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domingo, 9 de outubro de 2022

Árpád Szenes: Maria Helena na praia

Retratista virtuoso, Árpád capta sobretudo a essência dos traços de Maria Helena. Os primeiros retratos datam dos anos 30, início da vida a dois e, sem se perder em detalhes,

Caparica I (colecção Jorge de Brito), Arpad Szenes, sem data.
Vieira da Silva - Arpad Szenes nas colecções portuguesas, Casa de Serralves, Porto, 1989

Árpád realça, de forma inequívoca, os contornos que definem a pintora.

Caparica, Arpad Szenes, 1934.
Museu Fundação Árpád Szenes - Vieira da Silva


Não é óbvia nestes retratos a cegueira da paixão: Maria Helena não é perpetuada como uma beldade, chega a ser, em muitos casos, quase caricaturada e, no entanto, há uma dedicação quase obsessiva na quantidade de esquissos realizada. (1)

Caparica, Arpad Szenes, 1934.
Museu Fundação Árpád Szenes - Vieira da Silva

Árpád Szenes e Maria Helena encontram-se pela primeira vez na academia parisiense Grande Chaumière, em 1928. Casam em 1930, sem considerarem outra hipótese senão a de uma vida a dois, para sempre. Uma espécie de conto de fadas modernista, traçado a lápis, caneta ou pincel.

Caparica, Arpad Szenes, 1934.
Museu Fundação Árpád Szenes - Vieira da Silva

Companheiros de vida e de ofício, enredados numa pesquisa paralela e solitária, inspiram-se, partilham e discutem, numa sinergia contínua.

Baigneuse à Caparica, Arpad Szenes, 1934.
Museu Fundação Árpád Szenes - Vieira da Silva


Vieira foi o modelo dileto, invocado nos primeiros anos pela paixão e pelo desejo e, mais tarde, pelo conforto de um amor sempre disponível.

Caparica V (colecção particular), Arpad Szenes, 1934 1936.
Museu Arpad Szenes - Vieira da Silva: elementos para um projecto de uma visita virtual

Quieta sem nunca se tornar ausente, Vieira da Silva é desenhada e pintada pelo marido inúmeras vezes, numa variedade de registos que oscilam entre o repouso e a atividade artística (...) (2)

Caparica, Arpad Szenes, 1935-1936.
Museu Fundação Árpád Szenes - Vieira da Silva


(1) Sandra Santos, "Le couple" de Árpád Szenes e de Maria Helena Vieira da Silva
(1) Sandra Santos, idem

Informação relacionada:
Fundação Árpád Szenes - Vieira da Silva
Árpád Szenes (Fundação Calouste Gulbenkian)
Jeanne Bucher Jaeger: Maria Helena Vieira da Silva (1908-1992)
Jeanne Bucher Jaeger: Árpád Szenes (1897-1985)
Museu Arpad Szenes - Vieira da Silva: elementos para um projecto de uma visita virtual
Véronique Jaeger: The Arcana of the Heart
Vieira da Silva - Arpad Szenes nas colecções portuguesas, Casa de Serralves, Porto, 1989,

Media:
Visita guiada: Casa-atelier de Vieira da Silva e de Arpad Szenes

Ma femme chamada Bicho (filme documental de 1978 de José Alvaro de Morais sobre o casal de pintores Maria Helena Vieira da Silva e Árpád Szenes)


sábado, 28 de setembro de 2019

Cruz Louro, pintor e ilustrador

Nas minhas horas vagas e, apenas para alimentar o meu espírito, satisfazendo assim a necessidade com que procurava completar-me, pintava ou desenhava. Sem saber porquê, a pouco e pouco fui abandonando os pinceis e as tintas, ficando apenas com o lápis e a tinta da China.

Costa da Caparica, Praia do Sol.
Bairro dos Pescadores, Cruz Louro, 1934.
BestNet Leilões

Sem qualquer preocupação de seguir uma escola ou imitar A, B ou C, seguia indiferentemente ao que no Mundo se desenrolava nos variadíssimos campos das Artes Plásticas, o meu caminho ou destino, sem qualquer ambição ou preocupação que não fosse aquela de conseguir realizar aquilo que os meus olhos viam e os meus sentidos apreciavam.

José Raimundo Gonçalves por Cruz Louro em 1934
João Raimundo Gonçalves

A Beleza estava em todos os lados para onde me voltasse e, a minha maior ambição, era a de transmitir ao papel, tudo quanto via e sentia, sem a transfigurar, sem mentir, sem fugir à Verdade. Queria ser descritivo, queria ser mais do que um escritor ou um poeta; queria, enfim, que os meus desenhos falassem e contassem aos vindouros, à História, pela imagem, por onde passei e pelo que desenhei. [Te-lo-ei conseguido?] (1)

Costa da Caparica, interior de uma barraca de pescadores, Cruz Louro, 1930.
Delcampe

Sem qualquer apoio económico, trabalhou sempre para se sustentar. Aos 26 anos, com a profissão de "empregado no comércio", conclui o curso da Escola Comercial de Ferreira Borges (Carta de Curso de 14 de Julho de 1930).

Costa da Caparica, Convento dos Capuchos, Cruz Louro, 1933.
Delcampe

Em 1933 termina o curso de "Habilitação às Escolas de Belas Artes" na Escola Industrial de Fonseca Benevides (Diploma de 21 de Agosto de 1933). Por esta altura já deixara o trabalho no comércio, tendo passado a desempenhar funções de "servente-jornaleiro", primeiro na Escola Industrial de Fonseca Benevides, Arte Aplicada (de 7 de Março de 1933 a 31 de Janeiro de 1935) e depois na Escola Industrial de António Arroio (de 1 de Fevereiro de 1935 a 8 de Junho de 1936).

Fonte da Telha, Dois barcos, História pela imagem dos barcos na Costa de Caparica, Cruz Louro, 1971.
Cruz Louro

Ainda nesta escola desempenhou funções de "auxiliar de secretaria" entre 9 de Junho de 1936 e 5 de Fevereiro de 1942.

A Fonte da Telha (Costa da Caparica, Praia do Sol), Cruz Louro, 1937.
  Cruz Louro

Durante o período de vida em Lisboa, morou no Bairro dos Pescadores, na Costa da Caparica, realizando várias exposições em Lisboa e Almada. (2)

O pintor Francisco da Cruz Louro
(retratado a guache por Manuel Lima em 1932 na Costa da Caparica).
Vida e Obra do Pintor Cruz Louro

Uma nota apenas. Concluído o Curso Superior de Pintura, de 1.° Classe, em 17/3/1951, com a classificação de 15 valores, na Escola Superior de BeIas Artes, do Porto, dedíquei-me de alma e coração ao ensino de Desenho. Fui professor nas seguintes Escolas e Liceus: Escola de Arte Aplicada de António Arroio, de Lísboa; Escola de Arte Aplicada Soares dos Reis, do Porto; Escola lndustrial e Comercial de Guimarães; Escola Industrial e Comercial de Marinha Grande; Professor e Director na Escola Técnica Elementar de Margão (Estado Português da índia); Escola Industrial e Comercial de Pangim (E. P. I.); Escola Técnica Elementar de Mapuçá (E. P. I.); Professor e Professor-Secretárío no Liceu Nacional de Quelímane (Estado Português de Moçambique); no Liceu António Enes, de Lourenço Marques (E. P. M.); Escola Técnica Elementar Joaquim Araújo, Lourenço Marques (E. P. M); Escola Técnica de Serpa e na Escola lndustrial e Comercial de Moura (Secção Liceal). (3)


(1) Francisco da Cruz Louro, Autobiografia em Álbum Ilustrado - Terras de Portugal, Edição do autor, 1973
(1) Ana Catarina Louro Parente, Vida e Obra do Pintor Cruz Louro, 2014
(3) Francisco da Cruz Louro, op. cit.

Mais informação:
Cruz Louro
As Nossas Raízes (fb)

terça-feira, 12 de junho de 2018

Caparicanas

Ercília Costa (1902 - 1985)

No inicio do nosso século havia um pescador caparicano que nas horas de ócio dedilhava a guitarra. Tocava e desabafava, inconformado com aquilo que, na sua singeleza, chamava triste sina...

A Praia do Sol, As primitivas barracas dos pescadores, ed. Acção Bíblica/Casa da Bíblia, 111
Imagem: Delcampe

Havia constituído lar, e nele nasceram três meninas. Uma, a mais viva, de nome Ercília, muito cedo brincou com a guitarra e cantarolou, numa inocente imitação do progenitor. Aos quatro anos, acompanhava a mãe quando esta viajava até Lisboa, e durante a travessia do Tejo, nos vapores da carreira, lá os passageiros achavam graça às cantigas da pequenita, presenteando-a com moedas de cobre. Foram os primeiros aplausos e os primeiros ganhos da futura actriz-cantora.

Mais mulherzinha, veio residir em Lisboa e aprendeu o ofício de costureira de alfaiate. E tudo parecia ser mais uma rica vocação abortada pelo condicionalismo do dia-a-dia.

Ercília Botelho Farinha Salgueiro nasceu na Costa de Caparica a 3 de Agosto de 1902. Filha de Manuel Farinha e de D. Virgínia Maria Botelho. O apelido de Salgueiro adoptou-o apos o casamento com o funcionário bancário José Salgueiro, falecido em 27 de Junho de 1977.

Mas a vocação da jovem Ercília não se iria perder, e o interregno acabaria no dia em que, estando a trabalhar no oficio, alguém (ouvindo-a cantar...) lhe pergunta se queria tomar parte num coro de alunos do Conservatório Nacional, ali perto à Rua dos Caetanos. Tratava-se do Auto do Fim do Dia, prova de exame que teria lugar dali a dias no Teatro de S. Carlos.

O mestre da oficina dispensou-a por umas horas, e a bela voz de Ercília logo foi notada no improvisado coro. Dirigiam os ensaios o Maestro Hermínio do Nascimento, na parte musical, e Mestre António Pinheiro, quanto ao poema. E todos foram unânimes em classificar de esplêndida aquela voz surpreendida numa oficina de alfaiate.

Várias circunstâncias impediram a incipiente cantora de se cultivar. Rapariga pobre, nunca poderia empatar sete anos nos estudos. Mas uma nova oportunidade iria surgir pouco depois e, em 1928, estimulada pelos actores Mario Campos e Eugénio Salvador teste ao tempo doublé de futebolista do 1." team do Sport Lisboa e Benfica). começou a cantar o fado e outras canções.

Ercilia, que, entretanto, se baptizara como artista, unindo o primeiro nome ao da sua terra natal, passou a ser anunciada e conhecida por Ercília Costa.

Ercília Costa.
Imagem: du bleu dans mes nuages

Primeiro cantou fados no Olimpia, de Lisboa. Ferro de Engomar, em Benfica. e nos conhecidos retiros da Capital Café Luso, Solar da Alegria e Retiro da Severa. Dois meses após a sua estreia, gravou discos para a Brunswich e Odéon e, terminada essa tarefa, estreou-se no teatro, contratada pelo empresário José Loureiro.

Entretanto, recebia o cartão de artista de variedades. No Trindade, estreou-se na revista A Cigarra e a Formiga. Tempos depois, na Feira da Luz, no Apolo; no Variedades, com Satanela, Raul de Carvalho e Assis Pacheco no Canto da Cigarra; no Coliseu dos Recreios, na História do Fado; no Avenida, no Fogo-de-Vistas; no Maria Vitória, no Rei dos Fadistas: de novo no Coliseu, no Fim do Mundo e Última Maravilha.


Em 1931, visitou as Ilhas, tendo representado em todos os teatros da Madeira e Açores. Depois ici percorrendo todos os palcos do Minho ao Algarve. Em 1934, esteve presente em Vigo, nas festas luso-galaicas, aquando da inauguração da estátua a Camões: e segue logo para Madrid, onde actua em teatros e grava um disco no mesmo dia e na mesma firma em que gravava o argentino Carlos Gardel.

Ercilia é do tempo em que o artista actuava sem o auxílio do microfone. Então era exigido ao cantor, para lá do valor e da qualidade da peça a executar, um domínio absoluto sobre o auditório.

A forte personalidade do cantor tornava-se um factor de extrema importância. Ercilia Costa tinha esta última qualidade em elevado grau, ao ponto de, no enorme Coliseu dos Recreios, com a lotação esgotada (6000 espectadores), quando ela cantava, não se ouvia sequer uma mosca...

Um aspecto da formidável enchente do Coliseu dos Recreios, em cujo palco foi representada a revista O Fim do Mundo, com a participação de Ercília Costa e Leonor d'Eça, 1934.Imagem: Arquivo Nacional Torre do Tombo

E, como a sua concentração, nesses momentos de transe, a levava, mimicamente, a pôr as mãos como numa prece, alguém, impressionado, disse um dia que ela parecia uma santa a cantar o fado...

Diante do microfone, Ercília foi uma pioneira: no Posto Radiofónico CT1AA, de Abílio Nunes dos Santos, dos Grandes Armazéns do Chiado, foi o primeiro artista a actuar para ser ouvido no estrangeiro.

A nossa biografada, para lá do valor das orquestras que com ela colaboraram em inúmeros espectáculos e audições, pede que não nos esqueçamos do espantoso Armandinho, cuja guitarra por si dedilhada se transformava num coração humano com vida própria.


Quando do seu funeral, Ercília pediu licença à viúva do grande guitarrista para lhe beijar as mãos.

Continuando a citar os vários países e lugares onde a actriz-cantora actuou, temos que: em 1936, foi pela primeira vez ao Brasil, integrada na Companhia de Revista Adelina Abranches-Eva Stachino; por mais duas vezes visitou este país, em 1938 e 1945; nestas digressões percorreu de lés a lés a grande nação sul-americana.

Em 1937, esteve na Exposição Universal de Paris, actuando numa récita de gala no Teatro Campos Elisios, cantando ainda na emissora Rádio-Parisiènne. Em 1939, cantou na Exposição Mundial de Nova Iorque, demorando-se um ano na América do Norte, onde visitou 26 estados, indo até à Califórnia. Voltou aos Estados Unidos oito anos depois. Bing Crosby, Gary Cooper, Leo Carrillo e outros astros de Hollywood foram seus admiradores, presenteando-a com elogiosos autógrafos nas suas fotografias.

Ercilia Costa foi, no seu tempo, o artista português que gravou mais discos, sendo ainda (e isto constitui uma curiosa revelação...) a autora de várias músicas dos seus fados.

Interpretou dois filmes: Amor de Mãe, para a Aguia Filme, e Madragoa, de Perdigão Queiroga.




Leonor de Eça (1905 -1940)

Leonor da Cunha Eça Costa e Almeida veio ao mundo na Caparica a 8 de Agosto de 1905. Filha de João Lopo da Cunha de Eça e Almeida e de D. Maria Madre de Deus Dinis Almeida.

Leonor de Eça,
Margarida no filme As Pupilas do Senhor Reitor,
Leitão de Barros, 1935.
Imagem: Hemeroteca Digital

Actriz teatral e cinematográfica. Estreou-se em Abril de 1926 no Teatro Nacional, substituindo a actriz Ester Leão na protagonista de O Amor Vence, onde obteve êxito.

Desempenhou cerca de duas dezenas de papéis neste palco, dirigido por Amélia Rey Colaço e Robles Monteiro. Foi duas vezes ao Brasil e trabalhou em quase todos os teatros de Lisboa, Porto e outras cidades.

A chegada, a Lisboa, da artista brasileira Aracelis Castor Bastos, na foto Estêvão Amarante, Aracelis Castor Bastos, Maria Velez, Maria Castelar, Leonor de Eça, Raul de Carvalho, 1936.
Imagem: Arquivo Nacional Torre do Tombo

No cinema, toma parte nos filmes As Pupilas do Sr. Reitor, de Leitão de Barros, e Pão Nosso, de Armando de Miranda. No primeiro filme foi premiada no Rio de Janeiro pelo seu desempenho de "Margarida". (2)




(1) Correia, Romeu, Homens e Mulheres vinculados às terras de Almada, (nas Artes, nas Letras e nas Ciências), Almada, Câmara Municipal de Almada, 1978, 316 págs.
(2) Idem 

Informação relacionada:
Interpretações de Ercília Costa
Leonor de Eça no Dicionário do Cinema Português de Jorge Leitão Ramos

sábado, 16 de julho de 2016

Ercília Costa (1902-1985)

No inicio do nosso século havia um pescador caparicano que nas horas de ócio dedilhava a guitarra. Tocava e desabafava, inconformado com aquilo que, na sua singeleza, chamava triste sina...

A Praia do Sol, As primitivas barracas dos pescadores, ed. Acção Bíblica/Casa da Bíblia, 111
Imagem: Delcampe

Havia constituído lar, e nele nasceram três meninas. Uma, a mais viva, de nome Ercília, muito cedo brincou com a guitarra e cantarolou, numa inocente imitação do progenitor.

Aos quatro anos, acompanhava a mãe quando esta viajava até Lisboa, e durante a travessia do Tejo, nos vapores da carreira, lá os passageiros achavam graça às cantigas da pequenita, presenteando-a com moedas de cobre. Foram os primeiros aplausos e os primeiros ganhos da futura actriz-cantora.


O vapor Victória.
Imagem: Arquivo Municipal de Lisboa

Mais mulherzinha, veio residir em Lisboa e aprendeu o ofício de costureira de alfaiate. E tudo parecia ser mais uma rica vocação abortada pelo condicionalismo do dia-a-dia.

Ercília Botelho Farinha Salgueiro nasceu na Costa de Caparica a 3 de Agosto de 1902. Filha de Manuel Farinha e de D. Virgínia Maria Botelho. O apelido de Salgueiro adoptou-o apos o casamento com o funcionário bancário José Salgueiro, falecido em 27 de Junho de 1977.

Mas a vocação da jovem Ercília não se iria perder, e o interregno acabaria no dia em que, estando a trabalhar no oficio, alguém (ouvindo-a cantar...) lhe pergunta se queria tomar parte num coro de alunos do Conservatório Nacional, ali perto à Rua dos Caetanos. Tratava-se do Auto do Fim do Dia, prova de exame que teria lugar dali a dias no Teatro de S. Carlos.

O mestre da oficina dispensou-a por umas horas, e a bela voz de Ercília logo foi notada no improvisado coro. Dirigiam os ensaios o Maestro Hermínio do Nascimento, na parte musical, e Mestre António Pinheiro, quanto ao poema. E todos foram unânimes em classificar de esplêndida aquela voz surpreendida numa oficina de alfaiate.

Várias circunstâncias impediram a incipiente cantora de se cultivar. Rapariga pobre, nunca poderia empatar sete anos nos estudos. Mas uma nova oportunidade iria surgir pouco depois e, em 1928, estimulada pelos actores Mario Campos e Eugénio Salvador teste ao tempo doublé de futebolista do 1.° team do Sport Lisboa e Benfica, começou a cantar o fado e outras canções.

Ercilia, que, entretanto, se baptizara como artista, unindo o primeiro nome ao da sua terra natal, passou a ser anunciada e conhecida por Ercília Costa.

Ercília Costa.
Imagem: du bleu dans mes nuages

Primeiro cantou fados no Olimpia, de Lisboa. Ferro de Engomar, em Benfica. e nos conhecidos retiros da Capital Café Luso, Solar da Alegria e Retiro da Severa. Dois meses após a sua estreia, gravou discos para a Brunswich e Odéon e, terminada essa tarefa, estreou-se no teatro, contratada pelo empresário José Loureiro.

Entretanto, recebia o cartão de artista de variedades. No Trindade, estreou-se na revista A Cigarra e a Formiga. Tempos depois, na Feira da Luz, no Apolo; no Variedades, com Satanela, Raul de Carvalho e Assis Pacheco no Canto da Cigarra; no Coliseu dos Recreios, na História do Fado; no Avenida, no Fogo-de-Vistas; no Maria Vitória, no Rei dos Fadistas: de novo no Coliseu, no Fim do Mundo e Última Maravilha.


Em 1931, visitou as Ilhas, tendo representado em todos os teatros da Madeira e Açores. Depois ici percorrendo todos os palcos do Minho ao Algarve. Em 1934, esteve presente em Vigo, nas festas luso-galaicas, aquando da inauguração da estátua a Camões: e segue logo para Madrid, onde actua em teatros e grava um disco no mesmo dia e na mesma firma em que gravava o argentino Carlos Gardel.

Ercilia é do tempo em que o artista actuava sem o auxílio do microfone. Então era exigido ao cantor, para lá do valor e da qualidade da peça a executar, um domínio absoluto sobre o auditório.

A forte personalidade do cantor tornava-se um factor de extrema importância. Ercilia Costa tinha esta última qualidade em elevado grau, ao ponto de, no enorme Coliseu dos Recreios, com a lotação esgotada (6000 espectadores), quando ela cantava, não se ouvia sequer uma mosca...

Um aspecto da formidável enchente do Coliseu dos Recreios, em cujo palco foi representada a revista O Fim do Mundo, com a participação de Ercília Costa e Leonor d'Eça, 1934.Imagem: Arquivo Nacional Torre do Tombo

E, como a sua concentração, nesses momentos de transe, a levava, mimicamente, a pôr as mãos como numa prece, alguém, impressionado, disse um dia que ela parecia uma santa a cantar o fado...

Diante do microfone, Ercília foi uma pioneira: no Posto Radiofónico CT1AA, de Abílio Nunes dos Santos, dos Grandes Armazéns do Chiado, foi o primeiro artista a actuar para ser ouvido no estrangeiro.

A nossa biografada, para lá do valor das orquestras que com ela colaboraram em inúmeros espectáculos e audições, pede que não nos esqueçamos do espantoso Armandinho, cuja guitarra por si dedilhada se transformava num coração humano com vida própria.


Quando do seu funeral, Ercília pediu licença à viúva do grande guitarrista para lhe beijar as mãos.

Continuando a citar os vários países e lugares onde a actriz-cantora actuou, temos que: em 1936, foi pela primeira vez ao Brasil, integrada na Companhia de Revista Adelina Abranches-Eva Stachino; por mais duas vezes visitou este país, em 1938 e 1945; nestas digressões percorreu de lés a lés a grande nação sul-americana.

Em 1937, esteve na Exposição Universal de Paris, actuando numa récita de gala no Teatro Campos Elisios, cantando ainda na emissora Rádio-Parisiènne. Em 1939, cantou na Exposição Mundial de Nova Iorque, demorando-se um ano na América do Norte, onde visitou 26 estados, indo até à Califórnia. Voltou aos Estados Unidos oito anos depois. Bing Crosby, Gary Cooper, Leo Carrillo e outros astros de Hollywood foram seus admiradores, presenteando-a com elogiosos autógrafos nas suas fotografias.

Ercilia Costa foi, no seu tempo, o artista português que gravou mais discos, sendo ainda (e isto constitui uma curiosa revelação...) a autora de várias músicas dos seus fados.


Interpretou dois filmes: Amor de Mãe, para a Aguia Filme, e Madragoa, de Perdigão Queiroga.


(1) Correia, Romeu, Homens e Mulheres vinculados às terras de Almada, (nas Artes, nas Letras e nas Ciências), Almada, Câmara Municipal de Almada, 1978, 316 págs.

Informação relacionada:
Interpretações de Ercília Costa

terça-feira, 12 de julho de 2016

A Fonte da Telha

As acácias em flor formam um mar doirado ao lado do outro mar... daí para o sul, é uma cadeia de pontos pitorescos onde podem estabelecer-se novos núcleos de população ou onde quem queira pode isolar-se em maravilhosos recortes de paisagem.

Fonte da Telha, 2006.
Imagem: wikimapia

Descida do Robalo, Foz do Rêgo, Descida dos Carrascalhinhos, Descida das Vacas. etc.. etc.. etc.. até ao paraíso — a Fonte da Telha — sem dúvida a praia ideal. o melhor que pode haver, — porque não pode haver melhor em parte alguma do mundo...

Fonte da Telha, Carta dos Arredores de Lisboa — 75 (detalhe), Corpo do Estado Maior, 1903.
Imagem: IGeoE

Dai para o sul, ainda poderia continuar a peregrinação: Blunete, Mina do Ouro, Balcões, a Malha Negra, Olhos de Água, a Lagôa...

Mas a Fonte da Telha é o paraiso. Na rocha, a 200 metros de altura, pinhal cerrado, secular, a tôda a extensão norte e sul; a rocha descai em declive suave a conduzir à praia, ali, pertinho a 100 ou 150 metros de distância. Águas medicinais, férreas, bicarbonatadas e doutras mineralizações. Riqueza de peixe.

Fonte da Telha, Dois barcos, História pela imagem dos barcos na Costa de Caparica, Cruz Louro, 1971.
Imagem: Cruz Louro

Umas dezenas de barracas de pescadores subindo o declive. A Fonfe da Telha é alguma coisa de extraordinàriamenie belo e salutar. Vive-se ali entre o mar e os pinheiros. São unânimes todas as opiniões: não há, não pode haver melhor.

Estará, relativamenie a transportes e a comodidades, semelhante ao que a Praia do Sol era há uma dúzia de anos. Quando a Praia do Sol fôr como Espinho, a Fonte da Telha será como a Granja. 

Centro Turístico Internacional da Costa, separata do Jornal de Almada, 1968.
Imagem: Sesimbra identidade e memória

Entretanto, quem apreciava a rusticidade primiliva da Costa e lamenta agora a invasão do progresso, da concorrência tumultuária, tem ali e terá ainda durante muitos anos, vastissimo campo de isolamento.

A Fonte da Telha (Costa da Caparica, Praia do Sol), Cruz Louro, 1937.
Imagem: Cruz Louro

Ali, sim. Param as coisas da terra — é o paraíso. (1)


(1) Praia do Sol (Caparica): estância balnear de cura, repouso e turismo, 1934, M. Costa Ramalho, Lisboa.

quarta-feira, 6 de julho de 2016

A sereia do sul

A Costa — a sereia do Sul — tem muitos apaixonados...

Caparica, miradouro do Convento dos Capuchos, 1954.
Imagem: Delcampe, Bosspostcard

Como todos os apaixonados — loucos de amor por ela (sempre o eterno feminino!...), cegos de paixão, egoistamente têm procurado preserverá-la de quantos se possam aproximar, enamorar-se também, e envolver a sereia noutro ambiente que não seja o da primitiva rusticidade.

Exclusivismos de amor... Todos os sinceros amantes são exclusivistas...

Mas o leito da praia tem sete léguas.

A sereia expraia-se por sete léguas do mesmo areal, da mesma païsagem, do mesmo quadro.

Pode aqui formar-se um grupo de admiradores que perturbe o devaneio do poeta, a lucubração do artista, o sonho do azul, o romance da vaga — mas mais adianle, uns quilómefros mais adianíe, no mesmo quadro de séculos, no mesmo areal de sempre, a sereia espreguiça-se à vontade, chamando os seus apaixonados para mais longe... mais longe... e depois ainda mais longe... onde a sós, num mudo colóquio de amor, continue o devaneio, o sonho, o romance de encantamenio e de paixão...

Costa da Caparica, turistas, década de 1950.
Imagem: Cocanha

E entretanlo vem a multidão também extasiar-se perante a maravilha...

O poela e o artista descobriram e bradaram o mistério de beleza — a beleza eterna que só aos eleitos é dado desvendar.

Costa da Caparica, turistas, 1956.
Imagem: Eulália Duarte Matos

E a multidão acudiu a êsse brado e viu a coluna de espuma em curvas de sensual beleza, incensada de aromas, resplendente de luz — e quedou-se maravilhada.

Aquela era a beleza magestosa em que a natureza se diviniza...

Costa da Caparica, turistas, agosto de 1940.
Imagem: Delcampe, Bosspostcard

E a multidão rodeando a imagem, — o sonho, o devaneio, feitos luz, aroma e espaço — completou o quadro.


(1) Praia do Sol (Caparica): estância balnear de cura, repouso e turismo, Monografia de propaganda do Guia de Portugal Artístico, 1934, M. Costa Ramalho, Lisboa.

sexta-feira, 1 de julho de 2016

Valle de Trafaria e pantano do Juncal

Em virtude dos esforços do sr. Jayme da Costa Pinto esclarecido e zeloso representante às cortes pelo círculo de Almada trata-se de realizar, como já dissemos, este importante melhoramento de há muito reclamado.

Área arborizada correspondente ao Pântano do Juncal, Mata do Estado, 1953.
Imagem: Flickr

De um relatório do senhor Henrique de Mendia, com grande senso scientifico e profundo conhecimento do assumpto, vamos extrahir alguns dados interessantes relativos a esses trabalhos.

Os terrenos a que nos referimos, occupam uma superficie de 1,800 hectares e constituem as dunas ou areias, moventes de Caparica, Valle de Trafaria e pantano do Juncal, o beneficio projectado é orçado em pouco mais de 58 contos ds réis. 

Enseccamento do pantano de Caparica,
Diário Illustrado, 19 de janeiro 1883.
Imagem: Biblioteca Nacional de Portugal

As dunas da costa de Caparica são constituídas par um trato de areias moveis limitadas pela Torre do Bugio, onde tem a sua menor largura, margem esquerda o Tejo, até próximo da povoaço da Trafaria, recurvando-se com a linha da costa banhada pelo oceano, estende-se para sul até ás proximidades da lagoa de Albufeira, tendo por limite para o interior das terras a base da escarpa e uns terrenos mal cultivados denominados a Charneca.

Costa da Caparica, ponte de madeira sobre a vala, 1934.
Imagem: Praia do Sol (Caparica)..., Monografia de propaganda do Guia de Portugal Artístico

Não nos podemos eximir á satisfação do desejo de transcrever aqui as palavras eloquentes com que o sr. Henrique de Mendia descreve as condições de existencia na povoação da Costa:

"Não se descreve, diz o illustrado agrônomo, porque difficilmente se imagina o árido e desolador aspecto d'estes incultos areaes formados por uma infinidade de dunas de mediana altura em extremo moveis nos logares mais desguarnecidos da pobre é dispersa vegetação rasteira, que n'outros pontos existe com proveito e castigados por um sol ardente que se reffecte e espelha de continuo na silica brilhante.

Plano hydrographico da barra do porto de Lisboa (detalhe), Francisco M. Pereira da Silva, 1857.
Imagem: Biblioteca Nacional de Portugal

É esta a paisagem que o viajante descobre á entrada do nosso primeiro porto e da nossa primeira cidade, e é n'este meio que existe uma povoação de muitas almas, acossada pelas areias que procuram de continuo atacar-lhe as trincheiras rudemente defendidas, sem uma estrada regular, que a ponha em eommunicação com os logares populosos, tendo no mar o seu quasi exclusivo sustento, procurado á custa de heroicos esforços tantas vezes impotentes e nas exhalações deletérias dos pantanos do Juncal o germen constante das febres paludosas de que annualmente enfermam familias inteiras.

Costa da Caparica, Praia do Sol, cliché João Martins, 1934.
Imagem: Praia do Sol (Caparica)..., Monografia de propaganda do Guia de Portugal Artístico

Bem triste povoado e desgraçados habitantes que teem por unico abrigo a choupaqa de colmo, mais pobre do que  a cubata de negro, sem que ao menos encontrem na organisação d'este as forças indispensaveis para reagir e lutar contra os miasmas exhalados pelas águas estagnadas e putridas que os prostam ás vezes tão repentinamente como se um accidente os accommettera de imprevisto."

O sr. Henrique de Mendia considera a arborisação das dunas cuja supercie se avalia em cerca de 1,400 hectares como o unico meio de melhorar as más condições d'aquelle trato de terreno.

Trafaria — Valla e estrada da Costa.
Imagem: Delcampe

Como a verba mais importante n'este revestimento dé terrenos é o transporte do matto para cobrir as sementeiras, lembrou-se o illustre agronomo de substituir o transporte do matto dos Pinhaes do Conde dos Arcos e Caparica cuja verba não seria inferior a 2$400 rs. por hectare de sementeira pelo transporte fluvial da Matta da Machada e de Valle de Zebro á Trafaria, ficando assim o custo médio da carrada por 630 rs. em vez de 2$400 réis e portanto o hectare por 50$400 réis, verba á qual adicionando-se outras despesas, guarda do terreno, etc se eleva apenas a 66$000 réis.

A Praia do Sol, Estrada do Parque Florestal, ed. Acção Bíblica/Casa da Bíblia, 114, década de 1930.
Imagem: Delcampe

Calculando o terreno a cobrir êm 900 hectares em consequencia de se deixar 500 hectares para logradouro dá povoaçao, facha de resguardo, zona invadida pelo oceano, etc. a importancia total do revestimento das dunas, sem duvida um dos mais urgentes e uteis melhoramentos do nosso porto, fica em 52:800$000. Ao sr. Henrique de Mendia cabem bem merecidos encomios pelo modo intelligente e economico como indica a realisação d'esse melhoramento.

Costa da Caparica, Alameda de Santo António, ed. Passaporte, 25, década de 1960.
Imagem: Delcampe, Oliveira

O valle areiado da Trafaria passa próximo de Murfacem, toca na costa do Cão e estende-se além de Pera, mede 2 kilometros de extensão sobre 300 metros de largura media, o que dá 80 hectares de superficie. As obras indicadas são, além da sementeira, uma boa e bem construida sebe de defesa na linha de incidência dos ventos reinantes o alguns abrigos internos de mais ligeira construcção entrecrusadas de espaço a espaço, orçadas importancia de réis 3:600$000.

Uma superfície de 30 a 40 hectares, que rodeia a povoação da costa e fica encravada entre as dunas da costa de Caparica e a Charneca é constituida por terrenos alagados, conhecidos pelo nome de Juncal, denomipação proveniente da abundância de juncos, que ali crescem. 

Costa de Caparica, passagem sobre a vala à entrada da vila, década de 1940 (?).
Imagem: Delcampe - Oliveira

Esse pântano alimenta-se das águas pluviaes e do oceano; que por vezes irrompe atravez das areias, depositando ali as suas águas, que ali fjcam represadas por falta de escoantes, em consequencia do nivel do terreno ser inferior ao do oceano. Esta mistura e estagnação produzem miasmas deleterios, ainda mesmo no inverno.

Costa de Caparica, passagem sobre a vala à entrada da vila, década de 1960 (?).
Imagem: Costa da Caparica, anos 60

Para combater estas condições são indicadas as vallas profundas e bem orientadas e uma plantação bem dirigida do encalyptus globolus, arvore de grande poder esgotante e de efficasissimas propriedades hygienicas, estas arvores serão no numero de 39,990 o as vallas occuparão 2,000 metros correnles. 

Costa da Caparica, acesso à Via-Rápida,década de 1960.
Imagem: Costa da Caparica, anos 60

A despeza total para a dessecação e plantação do pântano do Juncal, incluindo o ordenado do guarda no 1.° anno, está calculada em 2:586$900 réis.


(1) Artigo original de Gervásio Lobato publicado no Diário de Notícias e republicado em A Realeza, de Duarte Joaquim Vieira Júnior, edição 1 de de 2 de setembro de 1882, e no Diário de Belém, edição de 3 de outubro de 1882.

Artigos relacionados:
O Juncal da Trafaria
A costa no século XIX
Mata do Estado e Quinta de Santo António


Leitura relacionada:
Material vegetal da Margem Sul do Tejo: da Costa de Caparica até ao Seixal

quinta-feira, 16 de junho de 2016

Praia do Sol em 1930 por João Martins

João Martins (1878 - 1972), filho do capitão António Tiago Martins e de Maria Felismina d’Ornelas Pinto Coelho, nasce em Cabo Verde, onde seu pai se encontrava em serviço. A família intala-se em Lisboa cerca de 1900.

Costa da Caparica, ed. Acção Bíblica/Casa da Bíblia, s/n, cliché João Martins, década de 1930.
Imagem: Fundação Portimagem

Dedica-se à fotografia a partir de 1916; participa em concursos, colabora na revista Ilustração e no Magazine Bertrand. 

Irá trabalhar como repórter em O Século Ilustrado e na Flama até 1931, ano em que conhece Leitão de Barros, dedicando-se a partir daí à fotografia de cena. (1)

Filho de militar, terá sido fora do seio familiar que João Martins descobriu a fotografia, provalmente pelas mãos do seu padrinho, António Joaquim Ribeiro, co-organizador da I Exposição Nacional de Fotografia, em 1899.

João Martins era um homem fortemente ligado aos valores tradicionais: Deus, Pátria e Família.

Conforme ele mesmo assumia, o seu estilo fotográfico incluia-se na família dos clássicos, "por serem estes senhores da sua liberdade de composição".

A sua participação num concurso literário, em 1927, promovido pela Magazine Bertrand, levou João de Sousa Fonseca a descobrir e querer divulgar as suas imagens.

Em 1930 o seu trabalho foi publicado pela primeira vez — seguindo-se inúmeras outras — sob o tema: "Um Grande Artista da Fotografia, João Martins: Um Apaixonado das Sombras". (2)

Em 1934, a monografia de propaganda do Guia de Portugal Artístico, Praia do Sol, ilustra-se com fotografias assinadas por João Martins.

Praia do Sol, Caparica, ed. Guia de Portugal Artístico, M. Costa Ramalho, 1934.
Imagem: Biblioteca Nacional de Portugal

A reportagem, de temática regional, envolve aspectos humanos e paisagísticos nas recentes transformações do espaço e dos costumes, consequência da classificação da Costa da Caparica em estância de turismo pelo decreto lei n.° 11335 de 9 de dezembro de 1925.

Essa reportagem foi, mais tarde, recuperada e publicada, pela Acção Bíblica, num outro suporte, em diversas edições de bilhetes postais ilustrados, sendo assim distribuídos e comercializados.

Costa da Caparica, Entrando no mar, ed. Acção Bíblica/Casa da Bíblia, s/n, cliché João Martins, década de 1930.
Imagem: Delcampe

Não sabemos se a Acção Bíblica, usou todo o trabalho de João Martins relativo à temática da Praia do Sol ou, se todos os postais publicados são de sua autoria.

Aliança Bíblica, aliás Acção Bíblica, aliás Casa da Bíblia, o contexto:

A génese da Acção Bíblica esteve na conversão de seu fundador, Hugh Edward Alexander (1884-1957) em 1901 e no desabrochar da sua vocação.
O ano de 1913 marcou o início das campanhas de evangelização na Suíça francesa, onde manifestou-se o reavivamento produzindo as vocações daqueles que constituíram a primeira geração da Acção Bíblica.
Em 1916, a publicação da brochura intitulada "Icabode" (I Samuel 4:1-22) separou os campos pela denuncia e pela condenação enérgica da chamada nova teologia [...]
Ao mesmo tempo Hugh Edward Alexander abriu em Genebra, a primeira Casa da Bíblia [...]
A publicação de "Icacode" suscitou mais oposição religiosa. [...]
Isso preparava o momento em que a Aliança Bíblica iria se tornar Acção Bíblica.

Em 1930 nasceu a "Milícia da Acção Bíblica", hoje "Juventude da Acção Bíblica". [...]
Durante esse período, igrejas locais nasceram e se desenvolveram principalmente na Suíça, na França em Portugal onde o desenvolvimento foi característico.

in Como nasceu a Acção Bíblica

Os nossos missionários abriram também uma pequena loja, com uma sala para encontros evangelísticos, nas traseiras, na Costa da Caparica, então uma aldeia piscatória que começava a ser uma estância balnear bem concorrida [...]
Em 1930 a Costa da Caparica foi varrida por uma tempestade muito forte que destruiu habitações e barcos.
Os nossos missionários lá acorreram para dar ajuda material, apoio e conforto espiritual às vitimas [...]

in 75 anos da Acção Bíblica no Algarve


As primeiras publicações deste editor, do qual identificamos dois objectos assinalados no verso com "Edição da Aliança Bíblica",  são de 1930, não se podendo contudo inferir a autoria das imagens a João Martins.

  • Costa da Caparica, Aliança BÍblica, ed. Acção Bíblica/Casa da Bíblia, s/n, c. 1930.
    Imagem: Delcampe
  • Costa da Caparica, Antes de ir para o mar, Aliança BÍblica, ed. Acção Bíblica/Casa da Bíblia, s/n, c. 1930.
    Imagem: Delcampe
  • Costa da Caparica, Antes de ir para o mar, Aliança BÍblica, ed. Acção Bíblica/Casa da Bíblia, s/n, c. 1930.
    Imagem: Delcampe

O mesmo acontece com outros postais que indicam, no verso, "Edição Casa da Bíblia", e "Costa da Caparica", na frente, em que o enquadramento e a composição se identificam com a qualidade de João Martins, faltando, contudo, movimento e dinamismo às imagens.

  • Costa da Caparica, Casa da Bíblia, ed. Acção Bíblica/Casa da Bíblia, s/n, c. 1930.
    Imagem: Delcampe
  • Costa da Caparica, Casa da Bíblia, Aliança BÍblica, ed. Acção Bíblica/Casa da Bíblia, s/n, c. 1930.
    Imagem: Delcampe

Aparecem ainda imagens soltas que apresentam, por vezes, a descrição cursiva toscamente desenhada.

A Praia do Sol, Um trecho da praia, ed. Acção Bíblica/Casa da Bíblia, s/n, c. 1930.
Imagem: Delcampe

Uma série sequencial numerada, de 101 a 115, não suscita, no entanto, dúvidas quanto à autoria de João Martins, apesar de os originais não estarem assinados.
  • 101 A Praia do Sol, Costa, Caparica
  • 102 A Praia do Sol, Um trecho da praia
  • A Praia do Sol, Um trecho da praia, ed. Acção Bíblica/Casa da Bíblia, 102.
    Imagem: Delcampe, Oliveira
  • 103 A Praia do Sol, Aos Domingos, Um trecho da praia
  • 104 A Praia do Sol, A faiana [sic, faina]
  • 105 A Praia do Sol, O transporte da rede e a faiana [sic, faina]
  • 106 A Praia do Sol, Alando a rede
  • A Praia do Sol, Alando a rede, ed. Acção Bíblica/Casa da Bíblia, 106.
    Imagem: Delcampe, Bosspostcard
  • 107 A Praia do Sol, Panorama dos Capuchos
  • 108 A Praia do Sol, Uma vista parcial
  • 109 A Praia do Sol, O mercado
  • A Praia do Sol, O mercado, ed. Acção Bíblica/Casa da Bíblia, 109.
    Imagem: Delcampe
  • 110 A Praia do Sol, Uma vista parcial, Subida para os Capuchos
  • A Praia do Sol - Uma vista parcial. Subida para os "Capuchos", ed. Acção Bíblica/Casa da Bíblia, 110.
    Imagem: Fundação Portimagem
  • 111 A Praia do Sol, As primitivas barracas dos pescadores
  • 112 A Praia do Sol, Um trecho da estrada para a Trafaria
  • 113 A Praia do Sol, Um trecho da estrada para Cacilhas
  • 114 A Praia do Sol, Estrada do Parque Florestal
  • 115 Trafaria e o Tejo


(1) Wikipédia: João Martins (fotógrafo)
(2) Isabel Dantas dos Reis: João Martins: Convicções por Imagens

Informação adicional, publicações: Ilustração