quinta-feira, 27 de abril de 2017

Tempo seguro

Acudiram á Costa as negras de sardinha. 
Remédio salvador da gente pobresinha, 
Que andava na penúria ha pouco n'esta terra!

Costa da Caparica, Adriano de Sousa Lopes (1879 - 1944).
Imagem: MNAC (museu do Chiado)

Venha o norte a puchar dos píncaros da serra; 
Voltemos, com o arado, o flórido ervaçal. 
Correndo tempo assim pinta um anno real!

Costa da Caparica, Adriano de Sousa Lopes (1879 - 1944).
Imagem: MNAC (museu do Chiado)

Deus o traga! As paixões, na sanha rancorosa, 
Andam-se a remorder; emquanto na cardosa, 
Na volta do trabalho, alegres os ganhões, 
Aquentam á lareira as mãos e os corações!

Costa da Caparica. Pescadores puxando as redes, Adriano de Sousa Lopes (1879 - 1944).

Não podem entender, 
Na sua ingenuidade, os ecos taciturnos, 
Que chegam do paiz diários e nocturnos; 
Ecos para tremer!

Costa da Caparica, Manhã na praia da Caparica, Adriano Sousa Lopes (1879 — 1944).
Imagem: MNAC (museu do Chiado)

O tempo vae seguro. 
N'ete profundo azul que vence os Apeninos, 
Na graça e no primor de dias crystalinos, 
A tragedia refoge!... O futuro? O futuro?! (1)


(1)  Bulhão Pato, Faíscas de fogo morto, Lisboa, Typ. da Academia Real das Sciências, 1908

Tema: Bulhão Pato

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