segunda-feira, 13 de fevereiro de 2017

Trafaria e Costa de Caparica em 1901

Depois de três quartos de hora um passeio delicioso pelo azulado Tejo lusitano, embarcado num vapor chega-se à Trataria, que é, entre as praias, a que passando o rio, está mais perto da cidade de Lisboa.

Costa da Caparica, Grupo de pescadores, Carlos Mendes, 1901.
Imagem: Biblioteca Nacional de España

E não é aí uma tarefa fácil, mesmo para o visitante mais modesto, passar sem que o notem, mesmo que tenha essa intenção; a colónia balnear, como que fazendo as honras da casa, concorre sempre ao embarcadouro, quando o vapor chega, e os penetrantes olhares femininos se multiplicam, observam e discutem todas as personalidades, à medida que, como no cinematógrafo, vão avançando.

Trafaria, Ponte de embarque, ed. Manuel Henriques, 10, década de 1900.
Imagem: Restos de Colecção

Pertencia, mesmo recentemente, a Trafaria, ao número de praias quase desconhecidas, devendo-se isso à falta de comunicação com a capital portuguesa; mas esse inconveniente está, assim por dizer, quase completamente resolvido.

Actualmente há duas carreiras de vapores, diárias, que para o movimento da colônia e os habitantes do local, se não é demasiado, é o suficiente, por agora; mas o mesmo não acontece como os domingos e feriados, pois então, as carreiras multiplicam-se.

Trafaria, Um recanto da praia, Carlos Mendes, 1901.
Imagem: Biblioteca Nacional de España

Na Trafaria a vida decorre deliciosamente, e para que tudo ali, encante e seduza, até o número de homens é diminuidíssimo, comparado com o das senhoras, algumas de deslumbrante formosura, e que, com a sua graça e elegância, desde muito cedo começam a imprimir colorido e animação à praia.

Aspecto da praia da Trafaria.
Imagem: Remo História

Depois do banho e de um suculento almoço, quando tudo convida ao repouso, é aocasião em que muitos vão à procura de frescura na Matta, sítio amenísimo entre os muitos que aí há; à noite, um pouco de música e dança nos dois clubes, e depois... deita-se para começar de novo no dia seguinte.

Se gozar destes prazeres, longe de preocupações mundanas, não é alcançar o paraíso, já não sabemos o que mais se pode desejar.

A Trafaria tem, para breve, assegurado um futuro brilhante: mais para que isso aconteça, muito deve contribuir o facto de estar em comunicação directa, por estrada, com a Costa de Caparica, a primeira praia de Portugal, pela sua situação especial, pelo seu tamanho e beleza.

Costa da Caparica, O arraste da rede, Carlos Mendes, 1901.
Imagem: Biblioteca Nacional de España

Quando alguém compreender a verdade do que dizemos, e ponha ao ombro a tentativa de a explorar devidamente, como merece, ganhará rios de ouro, dentro de pouco tempo, arruinando, por completo, praias agora tão na moda como Espinho e Figueira. (1)


(1) Carlos Mendes, Iris no. 126, 5-10-1901, (Barcelona. 1899)

1 comentário:

Luis Eme disse...

E esta? Quem vem de fora tem sempre outro olhar...