Auras do amanhecer infundem alegrias
Até no coração das feras mais bravias !
Venha a agreste cantiga, a jovial desgarrada
«Estrella da madrugada.
Ai! como és bella!
Quem na terra não tem nada,
É bem que tenha uma estrella
No fundo azul da alvorada !
Já lá vem o sol abrindo,
Pelas bandas do levante.
Olha como o sol vem lindo !
— Chega-te ao rego... Eh!... Galante!
«Por esses ares, voando,
Vão altas as cotovias,
Mais as calhandras em bando !
Não me alembro.
Da primavera ter dias
Dum sol, de brilho tamanho
Como este sol de dezembro :
Solzinho de Deus ! . . .
— Avante! . . .
— Chega-te ao rego ! . . . Eh! . . . Castanho !
Chega, chega ! . . . olá! . . . Galante!
«Lá baixo, as terras do arneiro
— Anno de pasto abundante!
São como pingue nateiro
Agora para o rebanho !
— Chega, chega! . . . Eh! . . . oh! . . . Galante!
Chega-te ao rego ! . . . Castanho !
O dia vae recrescendo ;
O gado sempre lavrando,
E alegre, de quando em quando,
A desgarrada rompendo !
As arveloas sobre a terra,
Do ferro agudo movida,
Aos bichitos fazem guerra :
Sempre a lucta pela vida!
São bois de vigor estranho,
Mas começam de cançar;
E o lavrador, vigilante,
De vez em onde a bradar :
— Chega, chega ! . . . Eh ! . . . oh ! . . . Castanho,
Olha a aguilhada . . . Galante !
Vae-se o sol a afundar.
Agora, na invernia,
Logo que o sol se põe,
desapparece o dia.
Quando é duro o torrão, a canceira é tyranna !
Soltos, mugindo, os bois lá vão para a arribana.
De novo o lavrador, cantando a desgarrada.
Voltará amanhã!
Quem é pobre, e quem lida,
Aligeira, a cantar, o peso d'esta vida !
Até no coração das feras mais bravias !
Costa da Caparica. rapazes das Terras a caminho de casa. Deutsche Fotothek |
Venha a agreste cantiga, a jovial desgarrada
«Estrella da madrugada.
Ai! como és bella!
Quem na terra não tem nada,
É bem que tenha uma estrella
No fundo azul da alvorada !
Já lá vem o sol abrindo,
Pelas bandas do levante.
Olha como o sol vem lindo !
— Chega-te ao rego... Eh!... Galante!
«Por esses ares, voando,
Vão altas as cotovias,
Mais as calhandras em bando !
Não me alembro.
Da primavera ter dias
Dum sol, de brilho tamanho
Como este sol de dezembro :
Solzinho de Deus ! . . .
— Avante! . . .
— Chega-te ao rego ! . . . Eh! . . . Castanho !
Chega, chega ! . . . olá! . . . Galante!
«Lá baixo, as terras do arneiro
— Anno de pasto abundante!
São como pingue nateiro
Agora para o rebanho !
— Chega, chega! . . . Eh! . . . oh! . . . Galante!
Chega-te ao rego ! . . . Castanho !
O dia vae recrescendo ;
O gado sempre lavrando,
E alegre, de quando em quando,
A desgarrada rompendo !
As arveloas sobre a terra,
Do ferro agudo movida,
Aos bichitos fazem guerra :
Sempre a lucta pela vida!
Costa da Caparica, Terras da Costa, lavrador gradeando o solo com junta de bois. Colecção Carlos Caria |
São bois de vigor estranho,
Mas começam de cançar;
E o lavrador, vigilante,
De vez em onde a bradar :
— Chega, chega ! . . . Eh ! . . . oh ! . . . Castanho,
Olha a aguilhada . . . Galante !
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Agora, na invernia,
Logo que o sol se põe,
desapparece o dia.
Quando é duro o torrão, a canceira é tyranna !
Soltos, mugindo, os bois lá vão para a arribana.
De novo o lavrador, cantando a desgarrada.
Voltará amanhã!
Quem é pobre, e quem lida,
Aligeira, a cantar, o peso d'esta vida !
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Alagado em suor, apesar da nortada!
Quasi sem descançar, durante o dia inteiro
Labutar, labutar! Tem o campo estes dias ! . . .
Na gleba, fresca ainda, afincou a aguilhada ;
Poz debaixo do braço o seu amplo sombreiro ;
Enclavinhou as mãos. . .
Davam Ave Marias !
Janeiro, 93.
Tema:
Bibliografia:
1864 Digressões e Novellas
1866 Canções da Tarde
1866 Paquita
1868 Cartas dos Açores
1868 Cartas dos Açores e o seu auctor
1871 Paizagens
1873 Cantos e Satyras
1874 Maria de Bragança (... D. Branca)
1877 Sob os Ciprestes
1888 Hoje
1894 Memórias I
1894 Memórias II
1896 Livro do Monte
1907 Memórias III
1908 Faiscas de fogo morto
1866 Canções da Tarde
1866 Paquita
1868 Cartas dos Açores
1868 Cartas dos Açores e o seu auctor
1871 Paizagens
1873 Cantos e Satyras
1874 Maria de Bragança (... D. Branca)
1877 Sob os Ciprestes
1888 Hoje
1894 Memórias I
1894 Memórias II
1896 Livro do Monte
1907 Memórias III
1908 Faiscas de fogo morto
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