terça-feira, 26 de dezembro de 2017

José Manuel Soares, pintor e ilustrador

José Manuel Soares [† 31 de dezembro de 2017] nasceu em São Teotónio, Odemira, a 7 de Setembro de 1932. Muito jovem ainda, com 10 anos de idade, logo mostrou vocação para o desenho e para a pintura, inspirando-se nos mestres ingleses da aguarela.

Picagalo, Meia-Lua (embarcação tradicional da Costa da Caparica), pintura de José Manuel Soares (detalhe).
Imagem: Almada na Historia, Boletim de Fontes Documentais 11 e 12
cf. Elizabete Tavares Ferreira, Costa de Caparica..., Almadarte, 1991.

Começou a trabalhar em desenho de publicidade e, simultaneamente, a partir do Natal de 1950 com uma capa para a revista "Diabrete", em Banda Desenhada. Colaborou em quase todas as revistas do género: "Cavaleiro Andante", "Lusitas", "Fagulha", "Mundo de Aventuras", "Pimpão" e outras.

Livros de estudo, romances, jornais humorísticos e revistas marcaram, igualmente, a sua vastíssima obra como ilustrador e caricaturista.

Cara Alegre, Revista de bomhumor, ilustrações de José Manuel Soares, 1955.
Imagem: O gato alfarrabista

Dedicando-se também à Pintura (1ª Arte), a esta se entregou mais intensamente, sentindo que profissionalmente era mais aliciante do que a Banda Desenhada (9ª Arte). 

A ala dos namorados, José Manuel Soares a partir de adaptação de Artur Varatojo do romance de Campos Junior.
Imagem: Páginas de BD

No entanto, se houvesse em Portugal uma Academia de Banda Desenhada, indubitavelmente José Manuel Soares aí estaria por mérito e justiça e poucos pares teria. Foi um dos maiores na Banda Desenhada em Portugal! 

A ala dos namorados a partir de adaptação de Artur Varatojo (detalhe), reedição Editorial Futura de 1986.
Imagem: O gato alfarrabista

José Manuel Soares era um admirador convicto dos célebres pintores contemporâneos, como Malhoa, Carlos Reis, Henrique Medina, Alberto de Souza e Alberto Reis (que foi o seu grande Mestre).

Do ponto de vista estético, a sua pintura apresenta uma certa analogia com as célebres gravuras inglesas, destacando-se ainda como um excelente executante d e desenho e pintura documental.

A ala dos namorados, pintura José Manuel Soares.
Imagem: Joaquim Manuel da Fonseca (fb)

As suas expressões e posturas, aliadas à atmosfera que as envolve, uma sucessão contínua de luz e sombra, de natureza e vida, espelham os mais genuínos símbolos da idiossincrasia portuguesa. Recriou no seu figurativo de portugalidade, bem real, milhares e milhares de motivos de aldeias, vilas e cidades do nosso país, identificado sobretudo com o século XX.

Os seus quadros, de um estilo pessoal e inconfundível, são, sobretudo, documentários preciosos de paisagens idílicas e de costumes da época. De especial relevo são as representações das gentes do campo, de recantos — nomeadamente, da velha Lisboa e dos seus vetustos monumentos — e dada a minúcia a que o pintor se entregou, ficam a atestar não só a sua arte e capacidade de realização, como também um passado pitoresco que não volta.

Excelente paisagista e impecável retratista, principalmente dos mais idosos, José Manuel Soares consegue sempre surpreender-nos com os seus desenhos. A maior parte dos seus quadros incide sobre temas sociais.

Arco da Conceição, Lisboa (detalhe), José Manuel Soares, 1971.
Imagem: P55

O Mestre esclarece dizendo que "o social está impregnado em toda a parte, porque a própria paisagem tem sempre presente o homem que plantou ou semeou a árvore e parte da vegetação, e é impossível dissociarmo-nos dessa faceta humano-paisagística".

O drama da vida quotidiana, a tragédia da solidão e os problemas do dia-a-dia encontram no Mestre Pintor um intérprete apaixonado e apaixonante.

Travessa dos fiéis de Deus, Lisboa (detalhe), José Manuel Soares,
Galeria do Mercado de Sant'Ana, Leiria.
Imagem: Rui Pascoal (fb)

Artista vigoroso e sério, de técnica dominadora e minuciosa, é dos mais impressionantes da sua geração. Foi nos motivos sobre a História de Portugal que revelou todo o seu apaixonado patriotismo e o seu orgulho pela terra que o viu nascer. 

A comprovar a sua faceta de nacionalista convicto ficam, para a posteridade, a descrição de emocionantes batalhas, nomeadamente as de Aljubarrota, Alcácer-Quibir, Ameixial, Atoleiros, Montes Claros e Salado;

as telas de figuras marcantes da nossa Historia, nomeadamente Viriato, D. Afonso Henriques, Martim Moniz, D. Nuno Álvares Pereira, D. Henrique, Vasco da Gama, D. Sebastião;

e as pinturas de monumentos, como a Torre de Belém, Mosteiro da Batalha, Janela do Convento de Cristo em Tomar, Mosteiro dos Jerónimos, Torre dos Clérigos, e outras.

Assim, o Mestre José Manuel Soares pode ser muito justamente considerado um historiador de Portugal. 

Muitos foram os portugueses que aprenderam por manuais escolares por si ilustrados, oferecendo-nos com a sua apreciada obra uma visão privil egiada da fundação da nacionalidade e da epopeia marítima.

Por isso, muitas destas obras-primas podem ser consideradas como verdadeiros símbolos nacionais, pois reflectem o espírito do nosso país visto por um dos m aiores artistas contemporâneos.

O Mestre José Manuel Soares residiu em Lisboa, Leiria e Costa de Caparica. 

Pescador da Costa da Caparica, José Manuel Soares, 1964.
Imagem: Exposição do Mestre José manuel Soares, 2011

Alcançou durante a sua vida profis sional os seguintes prémios: 3º - Medalha pela Sociedade Nacional de Belas Artes (1953), 2º - Medalha pela Sociedade Nacional de Belas Artes (1956), 1º - Medalha pela Sociedade Nacional de Belas Artes (1957); 1º Prémio Secretaria de Estado da Cultura (1979); 1.° Prémio (Desenho) Salão d a Escola Ferreira Borges (1978); Medalha de Ouro Escola Ferreira Borges (1982); Medalha de Prata Salão Motivos do Ribatejo (1983); 1 º Prémio (Óleo) - Salão da Escola Ferreira Borges (1984); 1º Prémio (Desenho) Salão do Ribatejo (1984); 1.° Prémio das Selecções do Reader's Digest (1994); Diploma de "Honra ao Mérito", concedido em 1995 pela Academia de História do Amazonas , da República Federativa do Brasil; Prémio Banda Desenhada, Galardão “O Mosquito" (1996); Medalha de Ouro da Casa do Ribatejo ( 2001).

Foi ilustrador do livro "Aljubarrota e a sua Batalha" da distinta escritora Odette de Saint-Maurice e das capas dos discos do artista Vicente: "Hino à Batalha”, "Monsanto — Deus Te Proteja" e "Rosas Vermelhas para Adélia".

Aljubarrota e a sua batalha, Odette de Saint-Maurice, 1989.
Ilustrações de Arte Ilustração José Manuel Soares.

Efectuou mais de m eia centena de exposições de pintura, ora individuais ora colectivas, estando representado em Museus nacionais e estrangeiros, bem como em Galerias e colecções particulares. A sua 56ª exposição foi realizada no Hotel Costa de Caparica no dia 11 de Fevereiro de 2002, intitulada "As Duas Margens - Lisboa e Costa de Caparica". 

Costa da Caparica, Pescadores reparando as redes, José Manuel Soares, 1960.
Imagem: Exposição do Mestre José manuel Soares, Cultura Avieira, 2011

Trabalhava já na exposição "Monsanto e Costa de Caparica" quando, a 8 de Abril de 2002, foi vitima de uma doença grave, que impediu desde então José Manuel Soares de nos deliciar com o mu ito mais que ainda havia a esperar da sua genial mestria e arte. (1)

Inclinamo-nos, reverentemente, perante a valia e a dedicação de um Homem que colocou na maioria dos seus quadros a representação dos temas sociais e a defesa dos direitos humanos. Ilustrou alguns dos manuais escolares por onde aprendi a melhor conhecer e a amar a Ditosa Pátria Lusitana.

Graças ao empenho de bons amigos e admiradores que a obra do Pintor, Mestre José Manuel Soares está já perpetuada num Museu com o seu nome na cidade de Pinhel, inaugurado no ano de 2014.

Nada mais justo e digno.

Em 1987 o Pintor passou a ser cúmplice de Monsanto e Monsanto do Pintor. Tendo-se deslocado, a nosso convite, pela primeira vez a esta freguesia do concelho de Idanha-a-Nova, para elaborar a capa do disco "Monsanto, Deus te Proteja", ficou tão impressionado com tanta beleza que deixou outros projectos em mão e se entregou logo, de alma e coração, ao valioso trabalho de divulgação das maravilhas da "Aldeia Mais Portuguesa".

Dessa feliz e saudosa visita, na década de oitenta, resultaram dezenas de obras da sua arte pictórica simbólica, com a marca da sua sensibilidade e lirismo, sempre numa interpretação fiel da poesia e cor própria desta pequena aldeia raiana.

Por isso o Mestre Soares faz também parte das histórias de vida que as casas e os penedos de Monsanto vão contar pela vida fora, eternamente.

Em 2009 "mendigámos", junto da Casa Civil do senhor Presidente da República, que num Dia de Portugal fosse distinguido o mérito cultural do Pintor José Manuel Soares.

Inauguração da exposição Ditosa Pátria Lusitana em homenagem ao Mestre José Manuel Soares.
Mêda, 27 de Novembro de 2008.
Imagem: Radio Monsanto.

Fomos então "enrolados" em esfarrapadas desculpas burocráticas e... vemos agora algumas das condecorações serem atribuídas segundo critérios subjectivos e muito discutíveis.

Teima-se tanto em sensibilizar o povo para o valor das obras de Miró! Nas comemorações do Dia de Portugal persiste-se em distribuir medalhas a rodos, algumas delas como quem distribui “rebuçados”, com salvaguarda dos casos de justiça e merecimento, que felizmente também são muitos…

Angustia-me que o Pintor da Portugalidade continue a não ter o reconhecimento institucional e a viver quase ignorado na sua residência, na Costa de Caparica, onde neste dia 7 de Setembro, completa 84 anos de idade.

O Grande Mestre José Manuel Soares tem pleno direito a ser HONRADO, JUSTIÇADO E LEMBRADO, premiando a sua vastíssima obra, com representação em museus nacionais e estrangeiros, bem como em galerias e colecções particulares.

Monsanto, 07 de Setembro de 2016

Seu amigo e admirador Joaquim Manuel da Fonseca (2)

Inaugurado em agosto de 2014, o Museu José Manuel Soares ocupa o primeiro piso do antigo Paço Episcopal, datado do século XVIII.

Inauguração do Museu José Manuel Soares em Pinhel a 25 de agosto de 2014.
Imagem: lifecooler

O museu acolhe uma parte significativa da obra daquele pintor natural do concelho de Odemira.

As primeiras salas dão a conhecer a vida e a obra do mestre, com informações acerca do seu percurso de vida e também das exposições em que participou, informações acompanhadas de objetos pessoais e até de alguns trabalhos que ficaram por concluir.

Painel da imprensa em exposição no Museu José Manuel Soares em Pinhel.
Imagem: lifecooler

Mostra-se ainda a obra, dividida em três partes distintas: Ilustração, História de Portugal e Paisagens e Monumentos.

José Manuel Soares, para muitos, e em Pinhel agora também, o Mestre José Manuel Soares, pintor, não de paredes, que também pintou algumas, mas com a mesma arte, nasceu em São Teotónio, Odemira, Alentejo, província da qual pintou paisagens agrestes e secas ou doces de ribeiros, pormenores da duríssima vida rural, ou monumentos históricos, as que vendeu, vendeu, as que não quis vender estão agora, não em Odemira, mas em Pinhel.

O mestre Soares foi muito novinho, adolescente, para Lisboa, com o lápis na ponta dos dedos e as imagens na alma. 

Um dos primeiros desenhos de José Manuel Soares em Odemira aos 8 anos.
Imagem: Amo-te Odemira (fb)

Ilustrou banda desenhada, revistas de humor, livros de lazer e escolares, fixou-se em Lisboa, foi galardoado várias vezes em concursos e exposições, pintou pormenores de rua, pormenores de vidas, monumentos, sítios já desaparecidos, de tudo o que pintou e não quis vender, não está agora em Lisboa, está em Pinhel.

O mestre Soares amava a Costa da Caparica e aí alugou, e depois comprou, onde residir.

Costa da Caparica, À beira do mar, José Manuel Soares.
Imagem: Exposição do Mestre José manuel Soares, 2011

Ele ainda lá está, há quase dez anos imobilizado, apenas os olhos vivos e alguns movimentos de lábios inaudíveis.

Costa da Caparica, Cozendo as redes, José Manuel Soares, 1974.
Imagem: Exposição do Mestre José manuel Soares, 2011

Mas o que restou dos seus retratos de pescadores, de faina piscatória, dos pormenores das arribas, dos recantos das casinhas populares, não ficaram na Costa, nem em Almada, estão agora em Pinhel.

Nos últimos anos da década de setenta do século XX o mestre Soares veio a Leiria, a convite duma galeria, a primeira galeria privada da cidade, expor dos seus trabalhos. E encantou. Paisagens alentejanas, ribatejanas, lisboetas, os pescadores da Costa, os portais dos monumentos, ou artesãos de ofícios desaparecidos.

Tudo com pormenor impressionante. Não impressionista, mas impressionante. E encantou-se, como se a “balada do encantamento” de D. José Pais de Almeida, popularmente “dentro de ti, Ó Leiria”, o tivesse enfeitiçado.

Comprou um pequeno apartamento na Rua do Coronel Artur Paiva e começou a pintar Leiria. De dia, de noite, a toda a hora. As horas mortas dos outros eram as suas mais vivas. Leiria e arredores. Recantos das Cortes, das Fontes e da Batalha. 

Exposições históricas em datas centenárias. A monumental exposição, no Dia da Cidade, em 1986, onde todos os quadros representavam Leiria com todo o seu encanto de solidão nocturna.

O castelo em quase todos, que de todos os lados se vê o castelo em Leiria, e as fontes e os recantos mais recônditos e românticos. As entidades oficiais da época, e as seguintes, embora tendo sido alertadas para o facto, não se interessaram pelo espólio do mestre Soares. 

Vista do castelo de Leiria, José Manuel Soares.
Imagem: Rui Pascoal (fb)

Nem um exemplar figura em qualquer museu público da cidade. Estão, agora, em Pinhel.

Soares nunca foi a Pinhel. O mais próximo que pintou de Pinhel foi Monsanto. E também com paixão e pormenor impressionantes. Idanha-a-Nova ainda tentou adquirir o espólio. Mas a tentativa falhou.

Meda candidatou-se a seguir [v. Espólio de mestre José Manuel Soares na Mêda], organizou uma exposição grandiosa, inaugurada por pelo Presidente Cavaco Silva e também desistiu.

Mêda, cartaz da exposição Ditosa Pátria Lusitana, 2009.
Imagem: Joaquim Manuel da Fonseca (fb)

Pinhel quis, preparou as instalações, muito dignas instalações e inaugurou, no passado dia 25 de Agosto, seu Dia da Cidade, o Museu José Manuel Soares. 

Cartaz da inauguração do Museu José Manuel Soares em Pinhel.
Imagem: lifecooler

Agora Pinhel, porque os responsáveis da cultura da Cidade não "cederam" a opiniões de críticos de arte, que não pintam senão paredes, avançaram com a obra e agora têm lá todo o espólio do romântico Mestre Pintor José Manuel Soares, a biografia, fotografias de "família", a banda desenhada, os quadros com recriações das mais significativas batalhas e heróis da nossa História, desenhos mais perfeitos que fotografias de monumentos nacionais, os bois, as árvores, os lagos, os pescadores, o mar.

Pescador da Costa da Caparica remendando as redes, José Manuel Soares, 1966.

E têm-nos porque fizeram por os merecer, porque são de textura impressionante. Todas as outras cidades, que tinham o dever de adquirir, pelo menos a parte que aos seus sítios dizia respeito, não o fizeram por isso mesmo: por serem de "tessitura" impressionante e não impressionistas, modernistas, surrealistas, cubistas, "ectcetristas", conforme os críticos aconselham a quem queira comprar arte ou... instalar museus novos.

De qualquer modo, o espólio de Mestre Soares, emigrando, seguiu as normas actuais do país: deita-se fora o bom e recolhe-se a caca. Também, quando mãe é madrasta, é melhor ser bem adoptado. Ou, como diz o povo, guardado está o bocado para quem o há-de comer.

Pinhel tem agora um museu aonde quer levar os alunos das escolas para "verem" a História.

Por falar em fotografias e pintura realista. Ângela Vimonte, esposa de José Manuel Soares, pinta principalmente naturezas mortas.

Hortensias, pintura de Ângela Vimonte, Galeria do Mercado de Sant'Ana, Leiria.
Imagem: Rui Pascoal (fb)

Em Castelo Rodrigo fotografei uma hortênsia, a flor "natal" de Ângela Vimonte. Depois, em casa, comparei a minha fotografia com um quadro dela. Fiquei triste e muito abalado: na minha representação de hortênsias faltava o orvalho da sua saudade. (3)


(1) Exposição do Mestre José manuel Soares, Cultura Avieira, 2011
(2) Reconhecimento nacional ao mérito do pintor da portugalidade (fb)
(3) Jornal das Cortes: Porquê Pinhel?

Mais informação:
Notícias da Gandaia
Amo-te Odemira (fb)
Joaquim Manuel da Fonseca (fb)
Rui Pascoal (fb)
Bedeteca Portugal
Páginas de BD: José Manuel Soares
BDBD
O gato alfarrabista

sábado, 23 de dezembro de 2017

Mário Domingues (1899-1977), escritor

Nascido em 3 de Julho de 1899 na ilha do Príncipe, mais exatamente na roça Infante D. Henrique, propriedade da firma Casa Lima & Gama, cuja sede e escritório ficavam em Lisboa, na baixa pombalina, era filho de mãe angolana, que se chamava Kongola ou Munga e era natural de Malange, tendo ido para a ilha do Príncipe como contratada (à força) com quinze anos.

Mário Domingues in Luís Dantas, Mário Domingues, o jornalista vagabundo...
Imagem: Calaméo

O seu pai, António Alexandre José Domingues, oriundo de famílias liberais, na impossibilidade de libertar a mãe, devido a uma vingança do capataz da roça, que não levou a bem que o tenha denunciado por maus tratos ao pessoal, enviou-o para Portugal aos 18 meses de idade, tendo ficado confiado à sua avó paterna, que se encarregou da sua educação [...] (1)

Conclui o curso elementar de comércio no Colégio Francês, em Lisboa. Provavelmente foi aí que conheceu Reinaldo Ferreira, com quem partilhou uma sólida e longa amizade, firmada em ideias, valores e projetos comuns.

Capa do livro A audácia de um tímido, Mario Domingues, 1923.
Imagem: frenesil loja

Espírito sensível, sagaz e profundamente humano, deixou-se conquistar pelos ideais anarquistas e participou a tivamente na imprensa que os defendia.

Foi chefe de redação d’A Batalha, colaborou no jornal anarquista A Comuna, do Porto, e na revista Renovação, entre outros. Também participou em grupos libertários, na organização do congresso anarquista da UAP e na fundação do Sindicato dos Profissionais da Imprensa.

A partir de 1926, as suas reportagens, artigos, comentários, contos e novelas aparecem publicados n a imprensa informativ a ou generalista de maior projeção, como o Século, Primeiro de Janeiro, Pátria, ABC, Ilustração, Magazine Bertrand, Civilização, Vida Mundial, Notícias de Lourenço Marques, Sol, etc. (2)

Aos 30 anos, Domingues tinha a tarimba de um veterano. Culto como poucos, poliglota (aprendera francês com Marcel Meunier, famoso correspondente do "Matin" em Lisboa e debicava inglês e alemão por influência dos marinheiros que aportavam ao Café Royal, com espírito de aventura aprimorado na parceria inesquecível formada com Reinaldo Ferreira (o famoso repórter X de que falarei noutro dia), personificava um novo género jornalístico emergente nas publicações portuguesas a reportagem participante. E este trabalho seria a sua coroa de glória [...]

Lisboa, Praça Duque da Terceira, Café Restaurant Royal, Alberto Carlos Lima (detalhe).
Imagem: Arquivo Municipal de Lisboa

O projecto de Mário Domingues deverá ter começado em 1918, com uma farsa (entre tantas outras) de Reinaldo Ferreira para o efémero jornal "A Manhã".

O jornalista vestiu-se então de mendigo, foi fotografado a rigor, enganando durante a sessão alguns transeuntes, que lhe deixaram esmolas. Reinaldo era entusiasta, mas não se detinha no rigor factual (dizia-se, a certo ponto, que o R de Reinaldo valia por "Realidade" e o F de Ferreira por "Fictícia").

Isolou-se durante três dias e escreveu uma crónica pungente sobre a sua aventura como mendigo nas ruas da cidade pobre, num texto tão expressivo e cativante como falso. Na verdade, o futuro repórter X inventara praticamente toda a aventura, mas a sua reportagem foi discutida nos principais fóruns da cidade. 

É provável que a semente da ideia tenha perdurado no cérebro do amigo Mário Domingues, incitando-o a tentar um projecto semelhante, mas jornalístico [...]

À gandaia, reportagem vivida de Mário Domingues.
Imagem: Notícias Ilustrado n° 93, 1930 (Hemeroteca Digital)

Mário Domingues passou oito dias sem retirar a máscara de vagabundo.

Foi reconhecido uma vez no porto de Lisboa por um amigo que, enternecido, se ofereceu para o ajudar a endireitar a vida. Do ódio inicial face aos que se divertiam, a sua percepção foi evoluindo para uma aceitação gradual do statu quo.

Frequentou bares e tabernas. Relatou, com traços realistas, a generosidade desinteressada dos lisboetas, mas também o alheamento de quem passava por ele nas ruas e parecia não o ver. Conheceu ingleses e galegos, coristas e taberneiros. 

Recebeu propostas de emprego e ofertas desonestas. Foi aliciado com ofertas de emigração para o Brasil e para a América, que ponderou, mas recusou em nome da sua paixão pela cidade. (3)

Em 1930, Reinaldo Ferreira deu-lhe a chefia de redação do semanário Repórter X. 

Reinaldo Ferreira, Reporter X.
Imagem: Luís Dantas, Mário Domingues (Calaméo)

Depois de ter sido afastado, [Mário Domingues] fundou e dirigiu o semanário O Detective. 

Também fundou a "Editora Globo", de Lisboa, e publicou dezenas de romances policiais e de aventuras, sob diversos pseudónimos. (4)

oooOooo

"Não tardou que Tomé, o preto dançarino, executasse os seu primeiro "charleston" dessa noite, ante o olhar atento e assombrado de alguns mirones que tentavam apreender por que artes mágicas ao tantan rítmico do jazz, ele conseguia, sem uma falha na cadência, movimentar as suas pernas bambas, as pernas de trapo, conjugando-as com o balancear desconexo dos braços de pêndula."

Capa do livro [Stuart Carvalhais?] O preto do Charleston, Mário Domingues, 1930.
Imagem: a procura do colofão

"Era um boneco desarticulado que, movido por um maquinismo oculto, adquiria a flexibilidade de um farrapo abandonado ao vendaval impetuoso daquelas músicas de sertão africano, que floresceram por estranha afirmação de raça nessa Norte América intransigente e severa para com os seus negros."

in Mário Domingues, O Preto do "Charleston", 1930 (cap. II) (5)

oooOooo

Mário Domingues contribuiu, ao longo da sua vida, para a inovação e o esplendor da literatura portuguesa.

Em 1960, publicou O Menino entre gigantes — a evocação da vida atribulada de um rapazinho mulato, quase negro, na sociedade lisboeta do início do século XX. Afastado da mãe africana, foi acolhido com afecto no seio da família paterna, mas não se livrou de preconceitos raciais, de vexames e de tormentos que abalaram o seu espírito.

oooOooo

É certo que só a escola lhe revela os meandros sinistros do preconceito racial, e José Cândido, felizmente robusto, poderá, à força de punhos, castigar aqueles que mais ostensivamente o ofendiam, mas nem por isso o choque deixa de existir.

Capa do livro O menino entre gigantes, Mário Domingues, 1960.
Imagem: Mário Domingues: Santomense filho de angolana...

E não só através do colega que recusa a ficar sentado a seu lado, porque o pai lhe disse que todos os pretos cheiram a catinga, mas também por via da revelação da colega Florinda, que lhe entremostra as intenções pérfidas de Cândida, que pretendia arrancar-lhe uma declaração só para revelar o seu desprezo pelos homens de cor. 

in Mário Domingues, O menino entre gigantes, 1960 (6)

oooOooo

Nas décadas de 50, 60 e 70 do século passado, surgiram em Portugal uns livrinhos de aventuras extraordinárias, saídas da pena inspirada e prolífica de dois autores de nome inglesado (ou americanizado): Henry Dalton e Philip Gray.

O enredo das histórias, aparentemente sem fim, versava sobre as realizações assombrosas de alguns aventureiros de diversa proveniência. 

"A Volta ao Mundo por Dois Aventureiros", por exemplo, ficou a cargo de um belga (Roger) e de um checo (Alex)... Calcorrearam os Himalaias, os gelos polares, etc.

Coleção A Volta ao Mundo por Dois Aventureiros
Henry Dalton & Philip Gray (Mário Domingues), Livraria Civilização, 1957.
Imagem: olx

Anton Ogareff, o russo, protagonizava as "autênticas façanhas do maior aventureiro eslavo"

Autênticas façanhas de Anton Ogaref, o maior aventureiro eslavo
Henry Dalton & Philip Gray (Mário Domingues), Livraria Civilização, 12 vol.
Imagem: Alfarrabista Quinto Planeta

Billy Keller, O Rei do Far-West, era um caso à parte, pela consistência, densidade e dramatismo da sua existência [...]

Aventuras extraordinárias de Billy Keller, o Rei do Far-West
Henry Dalton & Philip Gray (Mário Domingues), Livraria Civilização, 12 vol.
Imagem: Torre da História Ibérica

Até que um dia, muito tempo depois, apurei que Henry Dalton e Philip Gray não eram ingleses nem americanos. Mais: nem sequer existiam.

O autor — o verdadeiro, solitário e denodado autor — daquelas histórias era um português, mestiço, humilde, trabalhador e talentoso, a quem se ficou a dever, já sem cobertura de qualquer pseudónimo, um enorme esforço de divulgação da História de Portugal, em estilo aprazível e documentado.

Era Mário Domingues [...]

Foram dezenas de "Evocações Históricas", a maior parte delas editadas pela Livraria Romano Torres ("Casa Fundada em 1885"), de saudosa memória... 

Evocações incluídas na "Série Lusíada", tais como as de D. Afonso Henriques - D. Dinis e Santa Isabel - O Marquês de Pombal [...]

Evocações históricas, Série Lusíada
Romano Torres, Livraria Civilização, etc.

Inês de Castro na Vida de D. Pedro - A Vida Grandiosa do Condestável - O Infante D. Henrique - D. João II - D. Manuel I - D. João III - Camões - D. Sebastião - O Cardeal D. Henrique - O Prior do Crato Contra Filipe II - A Revolução de 1640 - D. João IV - O Drama e a Glória do Padre António Vieira - D. João V - Bocage - Fernão Mendes Pinto - Fernão de Magalhães - D. Maria I - Liberais e Absolutistas - O Regente D. Pedro - Grandes Momentos da História de Portugal [...]


[Após décadas de pesado e injusto silêncio, a obra (histórica) de Mário Domingues começou - em boa hora - a ser reeditada pela Prefácio.]


Como crítico de Pintura, nos anos Vinte, distinguiu-se pelo ardor com que defendeu os Modernistas, então desdenhados pela opinião pública. 

Unindo-se a Fernando Pessoa, José Bocheko, Vítor Falcão, António Ferro e outros batalhadores pela renovação da arte em Portugal, teve a coragem de proclamar o excepcional valor de "proscritos" como Almada Negreiros, Eduardo Viana, António Soares, Jorge Barradas e Lino António. (7)

Quinta de Santo Antonio, Costa de Caparica (detalhe), ed. desc.
Vista da Rua do Norte, actualmente Rua Mário Domingues, onde o escritor residiu a partir de 1950.
"O Mário Domingues e a sua Mulher Maria foram grandes amigos meus. Era com eles que ia para a Costa da Caparica em pequena. Este teu post lembrou-me que o meu gosto por biografias histórias se deve muito às conversas que em miúda tive com ele!" cf. Helena Sacadura Cabral in delito de opinião.

Imagem: Delcampe - Bosspostcard

Editor, publicista, jornalista, tradutor, historiador, anarquista, mas sobretudo escritor, que o foi dos mais fecundos no panorama literário português desde sempre, de seu nome completo Mário José Domingues (ilha do Príncipe, 3 de Julho de 1899-Costa da Caparica, 24 de março de 1977), personalidade atualmente quase esquecida mas, em vários planos, tão fascinante como as consideradas das maiores do nosso século e, ultimamente, badaladas a preceito, realmente, depois de Camilo Castelo Branco, Mário Domingues é um dos primeiros casos de escritor profissional em Portugal, ultrapassando, em número de títulos e extensão de colaboração dispersa, a obra dos outros escritores profissionais seus contemporâneos, Aquilino Ribeiro e Ferreira de Castro. 

Um Dia Com… Mário Domingues
Programa sobre Mário Domingues, escritor natural da ilha do Príncipe, que menciona os aspetos mais relevantes da sua carreira profissional, 1 de agosto de 1970.
Imagem: RTP Arquivos

Efetivamente, nada do que ele escreveu foi gratuito.

E especialmente quando eram romances policiais e de aventuras, que apareciam assinados com os nomes de Henry Dalton & Philip Gray ­ —  com este pseudónimo escreveu 92 volumes — Marcel Durand, W. Joelson, Fernand d'Almiro, Fred Criswell, F. Hopkins, Henry Jackson, James Black, James W. Sleary, James Strong, J. W. Powell, Joe Waterman, John Ferguson, Max Felton, Max Parker, Nelson Mackay, Peter O'Brion, William Brown, Thomas Birch, Guida de Montebelo, Marcelle de Sérizy, C. De La Touraine, Clau Weber, Repórter Mistério e André Chevalier, entre muitos outros. (8)


(1) Mário Domingues: Santomense filho de angolana...
(2) Reporter X (Hemeroteca Digital)
(3) Oito dias na vida do jornalista vagabundo
(4) Reporter X (Hemeroteca Digital)
(5) a procura do colofão
(6) Crítica literária por Luís Dantas
(7) Torre da História Ibérica
(8) Mário Domingues: Santomense filho de angolana...

Informação adicional:
Romano Torres (Mário Domingues, FCSH/UNL)
Mário Domingues, Recordações do Café Royal, Lisboa s.n., 1959 (Projecto MOSCA)
Luís Dantas, Mário Domingues (Calaméo)
Mario Domingues vagabundo, Ilustracao n° 103, 1930 (Hmeroteca Digital)
Reporter X (Hemeroteca Digital)
Notícias Ilustrado n° 93, 1930 (Hemeroteca Digital)
António Domingues (fb) [v. nota final]
Authorizing Translation: The IATIS Yearbook
Agepor 11

sexta-feira, 15 de dezembro de 2017

RTP Arquivos

1961-05-30
Acidente aéreo com o Avião DC-8
Costa de Caparica, destroços do avião a jacto DC-8 do voo VA 897 que fazia a ligação entre Roma e…

Douglas DC-8 da KLM Fridtjof Nansen.
(relatório do acidente).
Imagem: Aviacrash

1969-01-05
Aniversários da freguesia Costa de Caparica e do jornal "Praia do Sol"
Comemoração do vigésimo aniversário da freguesia da Costa de Caparica e do jornal "Praia do Sol".

Jornal Praia do Sol n° 1, dirigido por Norberto de Araújo), janeiro de 1950.
Imagem: Almada Digital

1970-08-01
Um Dia Com… Mário Domingues 
Programa sobre Mário Domingues, escritor natural da ilha do Príncipe, que menciona os aspetos mais relevantes da sua carreira profissional.

Mário Domingues in Luís Dantas, Mário Domingues.
O jornalista vagabundo...
Imagem: Calaméo

1971-01-02
Banho de Ano Novo
Reportagem sobre o tradicional banho de Ano Novo, na praia da Costa de Caparica.

1972-07-26
Campo da Mocidade Portuguesa na Costa da Caparica
Costa da Caparica, Baltazar Rebelo de Sousa, Ministro das Corporações, da Previdência Social e da Saúde e Assistência, vista o…

Campo da Mocidade Portuguesa Costa da Caparica.
Imagem:RTP Arquivos

1973-09-13
Praias da Costa de Caparica
Programa apresentado por Luís Filipe Costa sobre questões do ordenamento da orla costeira da Costa de Caparica.

Costa da Caparica , Restaurante Porto de Abrigo, 1977.
Imagem: Costa da Caparica (fb)

1973-10-08
Campo de Férias Musical promovido pela FNAT na Costa da Caparica 
Reportagem sobre o Campo de Férias Musical promovido pela Federação Portuguesa das Colectividades Cultura e Recreio, realizado na Colónia de…

1973-11-15
Um Dia Com… Manuel Cargaleiro
Programa dedicado a Manuel Cargaleiro, pintor e ceramista, sobre a vida pessoal, percurso académico e artístico.

Almada, Jardim Comand. Sá Linhares, ed. J. Lemos, 21, década de 1950.
Ao fundo o painel azulejos de Cargaleiro de 1956.
Imagem: Delcampe - Bosspostcard

1974-07-27
Cassiano Branco
A vida e obra do arquitecto Cassiano Branco, figura dominante na arquitectura modernista portuguesa. Uma panorâmica sobre alguns dos seus…

Costa de Caparica, Praia Atlântico.
Pormenor de Solução Urbanística, Cassiano Branco, Arquitecto, 1930.
Imagem: Arquivo Municipal de Lisboa

1977-12-13
Fonte da Telha: Uma Aldeia na Praia
Reportagem da jornalista Fátima Martins Pereira (mais conhecida por Maria de Fátima Bonifácio), sobre as condições higiénicas e de habitabilidade…

Uma aldeia na Praia.
Imagem:RTP Arquivos

1989-07-18
Acordo de cooperação para o realojamento
Assinatura do acordo de cooperação para o realojamento dos moradores das casas clandestinas da Costa da Caparica.

1999-01-14
UHF
Entrevista biográfica a António Manuel Ribeiro, fundador dos UHF, o percurso da banda e a vida pessoal.

UHF, detalhe da capa do disco "À flor da pele".
Imagem: UHF

1999-01-27
Tarzan Taborda
Tarzan Taborda, antigo campeão de luta livre, fala da sua vida, passada e presente.

Tarzan Taborda, Albano Taborda Curto Esteves, (1935-2005).
Imagem: OWW

2001-01-12
Mar destruidor em São João da Caparica
Mar destrói bares e esplanadas na praia de São João na Costa de Caparica.

2008-08-10
Cargaleiro, a Obsessão da Luz
Documentário sobre o pintor e ceramista Manuel Cargaleiro, com depoimentos do próprio sobre a sua vida e obra, intercalados com…

Manuel Cargaleiro.
Detalhes dos painel de azulejos de 1956 expostos no Jardim Dr. Alberto Araújo (ex jardim Comdante Sá Linhares).
Imagem: Pinterest

O portal RTP Arquivos é a nova plataforma de acesso público "online" aos arquivos audiovisuais do serviço público de rádio e televisão. Vai estar doravante em permanente atualização num trabalho continuado, destinado a disponibilizar progressivamente conteúdos desde a década de 30 do século passado até à atualidade [...] (1)  


(1) RTP Arquivos

Mais informação:
RTP Arquivos (Caparica)
RTP Arquivos (Fonte da Telha)

sexta-feira, 1 de dezembro de 2017

Casario

A Costa da Caparica foi até 1884 um lugarejo habitado por pescadores que viviam em barracas de madeira, cobertas de junco, pouco confortáveis e de aspecto desagradável.

A Praia do Sol, As primitivas barracas dos pescadores, ed. Acção Bíblica/Casa da Bíblia, 111
Imagem: Delcampe

Destruídas por um incêndio, estas barracas foram substituídas por pequenas casas [algumas] de tijolo e telha, mas em 1927 ainda havia grande número de exemplares das primitivas habitações.

Costa de Caparica, Alberto Carlos Lima, colégio do Menino Jesus e casas típicas de pescadores, década de 1900.
Imagem: Arquivo Municipal de Lisboa

Nos anos 30, à falta de casas para alugar, os veraneantes mandaram construir residências para as férias e surgiram dois bairros novos a Sul e a Norte da antiga povoação. (2)

A Praia do Sol, Uma vista parcial, ed. Acção Bíblica/Casa da Bíblia, 108, década de 1930.
Imagem: Delcampe

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[...] urbanizações (ou suburbanizações) metropolitanas que caracterizam o mau crescimento e renovação urbana do último meio século derivadas quer dos modelos da "cidade-jardim", quer dos "blocos sortidos", crescendo aos bocados separados para a pouco e pouco se amalgamarem.

Costa da Caparica, Mário Novais, 1946.
Imagem: Fundação Calouste Gulbenkian

As Quarteiras são Almadas para pior, as Vilamouras, Estoris já desastrados.

Costa da Caparica, ed. desc.

Nunca arquitectos e engenheiros projectaram tanto como nos Algarves, nestas três décadas, mas também nunca se deve ter acumulado tanto disparate ou tantos golpes baixos urbanísticos-arquitectónicos, como nessa galinha de ovos de ouro do betão. (2)


(1) Joana Freitas, O litoral português na época contemporânea..., 2010
(2) Nuno Portas, Crítica do urbanismo..., Sociedade e Território nº 13, 1991
citado em Joana Freitas, O litoral português na época contemporânea..., 2010

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Costa da Caparica — urbanismos
Sobre o projecto de Cassiano Branco
Plano de Urbanização da Costa da Caparica
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