Seco (fl. 1560), cartógrafo de quem pouco ou nada se sabe.

Dois pormenores foram introduzidos, que delatam o autor, como acontecia muitas vezes nas telas de mestres pintores: a “Quinta dos Secos”, perto de Tomar, e a “Quinta Távora”, morgadio da família do embaixador, na península de Setúbal. (1)

O mapa de Portugal de FERNANDO ALVARO SECO, publicado em Roma em 1561 é provavelmente o primeiro mapa de conjunto do território nacional, serviu de base a toda a cartografia do país que se imprimiu durante um século.

Mapa de Portugal, Fernando Álvares Seco, 1561
Imagem: Wikimedia Commons (detalhe)

Cem anos depois, em 1662, era dada a conhecer em Madrid a «descrição do reino de Portugal...» de PEDRO TEIXEIRA ALBERNAZ que durante outro século serviria de modelo às edições de mapas de Portugal que entretanto iam surgindo. 

... numa data em que ainda não era possível o conhecimento exacto das longitudes, o país aparece distorcido, se bem que as posições das várias povoações na maioria não apresentem grandes desvios em relação às suas localizações reais. Contrariamente ao que era seguido nos mapas árabes (com o Sul para a parte superior) e na cartografia europeia a partir de meados do século XVI (com o Norte para cima), A. SECO orienta Portugal com o Ocidente para cima.

No mapa de 1662... desaparecem, na península da Arrábida, as representações gráficas bem destacadas de Sesimbra, Mosteiro da Deceda (não identificado) e Quinta Tauora (St.° António dos Capuchos — Caparica). (2)

Nas ruínas do convento de Santo António na Caparica
Alfredo Keil, óleo
Imagem: Rui Manuel Mesquita Mendes

Lourenço Pires de Távora mandou erguer, em 1558, o Convento dos Capuchos para alojar uma comunidade religiosa de frades arrábidos vinda da Quinta da Conceição, em Murfacém (Trafaria), onde ficaram durante mais de três séculos.

O crescimento da comunidade e a pobreza inicial do convento obrigaram a consecutivas obras de ampliação e beneficiação do edifício, com a reconstrução dos dormitórios (1618) e da própria capela, acrescida, em 1630, do coro alto e do alpendre.


Em março de 1834, o convento foi extinto por portaria do Duque de Bragança, possivelmente pelo alinhamento de parte da comunidade religiosa a favor dos absolutistas no contexto da guerra civil de 1832-34.

A extinção dos Capuchos marcou o início de uma etapa atribulada e ainda mal conhecida, que levou ao abandono do antigo Convento, à completa pilhagem do seu recheio e à gradual ruína do edifício.

Costa da Caparica - Convento dos Capuchos
Ed. Comissão Municipal de Turismo (fotografia original de Mário Novais)

Depois de passar pela posse de vários proprietários particulares, foi adquirido, em 1950, [e restaurado em 1952,] pela Câmara Municipal de Almada, que iniciou a sua requalificação em 2000. (3)

O declínio do convento coincide com a queda dos Távoras. A família Távora foi perseguida pelo Marquês de Pombal e os seus membros foram cruel e impiedosamente executados em 13 de Janeiro de 1759, sob a acusação de terem conspirado para assassinar o rei D. José I de Portugal.

Quando se procedeu ao seu restauro em 1952, foram colocados painéis de azulejo, que têm como tema os sermões de Santo António e o retábulo em talha oferecido pelo Director do Museu de Arte Antiga (Lisboa). (4)

Costa da Caparica, Almada, Convento dos Capuchos (após o restauro em 1952)
Ed. Passaporte, 32
Imagem: Fundação Portimagem


O alto dos Capuchos é o lugar no extremo poente da Vila Nova, muito perto perto da arriba da Costa de Caparica.

Costa da Caparica, Almada, Miradouro dos Capuchos e Caparica
Ed. Passaporte, 30

O lugar, que outrora era o "Outeiro do Funchal", colhe o seu nome dos franciscanos arrábidos conhecidos por "capuchos" para os quais foi construído o convento, em 1558 por Lourenço Pires de Távora, Senhor de Caparica, que reservou para si túmulo na igreja, em cripta agora vazia.

Contornando por Norte e Oeste o alto dos Capuchos passa o caminho que no Século XVIII é mencionado como "descida" e que era o acesso mais fácil às praias da Costa. (5) 

A Praia do Sol - Uma vista parcial. Subida para os "Capuchos".
Ed. Acção Bíblica/Casa da Bíblia, 110
Imagem: Fundação Portimagem


(1) BNP adquire exemplar do mais antigo mapa de Portugal (1561)
(2) O povoamento a sul do Tejo nos séculos XVI e XVII
(3) A história do Convento dos Capuchos em exposição, Câmara Municipal de Almada, Nota de imprensa, 19 de junho de 2013
(4) Convento dos Capuchos (Caparica), Wikipedia 
(5) Pereira de Sousa, R. H., Almada, Toponímia e História, Almada, Biblioteca Municipal, Câmara Municipal de Almada, 2003, 259 págs.