quarta-feira, 9 de março de 2022

O Fardo das Imagens

Adelino Lyon de Castro (1910-1953)

O seu percurso fotográfico iniciou-se, a exemplo de muitos outros fotógrafos da sua geração, nos circuitos da fotografia de salão promovidos pelos foto-clubes. Pertenceu a uma das associações fotográficas mais relevantes da década de 50, o Foto Clube 6x6, fundado em 1950 e sediado em Lisboa, que teria uma importante actividade salonista a nível nacional e internacional.

Esforço, fotografia de A. Lyon de Castro, que obteve o primeiro prémio no I Salão de Arte Fotográfica Portuguesa (cf. O Fardo das Imagens (1945-1953), MNAC)
A mesma foto (impressão de época) aparece no catálogo "O Fardo das Imagens", 2011, com o título Ala-Arriba, que estará certamente indicado no verso, e com a data 1950 (nº 22, pág. 44). É uma prova e um título certamente usados para outro Salão - e nomeada com pouco rigor, já que "Ala Arriba" é uma expressão da Póvoa do Varzim (cf o filme homónimo de Leitão de Barros, de 1942) e o barco é da Caparica (cf. Alexandre Pomar, Lyon de Castro na "Panorama", 1949 e 1952 (10))

A sua relação intensa e próxima com os meios literários e artísticos de resistência à Ditadura, aproximou-o das Exposições Gerais de Artes Plásticas (EGAP), imbuídas da estética neo-realista, levando-o à participação na secção de Fotografia na 5ª EGAP, com obras entre um naturalismo engagé e o documental denunciatório.

Costa da Caparica, Adelino Lyon de Castro,
O Fardo das Imagens (1945-1953), MNAC.
Pinterest

Participou em inúmeros salões fotográficos nacionais e internacionais. A totalidade do seu espólio fotográfico foi doada ao Museu Nacional de Arte Contemporânea – Museu do Chiado em 2008. (1)

"A componente realista está lá, mas a sua abordagem é sobretudo humanista porque ele faz uma fotografia muito próxima das pessoas", diz Emília Tavares, comissária d"O Fardo das Imagens (1945-1953), a nova exposição do Museu do Chiado, em Lisboa (...)


Costa da Caparica, Adelino Lyon de Castro,
O Fardo das Imagens (1945-1953), MNAC.
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Os barcos dos pescadores da Costa da Caparica, onde o fotógrafo passava grandes temporadas a acampar com familiares e amigos, entre eles o sobrinho Tito, estão bem representados, formando uma espécie de microfilme, que na exposição encontra paralelo na sequência do homem já velho que passeia na rua de uma aldeia por identificar ou na do grupo que se entrega à desfolhada (...)

Costa da Caparica, Adelino Lyon de Castro,
O Fardo das Imagens (1945-1953), MNAC.
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"Nos seus excluídos há um grande abandono, um imenso desalento, uma angústia existencial... São fotografias com uma grande carga emocional, mas muito ricas do ponto de vista formal e ideológico", diz Tavares. "Têm tudo a ver com o grande movimento humanista da fotografia do pós-guerra." (2)


(1) MatrizNet
(2) Público, 11 de abril de 2011

Mais informação:
Alexandre Pomar, Lyon de Castro na "Panorama", 1949 e 1952 (10)
Idem, Notas: Adelino Lyon de Castro e a sua obra (4)
Catálogo da Exposição Adelino Lyon de Castro: O Fardo das Imagens (1945-1953)

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