Navios de guerra de propulsão mista e casco reforçado saindo do Tejo de madrugada junto à Torre do Bugio. Imagem: Museu de Lisboa |
Com tal precedente, os almirantes inglezes, que honram frequentenaente o humilde porto de Lisboa com a presenta dos seus pavilhoes — estariam auctorisados a exigir a destruição da torre de S. Julião, do Bugio e de Belém!
Dir-se-hia que nao é de prever que o portuguez, pacato e bonacheirão, faça fogo — muito menos sobre couraçados inglezes. (1)
(1) Eça de Queiroz, Cartas de Inglaterra, Porto, Livraria Chardron, 1905
Apresenta o Museu de Lisboa a imagem acima de autor anónimo, com pouco detalhe mas explícita, à qual é erróneamente atríbuida a representação da esquadra de Roussin junto à Torre de S. Lourenço do Bugio, em 11 de julho de 1831, quando do forçamento da barra do Tejo.
Imagem: Museu de Lisboa |
Verifica-se que os navios aí representados são posteriores a esses acontecimentos.
A tecnologia mostrada, a propulsão mista, vela e vapor, o uso de hélice (preterindo as pás laterais), o casco de ferro, ou, mais provavelmente, de madeira revestida a ferro, antecipando os verdadeiros couraçados, e o rostro (esporão), remetem a datação da imagem para 1860 ou mais tarde.
A frota francesa commandada por Roussin força a entrada do Tejo, Pierre-Julien Gilbert, 1837. Imagem: Fortificações da foz do Tejo |
A esquadra de Roussin, como representada por Pierre-Julien Gilbert em 1837, seria composta principalmentes por fragatas, então navios modernos e eficazes que promoviam o recente rei Louis Phillipe d'Orléans e o liberalismo, após a Revolução de 1830.
Batalha naval do Cabo de S. Vicente em 5 de julho de 1833, Morel-Fatio, 1842 . Imagem: Wikipédia |
As consequências da acção de 11 de julho de 1831 importaram no enfraquecimento das forças navais absolutistas, contribuindo, em parte, para a sua derrota contra a esquadra liberal comandada pelo almirante Charles Napier, na batalha naval do Cabo de S. Vicente em 5 de julho de 1833.
Quanto ao quadro do Museu de Lisboa poderá, eventualmente, representar o dia 16 de setembro de 1869, quando uma esquadra combinada das frotas britânicas do Mediterrâneo e do Canal saíram de madrugada do Tejo para exercícios conjuntos no Atlântico.
Alguns artigos relacionados:
O Bugio
John Cleveley Junior e o Tejo, 1775
Foz do rio Tejo em 1800
O forçamento da barra do Tejo
Trafaria em 1865
A falua do Bugio
Uma arribada em calma branca
Os Faroleiros, filme de Raul de Caldevilla, 1922
Furiosa batalha
Mar da Calha
Informação relacionada:
Ironclad warship
MS Achilles (1863)
Hector class ironclad
Defence class ironclad
Audacious class ironclad
Our iron-clad ships; their qualities, performances, and cost.
Herbert Wrigley Wilson (1866-1940)
Google Image Search: HMS Achilles
Cuirassé à coque en fer
A revolução industrial da marinha portuguesa (1833-1875), Revista da Armada 492, janeiro de 2015
Sem comentários:
Enviar um comentário