sábado, 28 de setembro de 2019

Cruz Louro, pintor e ilustrador

Nas minhas horas vagas e, apenas para alimentar o meu espírito, satisfazendo assim a necessidade com que procurava completar-me, pintava ou desenhava. Sem saber porquê, a pouco e pouco fui abandonando os pinceis e as tintas, ficando apenas com o lápis e a tinta da China.

Costa da Caparica, Praia do Sol.
Bairro dos Pescadores, Cruz Louro, 1934.
BestNet Leilões

Sem qualquer preocupação de seguir uma escola ou imitar A, B ou C, seguia indiferentemente ao que no Mundo se desenrolava nos variadíssimos campos das Artes Plásticas, o meu caminho ou destino, sem qualquer ambição ou preocupação que não fosse aquela de conseguir realizar aquilo que os meus olhos viam e os meus sentidos apreciavam.

José Raimundo Gonçalves por Cruz Louro em 1934
João Raimundo Gonçalves

A Beleza estava em todos os lados para onde me voltasse e, a minha maior ambição, era a de transmitir ao papel, tudo quanto via e sentia, sem a transfigurar, sem mentir, sem fugir à Verdade. Queria ser descritivo, queria ser mais do que um escritor ou um poeta; queria, enfim, que os meus desenhos falassem e contassem aos vindouros, à História, pela imagem, por onde passei e pelo que desenhei. [Te-lo-ei conseguido?] (1)

Costa da Caparica, interior de uma barraca de pescadores, Cruz Louro, 1930.
Delcampe

Sem qualquer apoio económico, trabalhou sempre para se sustentar. Aos 26 anos, com a profissão de "empregado no comércio", conclui o curso da Escola Comercial de Ferreira Borges (Carta de Curso de 14 de Julho de 1930).

Costa da Caparica, Convento dos Capuchos, Cruz Louro, 1933.
Delcampe

Em 1933 termina o curso de "Habilitação às Escolas de Belas Artes" na Escola Industrial de Fonseca Benevides (Diploma de 21 de Agosto de 1933). Por esta altura já deixara o trabalho no comércio, tendo passado a desempenhar funções de "servente-jornaleiro", primeiro na Escola Industrial de Fonseca Benevides, Arte Aplicada (de 7 de Março de 1933 a 31 de Janeiro de 1935) e depois na Escola Industrial de António Arroio (de 1 de Fevereiro de 1935 a 8 de Junho de 1936).

Fonte da Telha, Dois barcos, História pela imagem dos barcos na Costa de Caparica, Cruz Louro, 1971.
Cruz Louro

Ainda nesta escola desempenhou funções de "auxiliar de secretaria" entre 9 de Junho de 1936 e 5 de Fevereiro de 1942.

A Fonte da Telha (Costa da Caparica, Praia do Sol), Cruz Louro, 1937.
  Cruz Louro

Durante o período de vida em Lisboa, morou no Bairro dos Pescadores, na Costa da Caparica, realizando várias exposições em Lisboa e Almada. (2)

O pintor Francisco da Cruz Louro
(retratado a guache por Manuel Lima em 1932 na Costa da Caparica).
Vida e Obra do Pintor Cruz Louro

Uma nota apenas. Concluído o Curso Superior de Pintura, de 1.° Classe, em 17/3/1951, com a classificação de 15 valores, na Escola Superior de BeIas Artes, do Porto, dedíquei-me de alma e coração ao ensino de Desenho. Fui professor nas seguintes Escolas e Liceus: Escola de Arte Aplicada de António Arroio, de Lísboa; Escola de Arte Aplicada Soares dos Reis, do Porto; Escola lndustrial e Comercial de Guimarães; Escola Industrial e Comercial de Marinha Grande; Professor e Director na Escola Técnica Elementar de Margão (Estado Português da índia); Escola Industrial e Comercial de Pangim (E. P. I.); Escola Técnica Elementar de Mapuçá (E. P. I.); Professor e Professor-Secretárío no Liceu Nacional de Quelímane (Estado Português de Moçambique); no Liceu António Enes, de Lourenço Marques (E. P. M.); Escola Técnica Elementar Joaquim Araújo, Lourenço Marques (E. P. M); Escola Técnica de Serpa e na Escola lndustrial e Comercial de Moura (Secção Liceal). (3)


(1) Francisco da Cruz Louro, Autobiografia em Álbum Ilustrado - Terras de Portugal, Edição do autor, 1973
(1) Ana Catarina Louro Parente, Vida e Obra do Pintor Cruz Louro, 2014
(3) Francisco da Cruz Louro, op. cit.

Mais informação:
Cruz Louro
As Nossas Raízes (fb)

quinta-feira, 12 de setembro de 2019

Companha do Anjo da Guarda (na faina da arribação)

Embora existissem outras artes de pesca, a Arte Xávega que pescava desde o S. João (24 de Junho) até finais de Outubro sempre que o mar o permitia, era responsável por trazer na faina muitos homens e mulheres divididos em companhas, termo que na Arte Xávega designa as pessoas, as redes e o próprio barco.

Costa da Caparica, colecção Passaporte-Loty n° 64, Pescadores enrolando as cordas da rede, c. 1960.
Delcampre

Em cada companha imperavam os laços de parentesco e de origem, sendo cada uma conhecida pelo nome do barco com que pescavam. Estavam subordinados a uma hierarquia rigorosa em que cada um dos membros ocupava um lugar específico em função das tarefas que desempenhava na faina da pesca. 

Costa da Caparica, colecção Passaporte-Loty n° 65, Pescadores varando um barco, c. 1960.
Delcampre

A companha era uma espécie de família alargada, formando um grupo coeso em permanente competição com as outras companhas, rivalizando no sucesso dos lanços, através da quantidade e qualidade do peixe trazido à praia em cada lanço.

Costa da Caparica, colecção Passaporte-Loty n° 66, Pescadores arrastando o seu barco, c. 1960.
Delcampre

Não é possível descrever aqui a dureza do trabalho quando a pesca se realizava sem recurso a quaisquer meios mecânicos e todo o esforço no mar e em terra era realizado por músculos humanos. (1) 

Costa da Caparica, colecção Passaporte-Loty n° 67, Pescadores arrastando o seu barco, c. 1960.
Delcampre

Contudo, enquanto tentativa de aproximação faremos uma descrição resumida e necessariamente incompleta da composição da companha e dos principais momentos que pontuavam cada lanço da Arte Xávega. (1)



(1) Francisco Silva, Costa Fronteira, Fronteiras Urbanas Ensaios sobre a humanização do espaço, 2014

Informação relacionada:
O Património Marítimo-Fluvial. Um Valioso Bem Cultural a Preservar.