O caso da família Távora é muito interessante porque acabou por "herdar" os bens da família Vasques de Almada, caída em desgraça por se ter bandeado com o Infante D. Pedro na Batalha de Alfarrobeira (1449).
Armas de Almada chefe, livro do Armeiro-Mor. Wikipédia
Os Távoras da Caparica foram uma das famílias dominantes e com mais bens na região, junto com os Noronhas/Condes dos Arcos. O primeiro Távora a viver na Caparica foi Alvaro Pires de Távora, que, com os bens dos Almadas que o rei D. Afonso V lhe dera em 1999, fundou o chamado Morgado da Caparica, constituído por uma grande quinta, pinhais e várias terras neste lugar.
Armas de Távora chefe, livro do Armeiro-Mor. Wikipédia
Já no século xvi, um destes Távoras, Lourenço Pires de Távora, acabou os seus dias nos Capuchos, onde está sepultado;
Congratulação de Lourenço Pires de Távora ao Pontífice Pio IV. Internet Archive
Cristóvão e Álvaro, filhos de Lourenço, faleceram em Alcácer Quibir junto com o jovem rei (1578), mas o seu irmão mais novo, Rui Lourenço de Távora, continuaria o morgado, servindo a Coroa como Governador do Algarve (1595-1607) e Vice-Rei da índia (1608-1612).
Rui Lourenço de Távora, 19° Vice-rei da India, 1609/1612. A Casa Senhorial
O filho deste, Álvaro Pires de Távora, recebeu duas comendas das ordens militares pelos seus serviços na luta contra os Holandeses na Bahia (Brasil) em 1629, e ainda escreveu uma obra laudatória da sua família, que só foi publicada postumamente em 1648, em Paris, pelo seu filho, Rui Lourenço de Távora (2.°), depois falecido nas Guerras da Restauração, no assalto a Badajoz, em 1657.
O morgado continuou na descendência de um sobrinho-neto, D. José de Menezes e Távora, bisavô de D. Francisco Xavier de Menezes da Silveira Castro e Távora de Rappach, 1.° conde de Caparica (1793) e 1.° marquês de Valada (1813). (1)
(1) Rui Manuel Mesquita Mendes in Luísa Costa Gomes, Da Costa, um flanar pelas praias e montes da Caparica...
O último dos últimos, agora está esgotadíssimo — disse-me o Manuel Mão de Ferro das Edições Colibri referindo o livro de Manuel Fidalgo, Barco da Xávega, Tecnologia da sua Construção, que eu acabara de comprar — e acrescentou — este fui buscá-lo à estante do editor.
Costa da Caparica, colecção Passaporte, s/n. Delcampe
O livro, publicado em 2000, é um ensaio antropológico que, entre múltiplas abordagens e referências, documenta a construção do barco de mar da xávega. O barco é assim conhecido no areal da costa marítima portuguesa que vai de Espinho a Vieira de Leiria. Xávega é o aparelho de pesca, ou arte, que lhe dá o nome.
As sucessivas etapas de construção, detalhadas no ensaio, suportam-se no conhecimento e experiência de dois mestres construtores que nos respectivos estaleiros dão o risco a estas embarcações, mestre Esteves do Pardilhó, Estarreja, e mestre Gadelha do Seixo, Mira.
Mestre Gadelha no estaleiro do Seixo segura o pau dos pontos. Ricardo Salomão
Como refere o Ricardo Salomão da Associação Gandaia, foi a mestre Gadelha que a "A Mar A Costa" recorreu para que um meia-lua da Costa da Caparica fosse contruído, penso que, com o objectivo de dar a conhecer aos visitantes da cidade e da praia o tipo de embarcação e de algum modo preservar a identidade cultural dos pescadores.
Só quem viu os meia-lua em actividade salpicados de sal nas cavas das ondas, no vozeiral das arribadas, ou adormecidos ao sol no areal, pode compreender o entusiasmo de tais empreendimentos e, porventura, esquecer histórias que se repetem.
O Cabo Espichel, foi um meia-lua que vários anos esteve exposto no areal à entrada da praia junto às barracas dos trafos e abrigos que no verão eram alugadas à "malta" que queria passar uns tempos na praia.
O Cabo Espichel junto aos antigos palheiros na Costa da Caparica. almadalmada
Apalavrava-se com o pescador, estabelecia-se a confiança, paga-se o período desejado, ficava-se com a chave. Trafos por debaixo do estrado, uma manta por cima deste, casa de férias de porta aberta com hóspedes presentes.
Enquanto aí estiveram as barracas o Cabo Espichel perdurou, pois sempre que necessitava de um pequeno reparo alguém lhe jogava a mão, mantendo-se assim o imponente cartaz de visita, branco e vermelho, boca larga quando comparado com outros, destacando-se no colorido das barracas e palheiros.
Quando a municipalidade resolveu intervir no ordenamento da frente marítima, para evidenciar o betão dos prédios, as barracas desapareceram e o Cabo Espichel, depois de atravessar a rua, ficou tristemente asilado junto à entrada dum edifício.
O betão e o areal nunca ligaram bem. É como a estupidez, só tem graça em pequenas doses.
O areal aceita bem os palheiros, as plantas das dunas, o mar, a linha do comboio turístico e, para além dos barcos que nele varam, pouco mais.
Não mais vi o Cabo Espichel. Foi talvez a embarcação destruída por um acidente rodoviário na rotunda das av.enidas Dr. Aresta Branco/Afonso de Albuquerque, mas que interessa isso, um acidente de estrada é um fim triste e indigno para um qualquer barco.
Na sequência desse acontecimento a Junta de Freguesia, atenta, para consolo dos caparicanos, resolve no local naufragar um barco da xávega de Mira... o que eventualmente provocou comentários — eh pá, a coisa vista de
frente a três quartos até passa — passa nada pá — e o olho, o olho tem miopia.
A "A Mar A Costa" apoiada pela Gandaia, encomendou a mestre
Gadelha um meia-lua da Costa da
Caparica. O barco, de Mira, é um barco em Mira mas na Costa não faz sentido [v. Notícias da Gandaia, 22 de fevereiro 2013: Meia Lua e Barco de Mar: parecidos mas diferentes].
Em cima: barco meia-lua da "A Mar A Costa". Em baixo: barco da xávega de Mira. Notícias da Gandaia
Para o efeito e risco da construção, o representante da associação, o benemérito que pagaria o barco, um pescador da Costa e Ricardo Salomão apresentaram-se a mestre Gadelha com um enganoso opúsculo editado pela Junta Distrital de Setúbal em 1969, J. A. Neves Cabral, Meia-lua da Costa da Caparica, ao que o experiente mestre se contrapõe, já que o barco não poderia ser construido com essas indicações, porque não poderia navegar.
Foi então o grupo com mestre Gadelha ao Museu de Marinha, ver o Há-de ser o que Deus quiser e a partir daí lá pode construir a embarcação encomendada para ser exposta na Costa da Caparica.
Meia lua da Costa da Caparica, "Ha-de ser o que Deus Quiser". Construido em 1946. Revista da Armada
Sabendo que o Há-de ser o que Deus quiser é o refinamento da construção dos meia-lua da Costa da Caparica naquelas dimensōes, poderia perguntar-me, se o mestre Gadelha não tivesse acedido aos desenhos de J. A. Neves Cabral, o risco da embarcação não teria sido outro. Menos Mira.
J. A. Neves Cabral, Meia-Lua da Costa de Caparica..., Junta Distrital de Setúbal, 1969
Poderia pensar que se a base partisse de outro plano, como o do Sempre vim, que até é da Costa Norte, o resultado não teria sido mais Caparica.
Mas que interessa isso hoje, a embarcação "A Mar A Costa" talvez já não exista. Mestre Gadelha cumpriu e todos cumpriram. Entregue no vermelho primário, foi pintado nas cores de um parente afastado num conhecido postal.
O barco "A Mar A Costa" à falta da companhia das barracas e palheiros definhou à míngua de atenção e do embalo das ondas, encharcado pela chuva, não tendo sequer provado na água prateada do oceano [v. Notícias da Gandaia, 30 de julho 2014: Meia-Lua a Degradar-se].
Melhor, talvez, teria sido como fez o sr Robert Gulbenkian nos jardins da casa Ararat, na Quinta dos Medos, falésia da Praia do Rei, o Noé, meia-lua em cimento e betão. O betão, preferencialmente em quantidades reduzidas [v. Notícias da Gandaia, 5 de novembro, 2012: Um Meia-Lua Original?].
Durante a década de 1930, foi membro activo da California Watercolor Society. Esse grupo de artistas frequentemente escolhia pintar aquarelas representando cenas da vida do dia-a-dia nas cidades e subúrbios da Califórnia. Pintavam directamente, com pouco ou nenhum desenho preliminar a lápis, e usavam o papel como cor de uma maneira nova e criativa [...]
Após a guerra, David Klein mudou para Nova York e se estabeleceu-se em Brooklyn Heights, onde viveria nos próximos 60 anos. Em 1947 trabalhou como diretor artístico na Clifford Strohl Associates, uma agência de publicidade teatral. Passado pouco tempo, David tornou-se o ilustrador preferido para muitos dos programas mais conhecidos da Broadway nesse período [...]
David Klein é, no entanto, mais conhecido pelo seu influente trabalho no campo da publicidade de viagens. Durante as décadas de 1950 e 1960, desenhou e ilustrou dezenas de posters para a Trans World Airlines (TWA) de Howard Hughes.
O uso das cores vivas por David, representam marcos famosos de um estilo abstracto, definindo o state of the poster art do período. Em 1957, um poster da TWA da cidade de Nova York tornou-se parte integrante da coleção permanente do MoMA (Museum of Modern Art) de Nova York. Essas obras, muito imitadas, definem até hoje a excitação e o entusiasmo dos primeiros anos das viagens aéreas do pós-guerra. Definiram o estilo Jet Set tornando-se icônicas.
João Ferreira, alcunhado de "Rácha", nasceu cm junho de 1907 e faleceu em Julho de 1958. Nos anos trinta, no Lugar da Costa, exercia a função de polícia, cargo que soube executar com respeito, sem melindrar quem quer que fosse sem razão.
Costa da Caparica, Passaporte 60, Arribação dos pescadores após o lançamento das redes. Delcampe
Depois de deixar de ser polícia na povoação. tornou-se um arrais de nomeada, afirmando-se, no governo das artes de xávega do "rnestre Chico". Depois de se revelar um bom arrais, o "Rácha" com o cunhado António Salgado, ou seja, o 'Tó Salgado", como era assim conhecido, vincularam-se na compra de urna arte de pesca e de um barco meia-lua, de nome o "Galínho", que era do mestre Vitorino José Galinho, mandado por este construir nos estaleiros do Talaminho.
Costa da Caparica, Passaporte 59 Pescadores lançando as cordas para o arrasto da rede. Delcampe
O João governava a arte da pesca, o cunhado como excelente arrais de terra tratava do seu arranjo. Tempos depois os sócios separaram-se, o porquê não é chamado para o caso, e o arrais João convidou outro cunhado para sócio, que aliás também tinha alguma experiência no trato das redes e cujo nome era Aniónio Gonçalves Bexiga, o "Tó da Bia".
Costa da Caparica, Passaporte 62, Pescadores na faina de arribação. Delcampe Bosspostcard
Os tempos passavam, até que um dia a sociedade terminou e a arte foi vendida ao Mário Gonçalves, o "Corvo", que nomeou o barco de "Pombinho". (1)
Atrasados, acorremos a Exeter em janeiro do ano passado [v. O nome dos barcos (2 de 3)] e tendo aí encontrado o S. Paio da Torreira não tivemos notícias do Pombinho.
Nem sempre foi possível manter a proximidade com as frentes marítimas e aproveitar as efémeras estruturas já autoconstruídas pelas comunidades, originando uma significativa rotura entre trabalho e casa. Não que o proveito das mesmas fosse um objetivo da construção dos novos bairros, mas certamente que seria de manter uma ligação com os hábitos enraizados e a vida disciplinada destas comunidades.
Era visível, sempre que possível, o desenho de planos complexos impulsionadores da vida em comunidade, como o que Faria da Costa propõe em 1946 para a Costa da Caparica.
Os impasses habitacionais já implementados nas células I e II das «casas de renda económica» de Alvalade, visivelmente reconhecidos na planta de implantação proposta, voltam a ser experimentados num contexto periférico ao grande centro urbano do País e para um público‑alvo distinto.
Houve necessidade de construir cidade, de regularizar o traçado, hierarquizando os espaços em função dos equipamentos propostos. No entanto, apenas foram construídas as habitações, distribuídas em blocos de dois pisos com 4 fogos isolados e em banda e, em duas fases distintas (1946 e 1958, respetivamente), totalizando 88 fogos.
Curiosamente, este projeto de Faria da Costa é replicado através do Programa das Famílias Pobres em Vila Nova de Ourém e em Vila Nova da Barquinha, em fase posterior à proposta paraa Vila da Caparica, aspeto que reforça a continuidade entre os dois programas. (1)
No domingo passado, dia 30 de Março o dia começou bem cedo. Fui para a Costa da Caparica, visitar o restaurante Carolina do Aires e a casa do Dr. Luciano Carvalho (1964), uma casa desenhada em contexto urbano e com um programa diferente das que estou a estudar, por se tratar de uma casa de férias.
Costa da Caparica, década de 1970 Delcampe
Dirigi-me ao restaurante Carolina do Aires e uma vez que era hora de almoço decidi parar e aproveitar a oportunidade para entrar no restaurante e assim "sentir na pele o espaço".
Proposto, inicialmente, como um objecto para uma permanência de carácter temporário, Maurício desenha toda a estrutura em madeira, sendo rapidamente desmontável caso fosse necessário.
Costa da Caparica, restaurante Carolina do Aires, década de 1980. Delcampe
Apesar de se encontrar muito alterado, pelo menos exteriormente, percebe-se claramente a intenção do arquitecto, a procura de uma ligação interior exterior.
Por dentro ficámos maravilhados com a dinâmica imposta pela estrutura da cobertura e por todo o ambiente de recolhimento e conforto proporcionado pela madeira. (1)
[São ainda de Maurício de Vasconcelos a autoria dos equipamentos de
praia de apoio aos banhistas no âmbito da campanha de 1969, "Há e mar, há ir e
voltar" de Alexandre O'Neil.]