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quarta-feira, 18 de janeiro de 2023

Descida do Cabedelo

succedeo vir huns dos Saveiros sahindo da costa, que fica ao Sul da trafaria, a donde a dianados bosques, fabricou entre as margens do mesmo Tejo, e reconcavas daquellas penhas, huma celebre anceada, em que os ditos Saveiros vivem a mayor parte do anno aquartellados, em suas cabanas (...) (1)

Costa da Caparica, Descida (e Ponta) do Cabedelo, ed. desc., década de 1920.
Delcampe

Há 15 milhões de anos, deu-se a formação das rochas que constituem a arriba fóssil, sedimentos e fósseis de organismo marinhos, posteriormente a formação da camada superior, constituída por areias e cascalheiras de cor avermelhada. Nesta época a arriba era o limite do território, estava em contacto com a água (...)


Zee Caerte van Portugal Daer inne Begrepen de vermaerde Coopstadt van Lisbone (detail),
Lucas Janszoon Waghenaer, 1586.
Wildernis

A Ponta do Cabedelo, como o nome indica é uma “pequena elevação de areia, na foz de um rio, formada por acumulação de sedimentos fluviais e marinhos”, o que indica também que a Descida do Cabedelo foi outrora inundada por água (...)


El Atlas del Rey Planeta (detalhe), Pedro Teixeira, 1634
La descripción de España y de las costas y puertos de sus reinos

“Esta faixa litoral é preenchida exclusivamente por areias, pelo que até finais do século XlX a paisagem era dominada por dunas e juncais que ocupavam as zonas alagadas com água escorrente da arriba” (cf. Centro de Arqueologia de Almada, Actas do 1º Encontro sobre o Património de Almada e do Seixal, 2012)

Plano hydrographico da barra do porto de Lisboa (detalhe), Francisco M. Pereira da Silva, 1857.
Biblioteca Nacional de Portugal

No entanto denota-se o aparecimento do Convento dos Capuchos (1558) no lugar chamado de Outeiro o que significa “Pequena eminência de terra firme, pequeno monte ou coluna”, no cimo da Arriba que “ (...) mais a ocidente, em lugar recatado e isolado, lhes permitia o sossego necessário ao seu modo de vida.”, e no lugar da Descida do Cabedelo, próximo do Convento, é possível verificar uma linha de água bem demarcada que escorre da Arriba.

Arriba fóssil e Convento dos Capuchos, 1952.
Arquivo Municipal de Lisboa

A Descida do Cabedelo aparece como um rasgo na arriba fóssil, sem vestígios aparentes de água, no entanto quase todo o lugar tem a indicação de poços de água (...)

Costa da Caparica,  ed. Passaporte, 7, década de 1950.
Delcampe

Atualmente já é visível a estrada do Miradouro dos Capuchos que parte do Largo existente, em frente ao Convento dos Capuchos, já construída e que culmina num miradouro construído em cima do local onde foram encontrados vestígios arqueológicos, e que olha sobre a Costa da Caparica e Lisboa.

Costa da Caparica, vista tomada do Alto do Robalo, ed. desc.

Perpendicularmente a esta estrada, um caminho que tem como destino o lugar de um rádio-farol, tornando a Ponta do Cabedelo um lugar apenas de contemplação e manutenção de um rádio-farol existente. (2)


(1) Francisco Guevarz, Nova relação da batalha naval, que tiveram os algaravios com os saveiros nos mares, que confinão com o celebrado paiz da Trafaria, Catalumna, 1750)
(2) Mariana Ferreira Raposo, Entre o Mar e a Terra - Costa da Caparica
Paisagem de Transição: Percurso pedonal entre a Costa da Caparica e o Alto dos Capuchos, 2021


Artigos relacionados:
Arriba Fóssil
Costa do Mar
Mar da Calha
Terras da Costa
Cronologia do Convento dos Capuchos (Caparica)



Como de costume o objecto que se descreve neste apontamento já quase não existe. Creio que do cabedelo aqui referido, que atravessava o juncal misturando-se com a duna,  e do qual restou o escarpado, formaria ainda por 1750 uma enseada no mar... contra o mito que conta que o areal da Costa foi depositado pelo terramoto de 1755 e que antes deste não existiria, como há 15 milhões de anos.

Plano geral que representa a Costa do Mar entre Trafaria e Cabo Espichel (detalhe) de Jacob Crisóstomo Pretorius, datado de 22 de Abril de 1789.
Arquivo Histórico Militar, 3/47/AH-2/6 – nº 18468


Não são poucas as teses, relatórios e artigos que recorrem às anotações e imagens que, com origem em trabalhos precedentes de diversos autores, nestas referências ao longo do tempo venho reunindo e categorizando:

Mar de Caparica
Almada virtual
Eventualmente Lisboa e o Tejo

quarta-feira, 18 de maio de 2022

Costa do Mar

Alguns anos após a criação da Academia Real das Ciências de Lisboa, a carta de Portugal voltava a ser novamente assunto de discussão. Decidiu-se então o seu levantamento por comarcas, à semelhança da carta de França, e entregou-se a de Setúbal, aquela que se deveria tomar como exemplo, à responsabilidade de Jacob Crisóstomo Pretorius, coadjuvado por Henrique Niemeyer e por outros oficiais engenheiros.

Plano geral que representa a Costa do Mar entre Trafaria e Cabo Espichel (detalhe) de Jacob Crisóstomo Pretorius, datado de 22 de Abril de 1789.
Arquivo Histórico Militar, 3/47/AH-2/6 – nº 18468

Em 1789 propunha-se a medição de uma base geodésica a Sul de Lisboa, entre a Lagoa de Albufeira e a Trafaria, que não se concretizou, ao mesmo tempo que se executavam observações para a construção do esqueleto de base e se iniciavam separadamente os trabalhos topográficos (...)

Mas os desentendimentos com Pretorius, que não seria certamente a pessoa mais capaz para empreender tal tarefa, e as acusações da Academia pela demora dos trabalhos dos engenheiros, que poucos meses tinham ainda, acabariam certamente por ditar o fim da comissão. Serra diria então que "a Real Academia nos julgou pelos trabalhos do capitão Pretorius", cujo sistema era rápido mas "todo falso".

Plano geral que representa a Costa do Mar...
Jacob Crisóstomo Pretorius, 22 de Abril de 1789.
Arquivo Histórico Militar, 3/47/AH-2/6 – nº 18468
Plano Geral que representa a Costa do Mar entre Trafaria e Cabo Espichel, mostrando a sua Configuração, Praya; Medos, Aribas e Rochedos da Costa; indicando também na Linha encarnada a. c. b. n. z. a extensão do grande Rota de quatro legoas, que se há de medir por Toesas para a perfeição do Mappa Geográfico da Província,

por Praetorius,
22 de Abril 1789



E por aqui se ficou este projecto em 1790 (...) (1)


(1) Maria Helena Dias A odisseia da Carta Geral de Portugal, Lisboa, Instituto Geográfico do Exército, 2013

Artigos relacionados:
Quinta Távora e Mosteiro da deceda
Mar da Calha
O Juncal da Trafaria
Costa da Caparica — urbanismos
A Boca-do-Grilo
etc.

Leitura relacionada:
O Programa de Obras Públicas para o Território de Portugal Continental, 1789-1809 (I e II)

quarta-feira, 7 de dezembro de 2016

Mar da Calha

Na grande fortaleza de S. Julião, que cruza os seus fogos com a do Bugio, e nesta torre, marcando e limitando ambas as entradas do porto de Lisboa, estão montados os competentes pharoes.


Uma chalupa armada emergindo da foz do Tejo passado o Bugio, Thomas Buttersworth (1768 – 1842).
Imagem: Bonhams

O pharol da torre de S. Julião data de 1785, e é de luz fixa e branca, com o alcance de 12 milhas. E de 4.a ordem, tem próximo um posto semaphorico, e fica á latitude N. de 38° 42' 22" e á longitude W. de 9° 19' 27" de Greenwich.

A estação semaphorica communica-se com a estação central de Lisboa e com a torre do Bugio por meio de telephone.

Veleiros no Tejo junto ao Bugio, Carlos Ramires, 2014.
Imagem: Cabral Moncada Leilões

Na torre está estabelecido um posto de soccorro a náufragos.

A SW. da fortaleza ha uma restinga chamada ponta da Lage, a qual entra pelo mar dentro, descobrindo na baixa-mar, e que tem cerca de meia amarra de comprimento [1 amarra eq. 120 braças; 1 braça eq. 8 palmos, c. 1,76m].

Plano hydrographico da barra do porto de Lisboa (detalhe), Francisco M. Pereira da Silva, 1857.
Imagem: Biblioteca Nacional de Portugal

Quando, na entrada da barra, se enfia a guarita cylindrica de NE. da fortaleza com a parte leste da muralha da mesma fortaleza, é signal de estar passada a ponta da Lage, a que era mister dar resguardo, e pôde então a navegação seguir sem receio.

A torre do Bugio, ou fortaleza de S. Lourenço, é circular e levantou-se das aguas no século XVII, tendo desde 1755 montado um pharol, que é hoje de luz branca, fixa, com um clarão vermelho de 20'' em 20'', de 3.a ordem, e com o alcance de 15 milhas, illuminando 360°.

Bugio, Defesa maritima de Lisboa, gravura João Pedroso, Archivo Pittoresco, n 30, 1862.
Imagem: Hemeroteca Digital

Foi esta torre construída no logar da Cabeça Secca, separada da torre pela golada do Sul, ou do Bugio, que só dá passagem a pequenas embarcações. O seu apparelho dioptrieo está 26 metros acima do nivel do mar, na latitude N. de 38° 39' 31" e na longitude W. do 9° 17' 52" de Greenwich.

São estas luzes de capital importância para a navegação que demande o porto de Lisboa.

Desde este ponto continua a costa para o S. em uma larga curvatura, e é formada por um extenso areal, e limitada ao longe pela serra da Arrábida e de S. Luiz, que se estende para ENE. do cabo Espichel, e que termina no pico do Formozinho, 500 metros acima do mar.

Linha de costa da Torre do Bugio ao Cabo Espichel (fotomontagem).
Observam-se as elevações moinhos do Chibata, Monte Córdova (Serra de S. Luís) e Serra da Arrábida, conforme descrito no Plano hydrographico da barra do porto de Lisboa, Francisco Maria Pereira da Silva, 1857.
Imagem: AVM

Na serra de S. Luiz, o pico mais elevado é o Monte Córdova, que se apresenta de forma circular, quando é enfiado pela torre do Bugio.

No extremo mais occidental de terra, a partir do Bico da Calha, que é a ponta de areal em que termina a margem esquerda do Tejo, depara se primeiro, a 2 milhas para o S., o forte da Vigia, a 850 metros, e por E. 4 3/4 SE. do Bugio o reducto de Alpena [...]

Fragata HMS Lancaster (F229) na foz do Tejo.
Observam-se em 2° plano a Cova do Vapor e a rebentação das ondas fora da barra.
Imagem: Barcos no Tejo

Barra de Lisboa — A entrada do Tejo fica situada entre as torres de S. Julião e do Bugio, que distam 2:750 metros uma da outra, e entre o Bugio e o Bico da Calha, ou ponta do cabedelo do S. 

Dois grandes bancos se prolongam para o mar na direcção geral de NE.-SW., que se denominam Cachopo do N. e Cachopo do S., ou Alpeidão. 

Formam estes cachopos dois canaes, o do N., ou corredor do N., que fica entre o cachopo do N. e a torre de S. Julião da Barra, e o do S., ou Barra Grande, que fica entre os dois cachopos indicados.

Alem d'estes canaes ha um outro, estreito, pouco fundo e variável em planta, chamado Golada, entre a torre do Bugio e a terra.

O cachopo do N. estende-se naquelle rumo por 5:500 a 6:500 metros. 

O do S. é formado da cabeça do Pato, das coroas de Santa Catharina e do cachopo propriamente dito.

Sobre a primeira parte ha peio menos 10 a 12 metros de agua.

As coroas de Santa Catharina ficam entre a cabeça do cachopo e a do Pato. 

Este cachopo do S., ou Alpeidão. na extensão proximamente de 5:500 metros, é um banco de areia, que descobre em baixa-mar em diversos logares.

O banco, ou barra que liga os extremos dos cachopos pelo W., fica entre a cabeça do Pato e o Espigão, na máxima largura de 3:700 metros, e forma grande escarcéu com ventos do quadrante do SW., levantando ás vezes um rolo do mar, ou arrebentação, que fecha de um lado ao outro o canal da barra e offerece nessas occasiões perigo em arrostar com elle.


Esta barra é descripta pelo distincto hydrographo e geographo Franzini, no seu Roteiro das costas de Portugal, publicado em 1812, nos seguintes termos:
"A barra de Lisboa (a melhor e única da costa de Portugal, que admitte em todos os tempos a entrada dos maiores navios), é formada pelos baixos seguintes:

A S. 35° O. da fortaleza de S. Julião, na distancia de 280 braças, está situado o extremo NE. de um baixo de pedra, a que chamam o Dente do Cachopo cujo baixo se prolonga 2 milhas e 3 décimos a S. 65° O. com pouco fundo, tendo umas 300 varas de largura, e sobre o qual rebenta o mar, quando é agitado pelos ventos do 3.° e 4.° quadrantes.

Chamam Barra pequena, ou Corredor, o canal que fica entre o sobredito Cachopo e a costa do N., o qual tem sempre desde 8 até 10 braças de fundo na baixa-mar.


Plano hydrográfico do Porto de Lisboa e costa adjacente até ao cabo da Roca,
Marino Miguel Franzini, 1806.
Imagem: GEAEM Instituto Geográfico do Exército

Uma milha a SO. do extremo occidental d'este cachopo, e quasi N.-S. com a fortaleza de Santo António da Barra, está a Cabeça do Pato, que é um baixo-fundo, no qual se não encontra menos de 6 a 7 braças de agua em baixa-mar; mas que não obstante se deve evitar, especialmente em tempos borrascosos, podendo acontecer que na descida de uma grande vaga cheguem a tocar nelle as embarcações, que demandam muita agua.

Ao S. 55° E. de S. Julião, na distancia de uma milha e 4 décimos, está a Torre do Bugio, formada por dois corpos circulares concêntricos, no meio dos quaes se eleva uma pequena torre em que está o pharol, na altura de 63 pés.

Os dois recintos são edificados sobre um baixo de areia muito extenso, que se cobre no prea-mar, deixando a torre perfeitamente ilhada.

O dito baixo, ou Cachopo do Sul, denominado também da Alcáçova, ou Alpeidão, prolonga-se 2 milhas ao SO., e forma o do Norte, um grande canal, a que chamam a Barra Grande, cuja menor largura é de uma milha e um decimo, com 10 a 18 braças de bom fundo, a não ser perto dos dois mencionados cachopos, em que só ha 6 ou 7 braças, as quaes diminuem de repente.

A frota francesa commandada por Roussin força a entrada do Tejo, Pierre-Julien Gilbert, 1837.
Imagem: Fortificações da foz do Tejo

A torre do Bugio deve considerar-se como o extremo SO. do Rio Tejo, por que ainda existe, entre ella e a costa da Trafaria, um pequeno canal (que sempre conserva alguma profundidade, e cuja direcção soffre muitas alteracoes); comtudo, é tão estreito, que na baixa-mar quasi se juntam as areias da costa com as do baixo, formando uma vasta praia, até a sobredita torre.

Este grande baixo forma uma semelhança de enseada aberta ao 3., na qual se acham 5 a 7 braças de fundo.

Estes dois cachopos podem considerar-se reunidos por uma espécie de banco, situado 3 milhas e meia ao SO. das torres de S. Julião e Bugio, o qual corre em direcção perpendicular á barra; porem, como o seu menor fundo é de 8 para 9 braças, segue-se que qualquer embarcação poderá navegar afoitamente por elle em todas as circunstancias.

Logo para dentro d'este banco cresce o fundo regularmente de 15 até 20 braças, que conserva pelo meio da mesma barra".

Esta descripção, muito precisa e exacta, é perfeitamente applicavel á actualidade, em que a profundidade da barra e a disposição dos canaes e dos bancos submarinos teem sido modificadas muito pouco, como terei occasião de mostrar [...]

Costa da Caparica, Bairro de Santo António e Foz do Tejo, ed. Passaporte, 2, década de 1960.
Imagem: Delcampe, Oliveira

Na margem esquerda do Tejo, que principia na ponta da costa, ou bico da Calha, existe um grupo de pedras, conhecido pelo nome de Calhaus do Mar, que fica a duas e meia amarras do areal da Trafaria, que é uma povoação de pescadores, hoje muito concorrida na época balnear.

Trafaria — Vista geral da praia, ed. J. Quirino Rocha, 06, década de 1900.
Imagem: Delcampe

O seu bello areal estende-se até o bico da Calha, continuando para o S. na costa oceânica.


(1) Loureiro, Adolfo, Os portos maritimos de Portugal e ilhas adjacentes, Vol III parte 1, Lisboa, Imprensa Nacional, 1906

Leitura relacionada:
Erosion policy options for the Costa da Caparica

quarta-feira, 31 de agosto de 2016

A Boca-do-Grilo

A rocha estava já em frente — paredão barrento, alcantilado, com ladeira aberta por milhentas chuvas, escavadas por pés teimosos do mesmo trilho.

Variante à Estrada Nacional 377 (detalhe), zona da Boca do Grilo.
Imagem: Arquivo Municipal de Lisboa

Ladeada de afusados eucaliptos, a estrada de asfalto torcia para a direita, arrastando depois o caminhante a desmedido ziguezague.

A Praia do Sol - Uma vista parcial. Subida para os "Capuchos", ed. Acção Bíblica/Casa da Bíblia, 110.
Imagem: Fundação Portimagem

Por isso, elas optavam sempre pelo caminho de cabras da Boca-do-Grilo, ladeira íngreme e pedregosa como o Inferno — mas, em quatro arrancos, punham-se lá em cima. (1)

Costa da Caparica, Carta dos Arredores de Lisboa — 68 (detalhe), Corpo do Estado Maior, 1902
Imagem: IGeoE

Com a sardinha, empilhada,
Inda saltando vivaz,
Vem de cestinha avergada;
E lá de baixo, da praia,

Costa da Caparica, Alfredo Keil (1851 - 1907).
Imagem: Palácio do Correio Velho

E sobe a pino o almaraz;

Sentinelas ou Guardas avançadas, Caparica, Falcão Trigoso, 1935.
Imagem: Palácio do Correio Velho

Mas nem por sombras cançada! (2)


(1) Romeu Correia, Calamento, Lisboa, Editorial Minerva, 1950.
(2) Bulhão Pato, Livro do Monte, georgicas, lyricas, 1896, Typographia da Academia, Lisboa.

terça-feira, 12 de julho de 2016

A Fonte da Telha

As acácias em flor formam um mar doirado ao lado do outro mar... daí para o sul, é uma cadeia de pontos pitorescos onde podem estabelecer-se novos núcleos de população ou onde quem queira pode isolar-se em maravilhosos recortes de paisagem.

Fonte da Telha, 2006.
Imagem: wikimapia

Descida do Robalo, Foz do Rêgo, Descida dos Carrascalhinhos, Descida das Vacas. etc.. etc.. etc.. até ao paraíso — a Fonte da Telha — sem dúvida a praia ideal. o melhor que pode haver, — porque não pode haver melhor em parte alguma do mundo...

Fonte da Telha, Carta dos Arredores de Lisboa — 75 (detalhe), Corpo do Estado Maior, 1903.
Imagem: IGeoE

Dai para o sul, ainda poderia continuar a peregrinação: Blunete, Mina do Ouro, Balcões, a Malha Negra, Olhos de Água, a Lagôa...

Mas a Fonte da Telha é o paraiso. Na rocha, a 200 metros de altura, pinhal cerrado, secular, a tôda a extensão norte e sul; a rocha descai em declive suave a conduzir à praia, ali, pertinho a 100 ou 150 metros de distância. Águas medicinais, férreas, bicarbonatadas e doutras mineralizações. Riqueza de peixe.

Fonte da Telha, Dois barcos, História pela imagem dos barcos na Costa de Caparica, Cruz Louro, 1971.
Imagem: Cruz Louro

Umas dezenas de barracas de pescadores subindo o declive. A Fonfe da Telha é alguma coisa de extraordinàriamenie belo e salutar. Vive-se ali entre o mar e os pinheiros. São unânimes todas as opiniões: não há, não pode haver melhor.

Estará, relativamenie a transportes e a comodidades, semelhante ao que a Praia do Sol era há uma dúzia de anos. Quando a Praia do Sol fôr como Espinho, a Fonte da Telha será como a Granja. 

Centro Turístico Internacional da Costa, separata do Jornal de Almada, 1968.
Imagem: Sesimbra identidade e memória

Entretanto, quem apreciava a rusticidade primiliva da Costa e lamenta agora a invasão do progresso, da concorrência tumultuária, tem ali e terá ainda durante muitos anos, vastissimo campo de isolamento.

A Fonte da Telha (Costa da Caparica, Praia do Sol), Cruz Louro, 1937.
Imagem: Cruz Louro

Ali, sim. Param as coisas da terra — é o paraíso. (1)


(1) Praia do Sol (Caparica): estância balnear de cura, repouso e turismo, 1934, M. Costa Ramalho, Lisboa.

segunda-feira, 20 de junho de 2016

O Juncal da Trafaria

O dia oito de setembro era o escolhido por Bulhão Pato para a abertura das suas caçadas do inverno no sul do Tejo, e o sitio preferido o Juncal da Trafaria. (1)

Trafaria, c. 1900.
Imagem: Delcampe

Aquella charneca do Juncal, descoberta, erma e agreste, onde, no verão, dardeja o sol implacável, e no inverno sopra o sudoeste, ouvindo-se ao longe o rolar das ondas, é uma paizagem profundamente triste, mas que não deixa de ter encantos. A solidão do deserto está alli, fronteira e contraposta ao bulicio da cidade !

A maré era boa, e aproámos ao Torrão, evitando o fadigoso transito pelo areal.

Costa da Caparica, passeio de barco, embarcação Zinha, 1922.
Imagem: Arquivo Municipal de Lisboa

Um areal enorme, cortado de pequenos médãos, coberto duma alta, espessa, e hirta vegetação de juncos verde-negros, entresachados de raras moitas de joina. Arvores ... apenas algumas figueiras na horta do Miranda, á beira do rio! Isto e uns canteiros de morangos, eram os únicos signaes da vida vegetativa, naquelle chão árido e inhospito! A vinha, que elle alli plantara, agonisava, rasteira, enfesada e rachitica.

Plano hydrographico da barra do porto de Lisboa (detalhe), Francisco M. Pereira da Silva, 1857.
Imagem: Biblioteca Nacional de Portugal

A gente pouca, pallida, anémica, dizimada de continuo pelas febres. As aguas do inverno, estagnadas em charcos, tornados paúes, fermentando-as o sol ardente da canicula, evolavam de si miasmas mortaes, que o vento não varria, e que não poupavam nem as creanças, nem os adultos.

Em dias de sol, com o ar parado, aquelle ermo descampado é uma amostra da paizagem africana  ! Ao fundo, para o lado do Oceano, as cabanas de colmo dos pescadores, baixas e negras, e perto d'ellas a capellinha branca; defronte o cemitério, com os cyprestes esguios, balouçando — como nós — entre a vida e a morte ; á esquerda o Monte — árida rocha a pique, com o seu aspecto de fortaleza ; á direita a praia e o mar ...

Nada mais triste! Um dia, em que lá fiquei, ouvindo, ao sol posto, o toque das Ave-Marias, deu em mim tal melancolia, que desatei a chorar!

Não era ameno o sitio, tampouco o foi, em tempos, a fama dos seus moradores.

— Anda fugido na Costa — era uma phrase corrente na boca do povo, quando se falava de algum criminoso façanhudo, que desapparecera de Lisboa.

Transposto o Tejo, ladrões e assassinos alli se acoitavam e escondiam nas companhas dos barcos de pesca. Assim escapavam no mar aos quadrilheiros de Lisboa, quando lá iam perseguil-os. Uma visita da justiça á Costa — quando a policia estava longe de ser o que é hoje — era uma expedição arriscada, e quasi sempre inútil.

A civilização já lá chegou, e, se não mudou a natureza, mudaram os costumes. Ainda assim não podemos dizer que reina alli sempre uma paz octaviana. Um dia, logo depois de saírem de lá os nossos amigos, um homem, chamado Damião, foi esfaqueado.

A casa da sr.a Maria do Adrião — o nosso hotel — era respeitada, e nós, saindo de lá, não faziamos detença na povoação.

O poeta, installado no seu quartel general venatorio, em casa da sr.a Maria do Adrião, na Costa, havendo caça e dias amenos, deixava-se lá ficar, até que algum sudoeste bravio, dos que costumam açoitar aquella planície d'areia, o forçava a levantar vôo e recolher aos abrigos da cidade [...]

Retrato do poeta Raimundo Bulhão Pato,
Miguel Angelo Lupi, C. 1880
Imagem: ComJeitoeArte

Voltara o silencio áquclles logares. A nuvem negra, que de repente surgiu, a turvar-nos a limpida atmosphera daquelle formoso dia, desapparecera, varrida pela voz do poeta.

Dalli a pouco estávamos todos reunidos na casa de jantar da sr.a Maria do Adrião. Ao lado, na sala, de paredes estucadas, e tecto com relevos — uma surpresa para nós aquella restauração — a menina Gazimira extrahia das gavetas das suas bellas commodas de polimento, e mostrava ingenuamente ás senhoras, as riquezas e os primores da sua guardaroupa — chalés, vestidos de cores garridas, saias com rendas finas, camisas bordadas, lenços de seda de ramagens, que tão bem ficam, e tanto realce dam áquelles rostos campesinos, já illuminados de tons quentes pelo ar do campo e pelo sol.

Uma figura gothica — esta menina Gazimira. Alta e delgada de corpo, nem pallida, nem corada, a voz d"um timbre algo dorido, avara de palavras, os olhos sempre postos no chão, e um não sei que de triste e enigmático, davam-me a impressão de quem não anda satisfeito cá na terra...

Estas figuras, quando teem uma plástica individual, e caracteristica, por apagada que seja nellas a expressão da vida, são, como as estatuas, suggestivas.

Imprimem-se indeléveis na memoria, e entram na galeria do nosso mundo interior. E com estas imagens, cujos contornos o tempo vae esbatendo, que os artistas e os poetas compõem os seus quadros, os seus romances, e os seus poemas.

Vanidade ou vaidade, Hans Memling,
Musée des Beaux-Arts de Strasbourg, c. 1485.
Imagem: Wikipédia

Aquella donzella, serena e silenciosa, recortava-se alli, aos meus olhos — destacando do discorde scenario, e parecia ter saído d'algum velho painel flamengo, de Van Eyck ou de Memling — interior de cathedral gothica, ou comitiva castellã, em caçada fidalga, com pagens, lebreus e falcões [...]  

Os pescadores, pobre gente, quando ha peixe andam na sua faina ; quando elle falta vêem-se á porta das choças, ou na praia, olhando, tristes e sombrios, para o mar alto. E d'alli que lhes vem a ventura e a desgraça. Aquella vida, que para nós tem uma grande poesia, traz-lhes sempre deante dos olhos duas sombras negras — a fome em terra, quando escasseia o peixe, e a morte, quando os surprehende o vendaval !


Praia do Sol, Caparica, ed. José Nunes da Silva, s/n
Imagem: Delcampe, Bosspostcard




Sérios e concentrados, mantinham um discreto silencio, quando appareciam onde nós estávamos. Com os rostos semi-occultos, os gabões caídos em largas pregas, tinham um quer que de sombras, movendo-se lentamente naquelle fúnebre scenario.

A nota alegre, única, mas esta vivíssima, eram as creanças. Essas, sim, que vinham sempre visitar-nos. Nós, para elles, éramos a novidade — com os nossos trajos, armas, e perdigueiros. Elles — o bando buliçoso, saltão e gárrulo — corriam para nós, cheios de pittoresco e de vida. Uns de gabõesitos pardos outros de camisolas riscadas, brancas, azues, vermelhas ; alguns semi-nús, mostrando pelos rasgões da fato a pelle trigueira, com os seus tons fulvos ; todos descalços; os cabellos, pretos, loiros, arruivados, crespos e revoltos ; queimados os rostinhos pelo sol, e crestados pelo nordeste.

Costa da Caparica, crianças brincando na praia.
Imagem: Carlos Caria

Algum, mais atrevido, colleava, lenta e sorrateiramente, até á casa do jantar ; os outros miravamnos de longe por entre as portas, com os olhos vivos, esperando a saída. Poderia a vista satisfazer-lhes a curiosidade, mas nós, a este prazer, puramente óptico, ajuntávamos alguma coisa mais tangível.

Os primeiros a receber os nossos dons eram os mais velhos, os que nos tinham prestado algum serviço, que elles, no acto, não se esqueciam de allegar. A esta distribuição seguia-se outra, que era geral. Atirávamos para o monte.

Tinha que ver então ! O bando precipitava-se, ávido e furioso, sobre as mealhas esparsas na arêa. Era uma confusão vivíssima de corpos ás rebatinhas, de cabecitas resfolegantes e afogueadas, de mãos aduncas, luctando, qual de baixo, qual de cima, pela posse do metal. Aqui e alli, d'entre a revolta mole, erguiam-se alguns, cheios de alegria e de poeira, mostrando orgulhosos o premio da lucta. E ella repetia-se, se um olho mais agudo descobria no chão algum cobre, que aos outros escapara.

Depois os vencedores dispersavam. Alguns, raros, paravam nos limites da povoação, levando as mãos aos barretes ; outros iam-se logo, retouçando, aos pulos, pelo areal. Mas alguns ainda nos acompanhavam. Não era o amor, nem a gratidão ...

Costa da Caparica, crianças filhas de pescadores, 1938.
Imagem: Arquivo Nacional Torre do Tombo

Não tinham apanhado nada, e vinham lastimando-se, até que alguma alma, impaciente ou apiedada repartia com elles os últimos miúdos. Um vintém para cinco, dez réis para três ... Contas difficeis de fazer, mas que elles lá resolviam com a sua arithmetica de pequeninos.

Eram os prémios de consolação.

Com titulos bastantes para ser procurado pelos mestres da venatoria, não os tinha eguaes este sitio para ser frequentado por senhoras. Quem alli as levava, não era a fama das amenidades do logar, éramos nós, os caçadores, auxiliados por um certo estimulo artístico, o da curiosidade do contraste — ver a povoação dos pescadores, com as suas casas de colmo, armadas sobre os barcos!

Bellas Artes, 16, Costa de Caparica, A. Roque Gameiro, Paulo Emílio Guedes & Saraiva.
Imagem: Delcampe

Um trecho da Africa, á vista, e a dois passos de Lisboa !

Bellas Artes, 15, Costa de Caparica, A. Roque Gameiro, Paulo Emílio Guedes & Saraiva.
Imagem: Delcampe

Das classes populares também alguns alli iam fazer as suas ágapes campestres. Mas essas, não raro, tinham um epilogo cómico, quando não trágico. Vinho quasi sempre, e, ás vezes, sangue. Casas de cal e arêa havia lá então duas ou três. Na parede exterior d'uma d'ellas lia-se uma inscripção, em grossas lettras d'almagre, commemorando que a modesta vivenda fora honrada, tal dia, por um rei nosso. Se bem me recordo, foi D. João VI. E também me mostraram o tinteiro de faiança nacional, pintalgado de amarello, vermelho e verde — tons crus — de que elle se serviu para escrever ou assignar não me lembro o que.

Este sertão, inhospito para gente civilisada, foi, durante muitos annos, talvez pelo seu estado de natureza primitiva, um paraiso para os caçadores! Um completo mattagal, alto, denso, e espinhoso. Invernos havia, porém, abençoados, em que parecia ter-se alli aberto a arca de Noé! A caça de arribação em bandos! 

Uma d'essas gravuras — tirada da Chasse illustrée de 1867 — e que está deante de mim, traz-me viva á lembrança, com todos os seus episódios, uma das melhores caçadas que fizemos [...]
Imagem: Fédération Cynologique Internationale

Eram abibes, tarambolas, narcejas, patos, maçaricos reaes, gallinhas d'agua, borrelhos, toirões, codornizes, e depois lebres, e até gallinholas e perdizes, que desciam do monte — tudo com o seu acompanhamento de aves carniceiras, corvos, grifos e milhafres !

Trafaria, Vista dos Moinhos, ed. Manuel Henriques, década de 1900.
Imagem: Fundação Portimagem

Quando Bulhão Pato começou a frequental-o com os seus amigos, ainda o Juncal era isto. Hoje lembra o "locus ubi Troja fuit" ... Aqui foi o Juncal ! ... (2)

Trafaria, Vista dos Moinhos, ed. Manuel Henriques, 08, década de 1900.
Imagem: Delcampe


(1) Francisco Zacharias d'Aça, Caçadas portuguezas: paizagens, figuras do campo, Lisboa, Secção Editorial da Companhia Nacional Editora, 1898
(2) idem

sexta-feira, 17 de junho de 2016

Costa da Caparica — urbanismos

Uma magnífica praia de fina areia estende-se sobre mais de 25 quilómetros, ao longo da costa Oeste do concelho e até ao Cabo Espichel. 

Plan du Port de Lisbonne et de ses Costes Voisinnes (detalhe), Jacques Nicolas Bellin, 1756.
Imagem: Bibliothèque nationale de France

É a melhor praia dos arredores de Lisboa e tem a vantagem de ser voltada para o Oceano. 

A água do mar é aqui muito mais pura do que nas outras praias próximas da capital.

Foi nesta costa que se formou a primitiva aldeia chamada "Costa de Caparica".

Do lado Norte, esta localidade está ladeada por uma grande mata nacional, que é continuada pela mata da Sociedade do Fabrico dos Explosivos e por uma outra que se estende sobre as encostas da Trafaria, que pertence ao Ministério da Guerra. 

É a mata mais acessível para os habitantes de Lisboa.

Estes dois elementos (praia e mata) e o preço relativamente reduzido da travessia do Tejo fizeram o grande êxito da Costa de Caparica, que não era, há dez ou doze anos, senão um agrupamento de barracas de pescadores e veio a ser uma estação balnear muito frequentada.

Infelizmente, o êxito fez também a desgraça da "Praia do Sol": construiu-se muito e sem qualquer plano previamente estabelecido ou qualquer fiscalização. 

Costa de Caparica, Praia Atlântico.
Pormenor de Solução Urbanística, Cassiano Branco, Arquitecto, 1930.
Imagem: Arquivo Municipal de Lisboa

Veio a ser uma aglomeração totalmente contrária a todos os bons princípios. As ruas são inumeráveis e não calcetadas, as casas são minúsculas, empilhadas uma ao pé da outra, sem espaço à volta de si e com uma distribuição interior feita sem a mínima compreensão.

Costa da Caparica, vista aérea, 1930 — 1932.
Imagem: Arquivo Municipal de Lisboa

Não há um só jardim, nem mesmo uma só árvore que pudesse refrescar esta densa acumulação de casas sobreaquecidas pelo sol ardente. (Mas temos de notar que nos raros pontos onde árvores foram plantadas, estas rapidamente se desenvolvem).

Costa da Caparica, vista aérea, 1930 — 1932.
Imagem: Arquivo Municipal de Lisboa

Aqueles que empreenderam a realização do desenvolvimento desta localidade não perceberam que de tal forma não se atingiam resultados duradouros.

Os fregueses, se eles tiverem a escolha, não quererão continuar a vir alojar-se em casas desprovidas de conforto, sem qualquer jardim, e que se alugam excessivamente caro.

A construção de um bairro balnear moderno, ao lado da aglomeração actual, talvez seja a única maneira a adoptar para obrigar os especuladores a reflectir um pouco sobre o que eles fizeram. 

Seria mesmo muito bom fazer-lhes concorrência (como preconiza o meu associado, o Sr. Arquitecto J. G. Faria da Costa) pela urbanização de outros cantinhos nesta praia, um pouco mais afastados, é verdade, (como a Fonte da Telha), mas cuja situação é ainda mais bonita do que a da Costa de Caparica. 

Centro Turístico Internacional da Costa, separata do Jornal de Almada, 1968.
Imagem: Sesimbra identidade e memória

Bastaria construir até eles uma estrada de circulação rápida e organizar transportes económicos.

A aglomeração da Costa de Caparica está disposta com um certo afastamento do mar e está separada deste por uma duna, parcialmente artificial. 

A beira da água mais próxima fica cerca de 330 metros das casas. 

Portanto, esta praia de areia tem uma largura um pouco excessiva para os banhistas, cansados pelo sol e pelos seus banhos, sobretudo nos dias de grande calor. 

Fonte da Telha, 2006.
Imagem: wikimapia

Por vezes, no fim da tarde, o caminho que eles têm de [sic] percorrer torna-se ainda mais desagradável, por causa do vento do Norte que varre a praia lateralmente e levanta cegantes turbilhões de areia.

Derivado [sic] a isso, o meu associado concebeu o projecto de avançar as construções até à beira da água.

Plano de Urbanização da Costa da Caparica, Faria da Costa, 1947.
Imagem: Fundação Calouste Gulbenkian

O futuro da Praia do Sol reside no seu arranjo turístico e não na pesca, que não dá ganhos suficientes. 

Os aborígenes deveriam exercer profissões ligadas com o serviço da população flutuante, visto haver neste sítio a possibilidade não só de desenvolver a localidade como praia de Verão, mas também como estação de Inverno.

Nesta eventualidade, a Costa de Caparica deve adquirir um carácter de arranjo mais cuidado e de maior conforto, de que carece muito menos uma estação de banhos de mar. (1)

Costa da Caparica, praias urbanas Costa Polis, 2009.
Imagem: Programa Polis

A intervenção do Programa Polis na Costa de Caparica abrange uma área de aproximadamente 650 ha, compreendendo a frente atlântica de praias entre a Praia do Norte e a Praia da Bela Vista, a frente urbana e zona rural a nascente do centro urbano, a área das dunas sul entre o centro e a foz do Rego bem como uma zona de matas localizada a nascente da Fonte da Telha.

A intervenção compreende a remodelação do actual paredão e a requalificação do espaço público na frente de praias entre a Praia do Norte e a Nova Praia; a criação de áreas de lazer equipadas; a relocalização e construção de novos apoios de praia e instalações de apoio à pesca; o prolongamento da actual avenida marginal (Humberto Delgado) e a construção de estacionamentos de apoio à frente de praias. 

E ainda a reabilitação das obras de defesa costeira e de alimentação artificial das praias com o objectivo de proteger o centro da Costa de Caparica e aumentar a capacidade destas praias, em estreita articulação com [...]

in Programa Polis, Costa da Caparica, Plano Estratégico


(1) Gröer, Etienne de, Plano de Urbanização do Concelho de Almada, PUCA, Análise e Programa, Relatório, 1946, mencionado em Anais de Almada, 7-8 (2004-2005), pp. 151-236.

Leitura adicional:
Contributos para uma História do Ir à Praia em Portugal
A caminho de um novo paradigma de praia: a Costa da Caparica nos anos 1920-1970