Costa da Caparica, Grupo de pescadores, Carlos Mendes, 1901. Imagem: Biblioteca Nacional de España |
E não é aí uma tarefa fácil, mesmo para o visitante mais modesto, passar sem que o notem, mesmo que tenha essa intenção; a colónia balnear, como que fazendo as honras da casa, concorre sempre ao embarcadouro, quando o vapor chega, e os penetrantes olhares femininos se multiplicam, observam e discutem todas as personalidades, à medida que, como no cinematógrafo, vão avançando.
Trafaria, Ponte de embarque, ed. Manuel Henriques, 10, década de 1900. Imagem: Restos de Colecção |
Pertencia, mesmo recentemente, a Trafaria, ao número de praias quase desconhecidas, devendo-se isso à falta de comunicação com a capital portuguesa; mas esse inconveniente está, assim por dizer, quase completamente resolvido.
Actualmente há duas carreiras de vapores, diárias, que para o movimento da colônia e os habitantes do local, se não é demasiado, é o suficiente, por agora; mas o mesmo não acontece como os domingos e feriados, pois então, as carreiras multiplicam-se.
Trafaria, Um recanto da praia, Carlos Mendes, 1901. Imagem: Biblioteca Nacional de España |
Na Trafaria a vida decorre deliciosamente, e para que tudo ali, encante e seduza, até o número de homens é diminuidíssimo, comparado com o das senhoras, algumas de deslumbrante formosura, e que, com a sua graça e elegância, desde muito cedo começam a imprimir colorido e animação à praia.
Aspecto da praia da Trafaria. Imagem: Remo História |
Depois do banho e de um suculento almoço, quando tudo convida ao repouso, é aocasião em que muitos vão à procura de frescura na Matta, sítio amenísimo entre os muitos que aí há; à noite, um pouco de música e dança nos dois clubes, e depois... deita-se para começar de novo no dia seguinte.
Se gozar destes prazeres, longe de preocupações mundanas, não é alcançar o paraíso, já não sabemos o que mais se pode desejar.
A Trafaria tem, para breve, assegurado um futuro brilhante: mais para que isso aconteça, muito deve contribuir o facto de estar em comunicação directa, por estrada, com a Costa de Caparica, a primeira praia de Portugal, pela sua situação especial, pelo seu tamanho e beleza.
Costa da Caparica, O arraste da rede, Carlos Mendes, 1901. Imagem: Biblioteca Nacional de España |
Quando alguém compreender a verdade do que dizemos, e ponha ao ombro a tentativa de a explorar devidamente, como merece, ganhará rios de ouro, dentro de pouco tempo, arruinando, por completo, praias agora tão na moda como Espinho e Figueira. (1)
(1) Carlos Mendes, Iris no. 126, 5-10-1901, (Barcelona. 1899)
1 comentário:
E esta? Quem vem de fora tem sempre outro olhar...
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