Ercilia Costa (1902-1985). Museu do Fado |
Filha de gente do mar, teve por berço essa linda praia da Costa de Caparica, e foi de certo ali, embalada pelo murmúrio do Oceano, que a sua linda voz, que nos recorda a da saudosa Maria Vitória, aprendeu a cantar o Fado.
Ercília canta admiravelmente todos os fados, repassando-os dum profundo sentimento, escolhendo para cantar os versos mais simples da poesia popular — dessa poesia que ela sabe sentir e reflecte como um espelho a alma do povo.
Começando desde muito nova a cantar o Fado, não tardou a impôr-se pela sua voz de fadista primorosa. Portugal inteiro a conhece e admira, e ainda recentemente, no Brasil, Ercília teve ensejo de ver quanto é querida e apreciada não só pelos seus patrícios como pelo povo brasileiro.
Tem cantado em quasi todos os teatros do pais, em algumas casas fidalgas e, que nos lembre, gravou os seguintes discos: "Fado dois tons", "O meu filho", "Rosas", "Fado sem pernas", "Fado Ercília", "Fado Aida", "Fado Tango", "Saudades", "Fado Lisboa", "Divina Graça", "A minha vida", "Desilusão", "Um desgosto", "Amor de Mãi", "Fado Corrido", "Negros Traços", "A desgarrada", com o dr. Antonio Menano e Joaquim Campos, e "Fado da Mouraria", também com Joaquim Campos.
Quando há anos se realizou em Lisboa um desafio de football Portugal Espanha, reuniram-se numa ceia de confraternização, no restaurante Boina, diversos jornalistas desportivos, portugueses e estrangeiros, tendo sido Ercília Costa e o seu colega Filipe Pinto convidados a assistir a essa festa.
Ambos cantaram de tal modo, engrinaldando de sentimento os seus versos, que alguns dèsses estrangeiros que não conheciam o Fado, se declararam maravilhados, aplaudindo delirantemente a gentil portuguezinha e o seu colega.
Decorrido bastante tempo, Ercília Costa ainda era assediada por alguns dêsses jornalistas estrangeiros, que lhe escreviam recordando essa noite memorável e pedindo lhe autógrafos e discos das suas criações.
Em sua homenagem, depois do seu recente regresso das Terras de Santa Cruz, foram-lhe oferecidas duas festas: no salão de Chá, do Café Chave de Ouro e no Retiro da Severa, em que Ercília Costa, pela selecta assistência que a elas acudiu, mais uma vez teve ensejo de ver quanto o público a estima.
Do seu reportório que Ercília escolhe escrupulosamente as seguintes quadras do poeta popular João da Mata:
ANTIGAMENTE
Antigamente era uso
Jantar-se fora de portas,
E cantar-se o fado luso
Na sombra amena das hortas.
Preparavam se os farnéis,
Combinado de antemão:
Uns tratavam dos pasteis,
Outros do vinho e do pão...
Uma carroça enfeitada
De palmeiras verdejantes,
Levava a rapaziada
Para o sitio dos descantes.
Animação, algazarra,
No banquete improvisado...
Até que a voz da guitarra
Vinha anunciar o Fado!
Toda a gente se calava,
E a garganta fresca e bela
Dum cantador modulava
Uma cantiga singela. (1)
(1) A Victor Machado, Ídolos do fado, Lisboa, Tip. Gonçalves, 1937
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Outras referências:
Ercília Costa no Museu do Fado
Livro "Ercília Costa - Sereia Peregrina do Fado" no facebook
Ercília Costa no YouTube
Ercília Costa em Discogs
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