Costa da Caparica. Um aspecto das festas à Senhora da Boa Viagem, 1929. Arquivo Nacional Torre do Tombo |
Rosa Costa apareceu como cantadeira profissional em 1927, numa festa de beneficência organizada por sua irmã Ercilia a favor dos náufragos da Costa de Caparica, no Teatro de S. Luiz, obtendo desde logo um retumbante êxito.
Sabendo dizer e cantar, os versos saem-lhe dos lábios como preces impregnadas de sentimento.
Depois dessa auspiciosa estreia, que a imprensa sublinhou com justas apreciações, Rosa Costa cantou em outras festas de caridade no Salão Artístico de Fados, Solar da Alegria, Arcádia, Coliseu, Capitólio, teatros do Gimnásio, Apolo e Trindade, nos cinemas Palatino, Portugal, Oriente e Salão de festas da Promotora.
Rosa Costa no Solar da Alegria, Diário de Lisboa, 1937. Fadistando |
Em digressão artística com sua irmã, Alberto Costa e Alfredo Duarte "Marceneiro" [Troupe Guitarra de Portugal], percorreu todo o Norte, Beiras, Estremadura e Alentejo, obtendo grandes triunfos.
Troupe Guitarra de Portugal. Em pé: João Fernandes, Rosa Costa e Santos Moreira. Sentados: Alfredo D. Marceneiro, Ercília Costa e Alberto Costa. Fadoteca |
Quando da sua passagem por Vila Nova da Baronia, foi convidada a ir a casa duma senhora entrevada que, não podendo ir ao teatro, assim lhe manifestou o seu grande empenho em ouvi-la cantar o Fado, pedido a que Rosa Costa gentilmente acedeu, cantando para essa ilustre dama as melhores leiras do seu repertório.
Gravou em discos, na casa Castelo Lopes, os seguintes fados: "A fiandeira", "Fado Corrido" e "Fado menor", e têm-lhe sido oferecidos contratos para ir cantar à Ilha da Madeira, os quais não tem aceitado por não querer afastar se do seu lar.
Desde que nasceu sua filha que se encontrava retirada, tendo reaparecido recentemente a cantar, com o mesmo sucesso de outrora, no Rádio Clube Português, nos Cafés Luso e Mondégo e em várias sessões de Fado promovidas por alguns colegas seus.
Rosa Costa. Ídolos do fado |
Rosa Costa, que gentilmente nos distinguiu acedendo a esta entrevista — a primeira que concede, não obstante por mais duma vez ter sido assediada por colegas nossos — com a mesma gentileza nos autorizou a transcrever a letra que mais gosta de cantar e que é da autoria do poeta popular José dos Santos:
A minha paixão
(na música do "Fado da Paixão")
Eu vivo triste,
Triste sem ti, vilão,
Olhas p'ra mim e ris-te
Desta cruel paixão;
Não tens amor
Á nossa filha qu'rida
E só te ris, traidor,
Por me deixares perdida.
Mas eu só peço a Deus,
Já que sou tão triste mãi,
Que me leve lá p'ra os cens
Com minha filha também;
Eu juro a morte.
Morte sim, por salvação,
E a quem Deus criou tal sorte
Que Deus lhe pague a traição.
Essa mulher
Que hoje em teus braços ri,
Talvez p'lo vil prazer
De eu só chorar por li;
Que não se ria
Do meu tormento assim,
Que o seu amor, um dia,
Pôde sofrer mau fim.
Tive um viver bendito,
Tão feliz como ela ou mais.
Mas por ésse amor maldito
De mágoa matei meus pais.
Oh, altos ceus!
Se a morte é supremo bem,
Dou minha filhinha a Deus,
P'ra depois, morrer também. (1)
(1) A Victor Machado, Ídolos do fado, Lisboa, Tip. Gonçalves, 1937
Artigos relacionados:
Ercília Costa (1902-1985)
Caparicanas
Sem comentários:
Enviar um comentário