Todo o mar sereno! Pobre pescador!...
Lança em vão os olhos... Da deserta plaga
Não descobre ao longe nem signal, que traga
Negra de sardinhas, ondulando á flor!
Costa da Caparica, Antigas casas de pescadores, Acção Bíblica (Aliança Bíblica), década de 1930. Imagem: Delcampe |
A mulher, á porta, de expressão sombria...
Que fazer lá dentro?... O pequenito dorme.
Sem ter lume acceso todo o santo dia!
No interior da casa frio que arripia;
Na calada aldeia uma tristeza enorme!
Costa de Caparica, Alberto Carlos Lima, colégio do Menino Jesus e casas típicas de pescadores, década de 1900. Imagem: Arquivo Municipal de Lisboa |
Dias após dias de ceu resplendente;
Nem a primavera com mais luz se alegra!
Vae faltando aos gados o relvão virente...
Não dá nada a terra. . . nada o mar dormente!...
Como o tempo é lindo, e como a fome é negra!
Costa da Caparica, Casa de pescadore, Luiz Salvador Jr., 1947. Imagem: Luís Salvador Júnior |
Vem as creancinhas, mal o sol raiando,
Procurar remédio... Onde encontral-o? Some
A estiagem tudo! Desditoso bando!
Ninguém dá esmola; porém vam cantando!
Cantam, coitaditas, a enganar a fome! (1)
Aspecto do bairro piscatório da Costa da Caparica, 1938. Imagem: Arquivo Nacional Torre do Tombo |
(1) Raimundo António de Bulhão Pato, Livro do Monte, georgicas, lyricas, 1896, Typographia da Academia, Lisboa.
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