sexta-feira, 17 de junho de 2016

Costa da Caparica — urbanismos

Uma magnífica praia de fina areia estende-se sobre mais de 25 quilómetros, ao longo da costa Oeste do concelho e até ao Cabo Espichel. 

Plan du Port de Lisbonne et de ses Costes Voisinnes (detalhe), Jacques Nicolas Bellin, 1756.
Imagem: Bibliothèque nationale de France

É a melhor praia dos arredores de Lisboa e tem a vantagem de ser voltada para o Oceano. 

A água do mar é aqui muito mais pura do que nas outras praias próximas da capital.

Foi nesta costa que se formou a primitiva aldeia chamada "Costa de Caparica".

Do lado Norte, esta localidade está ladeada por uma grande mata nacional, que é continuada pela mata da Sociedade do Fabrico dos Explosivos e por uma outra que se estende sobre as encostas da Trafaria, que pertence ao Ministério da Guerra. 

É a mata mais acessível para os habitantes de Lisboa.

Estes dois elementos (praia e mata) e o preço relativamente reduzido da travessia do Tejo fizeram o grande êxito da Costa de Caparica, que não era, há dez ou doze anos, senão um agrupamento de barracas de pescadores e veio a ser uma estação balnear muito frequentada.

Infelizmente, o êxito fez também a desgraça da "Praia do Sol": construiu-se muito e sem qualquer plano previamente estabelecido ou qualquer fiscalização. 

Costa de Caparica, Praia Atlântico.
Pormenor de Solução Urbanística, Cassiano Branco, Arquitecto, 1930.
Imagem: Arquivo Municipal de Lisboa

Veio a ser uma aglomeração totalmente contrária a todos os bons princípios. As ruas são inumeráveis e não calcetadas, as casas são minúsculas, empilhadas uma ao pé da outra, sem espaço à volta de si e com uma distribuição interior feita sem a mínima compreensão.

Costa da Caparica, vista aérea, 1930 — 1932.
Imagem: Arquivo Municipal de Lisboa

Não há um só jardim, nem mesmo uma só árvore que pudesse refrescar esta densa acumulação de casas sobreaquecidas pelo sol ardente. (Mas temos de notar que nos raros pontos onde árvores foram plantadas, estas rapidamente se desenvolvem).

Costa da Caparica, vista aérea, 1930 — 1932.
Imagem: Arquivo Municipal de Lisboa

Aqueles que empreenderam a realização do desenvolvimento desta localidade não perceberam que de tal forma não se atingiam resultados duradouros.

Os fregueses, se eles tiverem a escolha, não quererão continuar a vir alojar-se em casas desprovidas de conforto, sem qualquer jardim, e que se alugam excessivamente caro.

A construção de um bairro balnear moderno, ao lado da aglomeração actual, talvez seja a única maneira a adoptar para obrigar os especuladores a reflectir um pouco sobre o que eles fizeram. 

Seria mesmo muito bom fazer-lhes concorrência (como preconiza o meu associado, o Sr. Arquitecto J. G. Faria da Costa) pela urbanização de outros cantinhos nesta praia, um pouco mais afastados, é verdade, (como a Fonte da Telha), mas cuja situação é ainda mais bonita do que a da Costa de Caparica. 

Centro Turístico Internacional da Costa, separata do Jornal de Almada, 1968.
Imagem: Sesimbra identidade e memória

Bastaria construir até eles uma estrada de circulação rápida e organizar transportes económicos.

A aglomeração da Costa de Caparica está disposta com um certo afastamento do mar e está separada deste por uma duna, parcialmente artificial. 

A beira da água mais próxima fica cerca de 330 metros das casas. 

Portanto, esta praia de areia tem uma largura um pouco excessiva para os banhistas, cansados pelo sol e pelos seus banhos, sobretudo nos dias de grande calor. 

Fonte da Telha, 2006.
Imagem: wikimapia

Por vezes, no fim da tarde, o caminho que eles têm de [sic] percorrer torna-se ainda mais desagradável, por causa do vento do Norte que varre a praia lateralmente e levanta cegantes turbilhões de areia.

Derivado [sic] a isso, o meu associado concebeu o projecto de avançar as construções até à beira da água.

Plano de Urbanização da Costa da Caparica, Faria da Costa, 1947.
Imagem: Fundação Calouste Gulbenkian

O futuro da Praia do Sol reside no seu arranjo turístico e não na pesca, que não dá ganhos suficientes. 

Os aborígenes deveriam exercer profissões ligadas com o serviço da população flutuante, visto haver neste sítio a possibilidade não só de desenvolver a localidade como praia de Verão, mas também como estação de Inverno.

Nesta eventualidade, a Costa de Caparica deve adquirir um carácter de arranjo mais cuidado e de maior conforto, de que carece muito menos uma estação de banhos de mar. (1)

Costa da Caparica, praias urbanas Costa Polis, 2009.
Imagem: Programa Polis

A intervenção do Programa Polis na Costa de Caparica abrange uma área de aproximadamente 650 ha, compreendendo a frente atlântica de praias entre a Praia do Norte e a Praia da Bela Vista, a frente urbana e zona rural a nascente do centro urbano, a área das dunas sul entre o centro e a foz do Rego bem como uma zona de matas localizada a nascente da Fonte da Telha.

A intervenção compreende a remodelação do actual paredão e a requalificação do espaço público na frente de praias entre a Praia do Norte e a Nova Praia; a criação de áreas de lazer equipadas; a relocalização e construção de novos apoios de praia e instalações de apoio à pesca; o prolongamento da actual avenida marginal (Humberto Delgado) e a construção de estacionamentos de apoio à frente de praias. 

E ainda a reabilitação das obras de defesa costeira e de alimentação artificial das praias com o objectivo de proteger o centro da Costa de Caparica e aumentar a capacidade destas praias, em estreita articulação com [...]

in Programa Polis, Costa da Caparica, Plano Estratégico


(1) Gröer, Etienne de, Plano de Urbanização do Concelho de Almada, PUCA, Análise e Programa, Relatório, 1946, mencionado em Anais de Almada, 7-8 (2004-2005), pp. 151-236.

Leitura adicional:
Contributos para uma História do Ir à Praia em Portugal
A caminho de um novo paradigma de praia: a Costa da Caparica nos anos 1920-1970

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