sexta-feira, 31 de janeiro de 2020

Há-de ser o que Deus quiser

Cada “meia-lua” era manobrado por uma “companha” ou associação de pescadores que vieram sobretudo de Lavos e Buarcos para tomar parte numa forma particular de arrasto com rede de cerco. Alguns dos homens que trabalhavam nesta ocupação eram também do Algarve.

Meia-lua "Há-de ser o que Deus quiser" actualmente no Museu de Marinha.
Costa da Caparica, Regresso de pescadores, ed. Passaporte 61 370.
Delcampe

Estas grandes embarcações eram construídas com quatro bancadas para os remadores e as posteriores, mais pequenas, e em menor número, que mediam 8,50 x 2,40 metros aproximadamente, eram construídas com três. 

Almada, Mapa Turístico ROTEP (detalhe da cobertura); Organização de Camacho Pereira, 1959.
Delcampe

A parte de ré do casco era deixada aberta para permitir espaço no qual era alojada a rede, as suas numerosas poitas e flutuadores de cortiça e os cabos de puxar.

Embarcação tradicional meia-lua TR 306L (detalhe), Almada, miradouro de Lisboa,  ROTEP.
Arquivo Histórico da Marinha

Nos tempos antigos, alguns “meias-luas” eram aparelhados com vela e leme do tipo “xarolo” para a pesca no Rio Tejo, para vender o peixe nos mercados da margem norte. Em 1948 existiam 14 “Meias Luas” na Caparica, mas o seu número foi descendo, podendo em 1970 serem contados pelos dedos de uma mão.

Prevendo o seu rápido desaparecimento, o Museu de Marinha adquiriu em Junho de 1975 um exemplar que se encontra exposto junto à entrada para o Planetário e onde o visitante pode admirar as suas belas formas e toda uma arte que se vai extinguindo. (1)

Meia lua da Costa da Caparica, "Ha-de ser o que Deus Quiser", 1946.
Revista da Armada

Meia lua "Ha-de ser o que Deus Quiser", TR-306-L. Registada na Delegação Marítima da Trafaria, em 18 de setembro de 1946 por Vitorino José, que a mandou construir ao carpinteiro naval, Marcolino Ferreira, no estaleiro de Porto Brandão. Destinava-se à pesca local com arte de navegar.

Em 04 de março de 1950 passou a ser propriedade de António Xavier Carradinha e António Pinto Ribeiro.

Marintimidades

Lotação: 12 homens; Tonelagem: 4,155. Comprimento: 8,50 m (8,42 m Documento da Delegação Marítima); Boca: 2,40 m (2,35 m Documento da Delegação Marítima); Pontal: 0,80 m (0,84 m Documento da Delegação Marítima). (2)

Há-de Ser o Que Deus Quiser José António Galinho [pai de Vitorino José Galinho] 1946 TR-306-L
Comp: 08,42; Boca: 2,35; Pontal: 0,84; T: 4155.


Há-de Ser o Que Deus Quiser [a partir de 1950] António Pinto Ribeiro, o "Cavalinha", António Xavier Carrapinha 1946 TR-306-L
Comp: 08,42; Boca: 2,40; Pontal: 0,80; T: 4155. (3)


(1) Manuel Leitão, Revista da Armada, Dezembro 2002, [pág. 397, ou pesquisar "Caparica"]
(2) Museu de Marinha
(3) Mário Silva Neves, Tu, Costa Minha!... o passado e o presente, 2002

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