quarta-feira, 14 de setembro de 2022

Retratos com Bá e Manuel Mendes

Manuel Mendes (1906-1969)

Escritor, jornalista, crítico de arte e tradutor, Manuel Mendes nasceu em Lisboa, em 1906, e faleceu na mesma cidade, em 1969. Cultivou também a escultura, sendo que a «sua escultura vai para além do amadorismo […]. Os bustos e as cabeças de Manuel Mendes acusam, na verdade, uma grande serenidade e severidade que os dignificam.» (Margarida Marques Matias). Colaborador da Seara Nova, conviveu desde cedo com Raúl Proença, Câmara Reis e António Sérgio e Raul Brandão, «seu mestre e paradigma literário» (Mário Soares), de quem foi um divulgador empenhado.

Costa da Caparica, Quinta de Santo António (vivenda Engrácia?), década de 1930.
A partir da esquerda: Berta Mendes, Fernando Lopes Graça
(1906-1994), Ofélia Marques (1902-1952), Bernardo Marques (1898-1962), Manuel Mendes (1906-1969)
, Bento de Jesus Caraça, e Cândida Caraça (e os cães Anica e Maigret).
Casa Comum

Como aluno da Faculdade de Letras participou na greve académica de 1931, tendo, a partir desta data, tomado parte em, praticamente, «todas as conspirações, revoluções e tentativas revolucionárias contra a ditadura […]. Libertou, de armas na mão, um companheiro preso que estava a ser torturado, num assalto bem sucedido à esquadra da polícia do rego.» (Mário Soares) Fez parte da efémera Frente Popular, do MUNAF, da Resistência Republicana e da Acção Socialista Portuguesa; foi um dos promotores do MUD, tendo sido membro da sua comissão central, e integrou as candidaturas de Norton de Matos e de Humberto Delgado à Presidência da República.

Costa da Caparica, década de 1930.
A partir da esquerda:
Fernando Pires, Berta Mendes, Manuel Mendes, Abílio Pires, Jaqueline Pires, Afonso Costa (filho), Irene Worm e seu filho João Worm.
Casa Comum

A sua obra mais conhecida, Pedro: romance de um vagabundo (1954), foi adaptada ao cinema, por Alfredo Tropa, com o título de Pedro Só (1972). Bairro (1945), Estradas (1952), Alvorada (1955), Segundo livro do Bairro (1958), Terceiro livro do Bairro (1959), Assombros (1962), Roteiro sentimental (1965-1967) e História natural (1968) são outros títulos de sua autoria. No campo das artes plásticas escreveu monografias sobre Machado de Castro (1942), Rodin (1945), Dordio Gomes (1958), Abel Manta (1958), Carlos Botelho (1959), Diogo de Macedo (1959), Jorge Barradas (1962) e Francisco Smith (1962), para além Considerações sobre as artes plásticas (1944), Lembranças de um amador de escultura (1955) e Raúl Brandão e Columbano (1959).

Costa da Caparica, Quinta de Santo António (vivenda Engrácia?), década de 1930.
A partir de cima da esquerda:
Bento de Jesus Caraça, Sílvia Manta, Manuel Mendes, Cândida Caraça e Berta Mendes.
Casa Comum

Debruçou-se ainda sobre as biografias de Antero de Quental (1942), Herculano, (1945), Oliveira Martins (1947) e Aquilino Ribeiro (1960). Deixou colaboração em vários jornais e revistas, como República, Seara Nova, Revista de Portugal e Vértice. (1)

Na Caparica, Pinhal, Abel Manta, 1942.
MNAC/Casa Comum

Historicamente lembrado pela militância política antifascista, o legado deste intelectual oposicionista, integrado na Seara Nova, alcançou notoriedade pública pela obra de jornalista, romancista, contista e ensaísta, e pela criação de grupos de resistência, cidadania e defesa de artistas.

Desenho em Caricaturas portuguesas dos anos de Salazar, João Abel Manta, ed. O Jornal, 1978.
Exposição "A Máquina de Imagens", João Abel Manta, Fundação D. Luís


A clandestinidade e as prisões políticas que resultaram desta articulação do combate político com a produção literária ofuscaram, porém, a importância do seu envolvimento inicial com a escultura e o desenho, mantidos de modo irregular, e do papel pioneiro como crítico e teórico da arte plástica moderna em Portugal... (2)

Retrato imaginado enquanto crianças de Manuel e Berta Mendes.
Ofélia Marques (1902-1952), CAM, Gulbenkian

... Casa Museu Manuel Mendes (nunca aberta ao público e hoje extinta), no Restelo. (3)


(1) Biblioteca Nacional de Portugal
(2) Centro de Arte Moderna Gulbenkian
(3) Moda & Moda, Museu do Chiado, A Sedução do retrato

Artigo relacionado:
Sarah Affonso, postais da Costa a Manuel Mendes (1930-1931)

RTP Arquivos:
Manuel Mendes: o Melhor de Todos Nós
... depoimento do político José Magalhães Godinho sobre o pensamento do escritor Manuel Mendes, lamentando este não ter vivido para assistir ao 25 de Abril; busto de Manuel Mendes do escultor Barata Feyo; fotografias de homens das Letras; retrato do escritor pintado por Dórdio Gomes; Casa Museu Manuel Mendes no Restelo...

Mais informação:
Casa Museu Manuel Mendes (Google search)
Colecção Manuel Mendes (MNAC)
Manuel Mendes (Fundação Mário Soares e Maria Barroso/Casa Comum)

Século XX português: Os Caminhos da Democracia (Fundação Mário Soares e Maria Barroso)
Obras editadas na Biblioteca Cosmos

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